Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cartas ao jornal O Globo

Enviei na quarta-feira (14/12) a seguinte correspondência ao Globo:

Prezados editores de O Globo, agora estou oficialmente preocupado. Como vocês podem ver pela carta abaixo, que enviei nos dois últimos dias, eu achava que algum engano estava acontecendo sobre nenhuma menção ao livro Privataria tucana, às denúncias contidas nele, fartamente documentadas, nem à reação ao mesmo, que ontem levou um deputado federal a pedir abertura de CPI e outros dois a se pronunciarem no plenário. Até mesmo o ex-governador José Serra precisou responder finalmente sobre o tema, afirmando que se tratava de lixo. No entanto, continua não havendo uma linha em O Globo sobre a existência desse livro que, há cinco dias, mobiliza a opinião pública brasileira. Digo que estou preocupado porque, como leitor do Globo que conhece e partilha dos mesmos princípios editorias que o jornal (como exposto no final da minha carta de ontem), agora estou totalmente convencido de que neste momento o jornal encontra-se sob censura.

E, por isso mesmo, quero me irmanar ao jornal na sua luta para escapar das garras deste inimigo tão insidioso que, em um passado ainda próximo, nos afetou a todos de maneira tão tacanha. A publicação, hoje (15/12), de nada menos que 10 cartas em sua seção de correspondência do leitor sobre uma “blindagem” que está sendo feita ao ministro Pimentel me pareceu uma genial maneira (como as antigas receitas de bolo) de explicitar que quem está sob blindagem e ameaças é o próprio Globo, impossibilitado como está de dar voz a este tema grave. Por isso, faço questão de dizer que podem contar comigo para publicar esta minha carta, que agora entendo estar impedida de ser publicada no jornal por forças maiores, nas redes sociais que hoje permitem a nós escaparmos das garras deste animal tão doentio que é a censura. Estamos juntos nesta luta e podem acreditar que não vamos arrefecer nossos ânimos até que esta cortina esteja levantada!

PS: uma outra coisa que podia ajudar era seguir o modelo que o Estadão tem usado, e escrever “O Globo, há cinco dias sob censura” e depois ir atualizando a cada dia. É muito efetivo para deixar clara nossa luta.

“O critério é ser notícia”

A carta anterior, enviada no segundo dia, era:

“Tenho certeza que foi por algum engano que não saiu nenhuma nota no jornal O Globo dos últimos dois dias sobre o livro A privataria tucana, que foi destaque absoluto na internet e estampa uma das principais revistas semanais do país. Afinal, as denúncias, idôneas ou não, que costumam ocupar a capa de uma outra revista semanal, são sempre muito bem repercutidas em O Globo logo na segunda-feira, quando são publicadas. Uma vez que o livro já está em primeiro entre os mais vendidos do país, segundo os mais distintos sites que acompanham o mercado editorial, é certo que ele será logo foco de uma matéria grande neste jornal que se ocupa sempre dos principais temas do país. Não fugirá deste, uma vez que, inclusive, um pedido de CPI já foi feito no Congresso. Quem sabe em seguida não seja resenhado no caderno de lançamentos literários também o livro Crimes de Imprensa, lançado há 15 dias. Sabemos que uma imprensa livre, afinal, é uma demanda do Globo e de seus leitores.

PS: Aproveito para relembrar isso que vi publicado em algum lugar, e achei uma leitura precisa e importante para todos, que me tranquilizou ao saber que partilhamos dos mesmos princípios. Dos princípios Editoriais das Organizações Globo: “(…) Não pode haver assuntos tabus. Tudo aquilo que for de interesse público, tudo aquilo que for notícia, deve ser publicado, analisado, discutido; (…) gostar ou não de um assunto ou personagem não é critério para que algo seja ou não publicado. O critério é ser notícia; (…) as Organizações Globo são apartidárias (…) os jornalistas das Organizações Globo devem evitar situações que possam provocar dúvidas sobre o seu compromisso com a isenção.”

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[Eduardo Valente é cineasta, Rio de Janeiro, RJ]