Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Educação perde para sexo e violência

“O brasileiro só é solidário no câncer” (do filme Bonitinha, mas ordinária, baseado na obra de Nelson Rodrigues)

É incrível como nossa mídia despreza o que há de bom na educação brasileira. A inversão de valores em relação a atividades de cunho pedagógico prova que há, sim, uma maneira quase deliberada e supostamente proposital de inverter o sentido da educação pública em nosso país. As notícias sobre violência, sistema caótico ou falhas no ensino são, geralmente, extremamente valorizadas pelos meios de comunicação, enquanto os casos exitosos são desprezados pelos jornalistas que hoje são espécie de semideuses que escolhem o que o povo tem de ver e não fazem a notícia de acordo com o grau de importância ou com o valor à informação.

A nossa mídia está muito preocupada em mostrar cadáveres, mães desesperadas ao ver os filhos mortos ou mutilados e desgraças de todo tipo que são apresentadas em horário de almoço e provocam um medo generalizado na população. Claro que tais notícias encontram ressonância na população, que infelizmente tem um pouco de cultura da desgraça dos outros e adora ver esses tipos de cena. O papel da imprensa é, sim, informar.

No entanto, deve-se repartir o teor da informação cumprindo um papel mais forte no sentido de envolver a população na conquista da educação pública, gratuita e de qualidade. Mas infelizmente nossa mídia ainda procura desenvolver a cultura da má notícia e desenvolver o medo e a apreensão do povo que, hoje, em função da divulgação da violência e da sua realidade, tem medo de sair às ruas. Claro que a violência está fortemente ancorada na falta de condições sociais de nosso povo que, sem educação, acesso à cultura e à informação de verdade, acaba sendo tragado pelo vício e pela construção do processo de violência.

Coisas boas para mostrar

Por outro lado, prolifera nos meios de comunicação a divulgação desenfreada do sexo, da nudez e da mulher como objeto de desejo e como mercadoria, apresentada de forma sexualmente atraente para o povo em geral. É comum a construção de mitos sexuais, notícias sobre vida íntima de personagens do cenário cultural e político de nosso país e a transformação do sexo em objeto simplesmente midiático sem objetivos de conhecimento e informação. É cada vez mais presente a criação de programas onde o sexo fácil e a divulgação de corpos e intimidades são grandes atrações sobre a suposta afirmação de que “o povo gosta”. Os programas de rádio, televisão e os tabloides jornalísticos sobre este tema têm grande apoio da publicidade e exercem grande influência sobre a preferência popular. O que está errado então? Seria o povo ou os programadores. Não é à toa que o reality show global está em sua 12ª edição e obtém da publicidade apoio que é superior a mais de três vezes do prêmio que seria pago ao ganhador participante. O que está errado então?

Nossa pobre educação carece do efeito da divulgação onde os jornais, em sua maioria, têm um espaço pequeno para discutir claramente os problemas da educação brasileira sem estigmatismos em relação à escola pública. Em Fortaleza, um grande jornal da cidade (O Povo) promoveu uma atividade em umagrande escola da cidade (uma espécie de gincana) ao mesmo tempo em que despreza as atividades que ocorrem nas escolas públicas sem uma ação firme no sentido de garantir cidadania ativa, promover o resgate da autoestima dos alunos e dos professores e dar a todos oportunidades de falar o que pensam sobre educação e mostrar que as escolas públicas da capital e de todos os estados têm coisas boas para mostrar e tem ações firmes, eficazes e que, se bem apoiadas, podem fazer maravilhas.

A educação pede mais

Nos episódios das greves em todo país pelo Piso Salarial Nacional do Magistério, a nossa mídia não teve a iniciativa de esclarecer ao povo o sentido da lei e o real valor do que preconiza o teor da lei e sua importância para o bem da educação no Brasil. Nossas escolas públicas precisam de páginas nos jornais, precisam de espaço nos programas televisivos, precisam de jornalistas que pautem verdadeiramente o lado bom da escola e o sentido real da educação. A mídia brasileira gosta de sangue e parece que só existe isso na escola pública, o que não é a realidade, pois há iniciativas maravilhosas que, se bem apoiadas, podem render frutos vitoriosos e jovens que serão cidadãos ativos, conscientes e plenamente aptos à vida produtiva e econômica do país.

Não entendemos esse processo de comunicação, que deveria ser mais democrático e abrir espaços para a educação que acontece e que, infelizmente, não tem tido espaço nem nas revistas especializadas no assunto. A educação pede mais, mas os jornalistas parece que ainda não entenderam o teor da educação e sua importância para um país melhor.

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[Francisco Djacyr Silva de Souza é professor, Fortaleza, CE]