Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A difícil tarefa de redigir títulos

Manchetes são complicadas e traiçoeiras, avalia, em sua coluna [9/12/11], o ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton. Elas são escritas sob a pressão do deadline e com limitações de espaço, mas ainda assim devem conseguir ser criativas, informativas e até engraçadas. Poucos leitores lembram das muitas manchetes que conseguem descrever de maneira precisa uma matéria. No entanto, quando o título é ruim, fica difícil se esquecer dele. Foi o que aconteceu em uma galeria de fotos online do Post.

O ombudsman foi bombardeado com 1.500 e-mails repletos de reclamações sobre o título principal de um slideshowcom fotos de instalações nucleares no Irã: “A busca do Irã para obter armas nucleares” (Iran’s quest to possess nuclear weapons, no original), com o subtítulo “Serviços de inteligência mostram que o Irã recebeu assistência estrangeira para superar barreiras-chave em adquirir uma arma nuclear, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, sigla em inglês)”.

A galeria remetia a duas matérias do repórter de inteligência nacional do Post Joby Warrick, dos dias 6/11 e 8/11, descrevendo o último relatório do IAEA, no qual a agência da ONU alega que a busca do Irã por tecnologia nuclear tem aspectos militares que poderiam levar à criação de uma bomba nuclear. Mas o relatório não diz, em nenhum momento, que o Irã tem uma bomba ou que está construindo uma, apenas que seu esforço de anos em tecnologia nuclear é sofisticado e amplo o suficiente para a construção de uma bomba.

O Irã nega ter como objetivo a construção de uma bomba nuclear e alega que seu programa tem como fim a energia e pesquisa nuclear civil. Ninguém garante que isso seja verdade, como afirmou o diretor de inteligência nacional dos EUA, James R. Clapper, ao Comitê de Serviços Armados do Senado, em março: “Continuamos a avaliar que o Irã está mantendo aberta a opção de desenvolver armas nucleares em parte ao desenvolver várias capacidades nucleares que melhoram sua posição de produzir tais armas, caso opte por fazê-lo. Não sabemos, no entanto, se o Irã decidirá construir armas nucleares”.

Protesto

Na realidade, os 1.500 e-mails recebidos por Pexton faziam parte de uma campanha organizada por um grupo sem fins lucrativos de esquerda chamado Just Foreign Policy, que tem em seu conselho, dentre outros, Julian Bond, presidente da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas Negras, sigla em inglês), e Tom Hayden, ativista dos anos 60. Fundado em 2006, o grupo tem como principal objetivo colocar fim às guerras do Iraque e Afeganistão e evitar outras, como a com o Irã. “O que fazemos é ler o jornal e tentar contar às pessoas o que lemos”, disse Robert Naiman, coordenador das campanhas online do grupo. “Fiquei assustado com os títulos, mesmo sabendo da linha editorial do Post sobre o Irã. As páginas editoriais são separadas das notícias e as galerias de fotos pertencem às notícias”.

No site da ONG, ele escreveu que a mídia americana ajudou a colocar os EUA em guerra com o Iraque ao tratar as acusações sem provas de supostas armas de destruição em massa como programas de fato, e ressaltou que o mesmo estava acontecendo em relação ao Irã. Visitantes do site podiam clicar em um link com uma mensagem ao Post. Sites de esquerda, como o Daily Kos, compartilharam o link e, logo, a caixa postal do ombudsman estava cheia. Na opinião de Pexton, o título não era preciso. As galerias de fotos em geral são feitas por editores de fotos e então passadas aos editores para que sejam feitas as legendas e títulos, mas ele não sabe ainda onde o erro ocorreu.