Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalista orgânico, vital

Jornalista orgânico, biológico, integral. Sua razão de viver era a bobina de papel. Samuel Wainer fez pelo menos duas revoluções no jornalismo brasileiro, merecia ser mais bem estudado. Merecia ser revivido com toda a sua carga de eletricidade e capacidade inventiva.

Diretrizes (fundada em 1938, um ano depois da implantação da ditadura do Estado Novo) foi a matriz de um jornalismo político numa época em que não se podia fazer política, incubadora de uma geração de grandes repórteres e cronistas como Joel Silveira e Rubem Braga. Última Hora (criada em 1951) criou um novo paradigma de jornalismo popular com um suporte de altíssimo nível intelectual.

Não se considerava um intelectual, talvez por modéstia. Infalível caçador de talentos. Conhecia a força das palavras, sabia usá-las com maestria, um dos melhores mancheteiros com quem convivi. Datilografava com dois dedos em alta velocidade e muita emoção.

Edições múltiplas

Intenso em tudo: suas broncas eram arrasadoras. Quando percebia que fora excessivo, acionava o lado sedutor: “Uma bronca não se perde…”

Um de seus gurus foi o francês Pierre Lazareff, criador do vibrante Le Soir e, depois da guerra, do France Soir. Ambos sabiam transitar com igual desenvoltura da política ao show biz, sempre em defesa das causas justas. Sempre antifascistas. Apreciava o jornalismo americano, mas o seu xodó era a França – um europeu.

Trabalhou em O Jornal, mas era um vespertineiro clássico, adorava fazer o jornal do dia e não da véspera. Ironicamente, foi o responsável pelo recuo do horário de saída dos vespertinos cariocas: sem máquinas e recursos para enfrentar O Globo (capaz de rodar e distribuir grandes tiragens no meio da manhã), não teve outra alternativa senão antecipar o fechamento e rodar às sete da manhã.

Grande impulsionador do jornalismo de cidade e de polícia, ia às bancas para ver quem comprava o seu jornal. Era o seu Ibope. Mas aprendeu com o velho Chatô que uma empresa jornalística no Brasil, para ter voz, tem que adotar uma entonação nacional. Inventou então o sistema de edições múltiplas: a rotativa do Rio imprimia além da UH local também a fluminense e a mineira. A paulista abrigava tinha uma edição satélite no Paraná.

Jornalista vital. Energizador, mesmo num perfil com 365 palavras.

 

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