Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Privataria Tucana & Recordações do escrivão Isaías Caminha

Em dezembro de 1909 é posta à venda, no Rio de Janeiro, a primeira edição do livro Recordações do escrivão Isaías Caminha. Em seu romance o escritor e jornalista Lima Barreto satirizava, impiedosamente, o jornal Correio da Manhã, o mais poderoso órgão de imprensa da época. Ao retratar os bastidores desse grande jornal, o livro de Lima Barreto se transformou num autêntico panfleto contra a imprensa da época. O autor comprou uma briga que lhe custou um pesado boicote da grande imprensa. Apesar disso, a primeira edição do livro se esgotou e era o assunto das rodas literárias, inclusive recebendo algumas observações de críticos como Medeiros e Albuquerque, Alcides Maia e José Veríssimo.

Mesmo com a repercussão que o livro teve ao escandalizar a sociedade da época, os jornais continuavam surdos e mudos. Segundo o seu biógrafo Francisco de Assis Barbosa, Lima Barreto “tocou na ferida dos príncipes do jornalismo e das letras” e eles jamais perdoariam a ousadia daquele mulato.

O que testemunhamos hoje em relação ao silêncio da grande imprensa e ao livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr. retrata a dificuldade enfrentada por Lima Barreto em sua época. Passados 102 anos da publicação do livro Recordações do escrivão Isaías Caminha,a grande imprensa, que está sempre clamando por liberdade, sem o menor pudor tenta colocar no ostracismo um livro cujo assunto não é o papel exercido por ela ao longo dos últimos 60 anos na história do país.

Referência:

BARBOSA, Francisco de Assis. A Vida de Lima Barreto. Rio de Janeiro, José Olympio editora, 8ª ed., 2002.

BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo, O Livro de Bolso, 3ª ed., 1943.

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[Júlio Ribeiro Xavier é historiador, Rio de Janeiro, RJ]