Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A questão social e todas as outras

A violência está pouca em nosso país. E se explica por sua imensa extensão continental, suas riquezas incomensuráveis e vazio territorial, muito embora a sua miséria seja comparável às piores que existem no mundo. Por estas razões demora séculos para ocorrer uma simples convulsão social, enquanto nos outros países elas se dão em meses. É infeliz o povo que deixa abandonada sua maior riqueza, a criança, sofrendo todos os tipos de torpeza, física, moral e psíquica, desde a concepção, como estupros, prostituição, abortos violentos e não tão clandestinos (em cada 4 meninas menores de 17 anos, uma está grávida e abandonada nas sarjetas em todos os recantos do país)

Estas realidades cultivadas no passado e mais ainda no presente vão sempre levar cada vez mais ao aumento da violência, porque estas terríveis causas não sensibilizam minimamente as nossas carcomidas elites, que governam o nosso povo há 506 anos.

Quando surgem estes vandalismos generalizados, todos previsíveis, a mídia, cooptada pelo poder político-econômico-financeiro nacional e internacional, utiliza-se da poderosa e avançadíssima tecnologia da comunicação e informação para se transformar em meios de enganação de massa e, como seu subproduto, a nossa velha e conhecida ‘imprensa declaratória’, que por ser altamente perniciosa e deletéria não tem escrúpulos diante da nossa realidade social e dos nossos destinos.

Uma coadjuvante

Repetindo à exaustão e falseando as realidades, plantam notícias alarmistas e tendenciosas de acontecimentos e pseudoacontecimentos eivados de mentiras como ‘verdades’ absolutas. Desviam a atenção de toda a população das grandes questões sociais e, com interesses escusos e mórbidos, infundem o pânico generalizado e o temor difuso (terrorismo midiático). Só enxergam as vantagens econômicas e financeiras fruto do perverso e doentio modelo econômico-financeiro excludente adotado pelos governos.

Sempre criaram e continuam criando ‘comandos’ factóides sem nenhum pejo: Comando Jacaré, Comando Vermelho, Primeiro Comando, Amigo dos Amigos, PCC, TCC et caterva. Estes pseudocomandos são tão inofensivos que não elegem nem um vereadorzinho, e quando morrem não deixam nem um barraco ou uma bicicleta para seus inumeráveis filhos biológicos, todos miseráveis. Diferentemente dos antigos comandos do bicho que, neste mesmo caso, sempre deixaram como herança propriedades no exterior, fazendas e imóveis no país, tinham o poder de eleger políticos do Executivo e do Legislativo nos três níveis e influir nas instituições.

Por fim, o que é mais patente e definitivo: ao se tratar de questões sociais com polícia, os resultados são simplesmente catastróficos e irreversíveis. Polícia é para tratar de questões policiais. E quando ela participa de questões sociais deve atuar exclusivamente como coadjuvante. Ela é apenas mais um órgão de um sistema maior chamado Sistema de Segurança Pública, que tem como meta a manutenção e a preservação da Ordem Pública vigente. O nosso grande dramaturgo Nelson Rodrigues sempre dizia: ‘Se todos estes fatos provam tudo isso, pior para os fatos’.

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Policial aposentado, Rio de Janeiro