Detalhe inserido em uma reportagem da Folha de S.Paulo sobre as mortes de quatro pessoas da mesma família no deslizamento de um morro em Jundiaí, no interior paulista, dão uma idéia de quão longe da realidade do país anda a imprensa brasileira.
No relato sobre a tragédia, o repórter observa que o morro do Jardim São Camilo, onde ocorreu o deslizamento, é parcialmente controlado por traficantes. Ele relata que, quando algum carro se aproximava do local, adolescentes e jovens se comunicavam por aparelhos de rádio nas ruas da favela.
Outra nota, publicada no Estado de S.Paulo, conta a história de uma família cuja casa foi invadida por traficantes, na Favela Portinari, em Diadema, na região metropolitana de São Paulo. Enquanto os moradores ficavam trancados no quarto, os criminosos usavam a casa como ponto de venda de cocaína e maconha. A família foi mantida refém durante uma semana inteira e era obrigada a cozinhar para seus carcereiros. A notícia não explica como foram libertados, mas provavelmente a polícia foi alertada por vizinhos.
O que move os jornais
Paralelamente, os jornais destacam em grandes títulos a retomada das operações policiais e militares para resgatar comunidades do Rio de Janeiro do controle de criminosos.
Na sexta-feira (7/1), por exemplo, o Globo informa que a Unidade de Polícia Pacificadora será montada no bairro de Engenho Novo dentro de 30 dias e que agentes policiais rastreiam favela de Manguinhos em busca de fugitivos.
O que revelam as notas nos jornais paulistas e as notícias em destaque no Globo?
Revelam que a imprensa esconde uma realidade de São Paulo que é escancarada no Rio: que não se sabe quantas comunidades, nas cidades paulistas grandes, pequenas ou médias, encontram-se dominadas por bandos criminosos.
Sabe-se que na Grande São Paulo há integrantes de grupos criminosos atuando como vereadores e um deles conseguiu até mesmo se candidatar a deputado federal.
A falta de interesse em libertar essas comunidades da tirania de criminosos, revelada na omissão dos jornais, pode induzir o leitor a entender que não é a gravidade do fato social, mas sua possível repercussão, que move a imprensa.