Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sujeira não limpa sujeira

Veja derrubou Orlando Silva com uma matéria em que um ex-militante do PCdoB acusava o ex-camarada, então ministro do Esporte, de receber propinas em dinheiro, numa garagem em Brasília.

A denúncia do ex-policial militar João Dias carecia de provas e Veja sabia disso. Mesmo assim serviu-se das aspas, valorizou-as espetacularmente, deixando em segundo plano todas as falcatruas com as ONGs que, aliás, já haviam sido noticiadas e vinham sendo investigadas há tempos pelas autoridades.

O ministro do Esporte foi obrigado a demitir-se porque a Procuradoria Geral da República pediu a abertura de um inquérito e o Supremo Tribunal Federal autorizou-a. A investigação relaciona-se com as falcatruas e não com o recebimento de propinas. Depois da defenestração do ministro, seu acusador confessou à imprensa que desistiria de procurar as provas. Ninguém o cobrou por isso. Nem o semanário sentiu-se na obrigação de sequenciar o episódio.

Garantia de veracidade

Depois de divinizar o jornalismo investigativo como modalidade superior, exclusiva de uma tropa de elite, nossa imprensa está conseguindo avacalhá-lo com procedimentos abusivos. O uso de denúncias explosivas e espetaculares – não comprovadas e não comprováveis – para alavancar outras menos apelativas é um recurso chinfrim, maroto. Cria precedentes perigosos, estimula a criação de uma categoria de agentes provocadores e arapongas que vivem nos corredores do poder – sobretudo em Brasília – bicando tetas ou praticando extorsões.

Para sanear nossa vida pública convém utilizar procedimentos jornalísticos inquestionáveis. Aspas são garantias de veracidade, forjá-las sem comprovação é velhacaria.

Sujeira não limpa sujeira.