“Exibiram outra vez ignorância e grosseria” (Cynara Menezes, jornalista, lamentando as reações de uma aguerrida minoria à notícia da doença de Lula)
“Lula, a doença e a estupidez – o Brasil que se acha inteligente e bem informado exibe outra vez sua ignorância e grosseria”. Em texto muito bem lançado, Cynara Menezes comenta, na CartaCapital, as reações impregnadas de rancor – que expõem um Brasil tosco, espalhadas por parte da mídia e nas redes sociais – à notícia do câncer de laringe que acometeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como registra a jornalista, “nunca antes na história do Brasil alguém recebeu tantos ataques pelo simples motivos de anunciar uma doença”. Na verdade, em que pesem as milhares e milhares de comoventes mensagens de solidariedade levadas ao ilustre brasileiro em seu leito no Hospital Sírio Libanês, incluídas aí as manifestações edificantes e civilizadas das principais lideranças da oposição política, extrapolou todos os limites do bom senso o volume exagerado de alusões ressentidas, preconceituosas e raivosas ao fato, formuladas por elementos que parecem não se haver conformado até hoje com a ascensão desse sindicalista metalúrgico à chefia do governo brasileiro.
Esse pessoal pôs pra circular na internet uma saraivada de diatribes e baixarias, tentando ressuscitar, de certa maneira, o clima de desvairada belicosidade com que uma minoria aguerrida combateu, no passado, a campanha amplamente vitoriosa do líder popular que conseguiu granjear, por óbvias razões, os maiores índices de popularidade e simpatia já alcançados por alguém na cena pública da crônica política brasileira. Gracejos imbecis, agravos despropositados, declarações estapafúrdias, desrespeitosas, encharcadas de intolerância e irracionalidade, compuseram aquilo que alguém, pertinentemente, classificou de “esgoto de torpezas.”
A face desumana da minoria
Um videotape grotesco daquela enxurrada de agravos, que tão penosa lembrança deixou no espírito popular, montada anos atrás com o maquiavélico intuito de incompatibilizar o então candidato com os diferentes segmentos da sociedade, de modo a obstar a ascensão de um genuíno Silva do andar de baixo da estrutura socioeconômica às grimpas do poder político. Aconteceu naquela época de boataria maldosa e insistente, alimentada até por influentes próceres classistas da Fiesp, de que o Brasil seria inapelavelmente sacolejado, na hipótese da “indesejada” eleição de Lula, por verdadeiro êxodo de empresários, tendo em vista os “tenebrosos” planos de desmantelamento das atividades produtivas tradicionais que seu governo tinha em cogitação implementar.
Essa deplorável forma de reação à enfermidade do ex-presidente traduz pobreza de espírito. Expõe sem rebuços a face desumana de uma porção sabidamente minoritária da comunidade que, mesmo detendo ainda certos instrumentos capazes de influenciar negativamente os rumos das coisas, distanciou-se anos-luz emotiva, afetiva, psicológica e socialmente do Brasil autêntico. Do Brasil humanística e espiritualmente solidário com os valores que conferem dignidade a vida humana.
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[Cesar Vanucci é jornalista, Belo Horizonte, MG]