A concentração de manifestantes na praça sob o Viaduto do Chá, no centro de São Paulo, ainda é observada pelos jornais como uma mera curiosidade urbana, quase um acampamento de verão, com sua mistura de militantes políticos, estudantes, hackers anarquistas, punks e cidadãos sem moradia. Segundo a Folha de S.Paulo, eram 25 barracas no dia 15/10, quando o movimento começou, e agora já são 50, abrigando cerca de 150 pessoas.
O acampamento surgiu simultaneamente a movimentos semelhantes que ocorrem em 900 cidades de 82 países. E a imprensa ainda não se dedicou a explicar o fenômeno. Na maioria dos comentários até aqui publicados há referências genéricas às redes sociais da internet, como se o veículo fosse a motivação para os protestos difusos que pipocam pelo mundo.
No caso, o meio é a mensagem e a mensagem é o meio, ou seja, a mídia democratizadora da internet representa a democracia que os manifestantes desejam na totalidade da vida civil, não apenas na rede virtual.
Crises sucessivas
Mesmo que o epicentro seja a iniciativa conhecida como “Ocupe Wall Street” – uma declarada atitude coletiva contra o sistema financeiro – os jornais ainda dão voltas ao tema, evitando questionar ou colocar em debate o significado das manifestações de indignação que se multiplicam pelo mundo.
No caso brasileiro, sobressaem entre os manifestantes aqueles que pregam a democracia direta. Trata-se de um claro recado para os donos do poder, incluída entre eles a imprensa como instituição: o punhado de manifestantes pode estar representando uma idéia que amadurece na medida em que a imprensa consolida a tese de que, com tantos escândalos, a democracia representativa não tem muito mais a oferecer.
Funciona mais ou menos assim: a imprensa inunda a sociedade com notícias dando conta da baixa funcionalidade dos poderes da República, mas tem como alvo apenas uma parcela desses poderes. A sociedade percebe que tudo está “dominado” e uma parte dela, a mais mobilizada, começa a exigir uma mudança radical.
Por trás das manifestações daqui e do resto do mundo pode-se identificar o temor do futuro, causado pela percepção de que o sistema político e econômico que sustenta as democracias ocidentais não é capaz de oferecer as mesmas garantias para as novas gerações.
A sensação de bem-estar produzida pelo avanço tecnológico dá lugar à insegurança gerada pelas crises sucessivas e pelo desmanche do estado protetor, envenenado pelos desmandos do sistema financeiro.
Mas a imprensa não discute sistemas.
Observatório da Imprensa na TV
No Brasil, uma das causas da indignação coletiva é a incapacidade do sistema político de se autorregenerar. A corrupção, a impunidade, a alienação do Judiciário, sempre voltado para o próprio umbigo, dão ao cidadão a sensação de que as instituições não funcionam.
O bombardeamento generalizado de notícias sobre desvios de conduta dá ao cidadão a impressão de que nada nem ninguém se salva nos círculos do poder. Mesmo que o noticiário seja dirigido ou concentrado em determinados eventos, o leitor de jornais sabe que os desvios são uma prática comum a todo o sistema.
O Observatório da Imprensa na TV discute nesta terça-feira o noticiário sobre a corrupção, com atenção especial para o caso que envolve o Ministério do Esporte. Os convidados debatem, entre outras questões, a diferença entre o noticiário nacional e o da imprensa internacional: enquanto no resto do mundo o foco está nas acusações envolvendo a Fifa, no Brasil só se fala no ministro do Esporte.
Apenas o Estado de S.Paulo, entre os principais jornais, deu atenção à visita do jornalista inglês Andrew Jennings ao Brasil. Ele divulgou em maio, na BBC deLondres, uma série de reportagens sobre irregularidades em negócios da Fifa, envolvendo o presidente da entidade, Joseph Blatter, e o notório presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Jennings vai depor no Senado brasileiro na quarta-feira (26/10).
Além das denúncias de desvios no próprio Ministério do Esporte, estarão em pauta as acusações contra os dirigentes de entidades esportivas e as exigências da Fifa para a realização da Copa de 2014 no Brasil.
Alberto Dines recebe no estúdio os jornalistas esportivos Eduardo Tironi, do diário Lance! e Mauro Cezar Pereira, dos canais ESPN, além deJoão Bosco Rabello, diretor da sucursal do Estadão em Brasília. Outros debatedores, como Juca Kfouri, Luiz Ernesto Magalhães, Daniel Bramatti e Eliane Cantanhêde participam por meio de entrevistas gravadas.
O Observatório da Imprensa vai ao ar nesta terça-feira às 22 horas, pela TV Brasil, ao vivo, em rede nacional. Em São Paulo pelo canal 4 da NET e 116 da SKY.