O semanário francês Charlie Hebdo foi atacado na quarta-feira (2/11). O prédio onde funciona a redação, em Paris, foi atingido por um coquetel Molotov de madrugada, e o site da revista foi tirado do ar por hackers. O ataque, que não deixou feridos, parece ter sido uma retaliação a uma edição especial com o profeta Maomé como “editor convidado”, publicada esta semana.
Na segunda-feira, o Charlie Hebdo divulgou declaração anunciando a brincadeira: “Para celebrar a vitória do partido islâmico Ennahda na Tunísia, Charlie Hebdo pediu ao profeta Maomé para ser o editor-chefe especial de sua próxima edição”. O Ennahda, que obteve maioria dos assentos do parlamento em outubro, prometeu trabalhar com os partidos mais liberais da Tunísia e respeitar a abordagem do país com relação à igualdade de gêneros.
A capa da edição, publicada na quarta-feira, mostra Maomé dizendo: “Cem chibatadas se você não está morrendo de rir”. A revista também traz um editorial, assinado pelo profeta, intitulado “Halal Aperitif”, e um suplemento feminino chamado de “Madam Sharia”.
Cartuns do profeta
O Charlie Hebdo esteve envolvido na polêmica dos cartuns do profeta Maomé, em 2005, que provocou violentos protestos em diversos países – o Islã proíbe qualquer representação do profeta. Em fevereiro de 2006, o semanário francês reproduziu os cartuns, publicados originalmente pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten. Dois anos depois, a justiça francesa absolveu a revista e o editor Philippe Val em uma ação aberta por um grupo de organizações islâmicas por conta dos desenhos.
Diante do ataque à redação do Charlie Hebdo, o Comitêpara a Proteção dos Jornalistas divulgou nota afirmando que “jornalistas não deveriam ser submetidos a violência por apresentarem pontos de vista controversos”. “Pedimos às autoridades francesas que encontrem os responsáveis e os levem à justiça”, afirmou Nina Ognianova, coordenadora da organização na Europa e Ásia Central. Com informações da BBC e do CPJ [1 e 2/11/11].
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Veja aqui um vídeo sobre a polêmica edição.
Bomba incendiária na redação do jornal
[Reproduzido do Público online, 2/11/2011; título original “Redacção do Charlie Hebdo destruída com bomba incendiária”]
O semanário satírico francês Charlie Hebdo foi esta madrugada [2/11] alvo de um ataque com uma bomba incendiária, que destruiu por completo a redacção da publicação, em Paris, um dia depois de o jornal ter anunciado que o profeta Maomé seria o “director” da próxima edição.
Falando em “atentado”, o ministro francês do Interior, Claude Guéant, avaliou que na investigação a este incidente “não devem ser negligenciadas” as pistas de muçulmanos integristas.
“Já não temos um jornal. Todo o nosso equipamento ficou destruído”, lamentou o director do semanário – um dos jornais que publicou as polémicas caricaturas de Maomé que causaram em 2007 uma vaga de violência no mundo árabe, sendo proibida no Islão qualquer espécie de representação visual do profeta.
Trocadilho infame
Uma testemunha ouvida pela agência noticiosa francesa AFP descreve que foi atirado um cocktail molotov contra uma das janelas do Charlie Hebdo, que incendiou todos os computadores. “Está tudo queimado, não resta nada”, disse.
A edição online do semanário foi igualmente alvo de um ataque informático durante a noite, com a página de acolhimento a ser substituída por uma fotografia da mesquita de Meca, em plena peregrinação, com as palavras, em inglês e turco “não há outro Deus que não Alá”.
O Charlie Hebdo anunciara na véspera em paródia que no número seguinte (o desta semana, hoje nas bancas) o jornal seria chefiado por Maomé para “celebrar” a vitória do partido islamista Ennahda nas eleições legislativas na Tunísia na semana passada. Na capa tem uma caricatura do profeta do Islão e o dito jocoso “100 chicotadas se não morrerem a rir” e o título da publicação como Charia Hebdo, num trocadilho com a palavra islâmica sharia (lei do Islão).