Pouco adianta agora discutir qual tipo de colete à prova de balas o cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos usava quando foi atingido pelo tiro de fuzil que o matou, domingo (6/11) de manhã, durante uma operação policial na favela de Antares. Domingos foi vítima da mesma guerra que, há nove anos, levou Tim Lopes, repórter da TV Globo, capturado e morto por traficantes do Complexo do Alemão, e que já deixou outros tantos feridos.
O fato é que a maioria de nós, jornalistas, não está preparada para cobrir essa guerra. Temos a melhor das intenções, mas nos falta o conhecimento técnico adquirido por agentes de segurança nas escolas de formação. Falta também a muitos de nós o preparo físico para suportar o peso de um colete tipo 3, aquele projetado para resistir a tiros de fuzil. Fiz o teste – ou, ao menos, tentei. Pesa muito, em torno de dez quilos. Difícil alguém com preparo físico inferior ao de um policial do Bope acompanhar uma operação usando um deles.
O que fazer? Cursos de treinamento como os que o Exército ciclicamente oferece aos jornalistas ensinam boas noções de autoproteção, mas não resolvem, sozinhos, o problema. A proposta do comandante da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, de discutir medidas de segurança para a mídia com os sindicatos da categoria é um bom início de conversa, desde que alguns aspectos fiquem bem claros para que a iniciativa não se perca em desvios pelo caminho. A quem caberá dizer aos repórteres que, a partir de determinado ponto, é mais seguro que eles não acompanhem uma operação policial?
Não é difícil imaginar que o poder de definir isso possa ser usado por policiais menos escrupulosos para escapar da “fiscalização” dos jornalistas. Por isso a discussão precisa ser ampla: para que uma boa ideia não evapore e para que não haja mais casos como o de Domingos.
***
[Cristina Grillo é jornalista]