O site Mídia&Política resolveu lançar suas Normas de Redação para deixar claros os compromissos com os leitores e com os colaboradores. Talvez seja a primeira vez que um espaço eletrônico do gênero observatórios da mídia torna públicos os critérios de publicação. A idéia, além de apresentar o estilo de texto preferencial do site, é que os pesquisadores tenham nas mãos um instrumento de fácil consulta para dúvidas relacionadas ao modo de inserir referências ou o uso de aspas, por exemplo.
A preocupação em estabelecer regras de linguagem, no Brasil, tem origem em Pompeu de Sousa, que em 1950 passou o carnaval redigindo um guia para orientar os redatores e repórteres do Diário Carioca. Mais tarde, Pompeu faria um mea culpa: ele foi o culpado pela introdução de termos americanizados na imprensa do país, como copy (de copydesk, a mesa onde os redatores faziam as revisões) e lead (o primeiro parágrafo da notícia). Nessa época, confessava que teve que criar um verdadeiro ‘viveiro de focas’ (1) para implantar as normas, já que a maioria dos profissionais tinha o vício do nariz-de-cera, que é a introdução longa e desnecessária ao assunto.
Manuais de redação são conhecidos na Europa desde 1890. Justamente nos anos 1950-60 iniciou-se uma atenção maior ao projeto editorial, às práticas e gêneros jornalísticos, quando foram valorizados a notícia breve, os princípios da pirâmide invertida e normas para homogeneizar a escrita (2). A Folha de S. Paulo foi o primeiro jornal brasileiro a editar um Manual, em 1984, e a edição mais recente é de 2001. A ele se seguiram outros veículos, na certeza de consolidar o vínculo e prestar contas ao leitor.
No Prefácio, o manual do New York Times justifica a existência de normas como uma exigência de ambientes ‘onde muita gente, de origens diferentes, escreve e edita uma publicação que tem uma identidade própria’. Para o editor geral de Mídia&Política, Luiz Gonzaga Motta, a divulgação das Normas de Redação do site marca um avanço, não só em relação a um padrão de qualidade que o espaço quer manter, como também no universo dos observatórios. ‘Todos deveriam ter critérios bem explicitados, uma vez que nosso desejo é dar caráter científico às análises e críticas’, aponta Motta. O leitor e o colaborador precisam saber as regras de seleção, edição e publicação, para melhor compreender os objetivos e o que esperar do site. Isso faz parte deste ‘contrato social’ que é estabelecido e, ao mesmo tempo, segundo Motta, ‘ajuda o site a conformar uma identidade pública’.
Padre Vieira
Mídia&Política é uma publicação do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (Nemp) da Universidade de Brasília (UnB) e se dedica à divulgação de notícias e análises sobre a cobertura política na mídia brasileira. Como está explicado no item Quem somos do site, a noção de cobertura de assuntos políticos ultrapassa o mero noticiário sobre processo eleitoral, partidos e parlamento, e se estende ao acompanhamento do poder e sua relação com a imprensa. ‘Espaço eletrônico de liberdade de crítica’, M&P pretende contribuir para uma consciência pública quanto à qualidade da cobertura dos temas políticos, estimulando a reflexão e uma representação mais democrática da mídia nos conflitos.
Este documento de normas apresenta-se como uma primeira versão de alguns padrões que se pretende seguir para títulos, chamadas e textos. Valendo-se dos recursos da internet, deverá ser aperfeiçoado e ir ao ar em nova versão, sempre que houver modificações e melhoramentos sugeridos pelo leitorado. Embora a questão de estilo seja algo pessoal – e o M&P respeita o estilo dos pesquisadores que enviam trabalhos –, queremos lembrar uma reflexão do Padre Antônio Vieira:
‘Aprendemos no céu o estilo da disposição, e também o das palavras. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo (…); muito distinto e muito claro. Nem por isso temais que pareça o estilo baixo; as estrelas são distintas e muito claras, e altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem e tão alto que tenham muito que entender os que sabem’. (3)
Sugestões devem ser enviadas a Luiz Gonzaga Motta, editor geral (luizmottaunb@yahoo.com.br); e a Thaïs de Mendonça Jorge, editora executiva (thaisdemendonca@uol.com.br)
Notas
(1) BASSUL, José Roberto. In: A chegada do lead ao Brasil. Depoimento de Pompeu de Sousa a Aristélio Andrade, Luiz Paulo Machado e Maurício Azedo. Boletim da ABI, s/d. ‘Viveiro de focas’ é expressão de Pompeu para se referir aos jornalistas iniciantes que ele ia buscar na Universidade do Brasil, onde inaugurou a primeira disciplina de Técnicas de Jornal e Periódico. A experiência de Pompeu com o magistério, no Rio, teria sido o embrião do curso de Comunicação de Massa que ele implantaria em 1960 na Universidade de Brasília.
(2) RINGOOT, Roselyne.; UTARD, Jean-Michel (dir.) Le journalisme em invention. Nouvelles pratiques, nouveaux acteurs. Rennes (Fr.): Presses Universitaires de Rennes, 2005.
(3) Manual de Estilo Editora Abril: como escrever bem para nossas revistas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
******
Editora executiva do Mídia&Política