Mark Zuckerberg passou os primeiros anos da Facebook Inc. tentando mantê-la cool. Mas o fundador e diretor-presidente do gigante das redes sociais gastou os últimos 18 meses metodicamente preparando a Facebook para se parecer e atuar mais como uma empresa madura. “Houve um período na evolução da Microsoft quando eles diziam que queriam colocar um computador na mesa de cada pessoa”, disse Zuckerberg recentemente ao Wall Street Journal. “É desta maneira que eu quero administrar a Facebook. […] Nós queremos operar de uma forma em que estaremos trabalhando com essa visão de longo prazo de aonde nós achamos que o mundo está indo.”
A Facebook planeja apresentar à SEC, a agência que regulamenta o mercado de capitais nos Estados Unidos, o pedido de registro para abrir o capital no segundo trimestre de 2012, de acordo com uma pessoa a par do assunto. A operação pode levantar até US$ 10 bilhões, avaliando a empresa em mais de US$ 100 bilhões. As aberturas de capital das empresas de interent Groupon Inc. e Zynga Inc. aumentaram a vigilância sobre a Facebook. As ações da Groupon estão em queda de 12% desde o fechamento do seu primeiro dia de negócios, enquanto as da Zynga caíram em minutos para menos da cotação de estreia.
Embora seja difícil conseguir fazer uma oferta pública, é ainda mais difícil para novas empresas acompanhar companhias de internet com um exército sólido de seguidores como a Apple Inc. e a Microsoft Corp. Mas as entrevistas dadas por Zuckerberg e outros da Facebook revelam que a empresa, de oito anos de existência, está tentando imitar a influência, a solidez de poder e a meticulosidade das maiores empresas de tecnologia.
Gravata e casaco esportivo
Desde o ano passado, executivos da Facebook têm preparado esboços de roteiros para teleconferências sobre os balanços trimestrais, respondendo a questões imaginárias de analistas sobre a receita e o lucro, dizem pessoas familiarizadas com o assunto. Eles chegaram até mesmo a escrever um rascunho secreto de um prospecto de abertura de capital, uma tarefa tradicionalmente destinada aos funcionários dos bancos que estão coordenando a operação.
O diretor financeiro da empresa, David Eberman, está auditando profissionalmente as demonstrações financeiras a cada trimestre, dizem pessoas a par do assunto, e evitando estratégias contábeis que levantaram questões para a Groupon e a Zynga. Embora Ebersman esteja jogando duro com os banqueiros de Wall Street, dizendo que vê com ceticismo a contribuição que eles poderiam dar à abertura de capital, ele também já comunicou o seu interesse de ir adiante com uma oferta pública tradicional, dizem pessoas a par do assunto. A Facebook tem pouco interesse em seguir a Google Inc., que optou pelo estilo de oferta eletrônica.
Até mesmo as emblemáticas sandálias Adidas do seu diretor-presidente estão amadurecendo. Zuckerberg, de 27 anos, as trocou por tênis de corrida Brooks e chegou ao ponto de usar uma gravata azul escuro e um casaco esportivo quando o presidente Barack Obama visitou a empresa em abril – um gesto de indumentária que ele resistiu em fazer em encontros com vários banqueiros, advogados e diretores-presidentes.
Para conquistar as grandes marcas
A empresa tem escala e uma marca forte, diz Lise Buyer, uma consultora de aberturas de capital que trabalha no Vale do Silício, a região na Califórnia que concentra as empresas de tecnologia. Mas a grande questão, diz Buyer, será a capacidade da Facebook de ser rentável durante altos e baixos. Uma coisa notável é o número de empregados necessários para criar uma empresa de US$ 4 bilhões em receita. A Facebook emprega 3.000 pessoas, um número que parece ainda mais nanico quando comparado aos 90.000 funcionários da Microsoft e 31.000 da Google.
“A peça que nós ainda não vimos foi a confiabilidade”, diz Buyer. “As ações blue chips são aquelas que as pessoas dizem que pertencem a fundos de pensão. Historicamente, as ações de tecnologia não entram na lista. Mas, por conta de sua escala, a Facebook pode ser diferente”, disse ela, usando a expressão em inglês para as ações mais valiosas e estáveis.
A empresa, entretanto, ainda tem muito o que fazer para convencer os grandes anunciantes. Mesmo hoje, a maior parte da publicidade no site Facebook.com é de pequenos anunciantes, de acordo com a empresa de dados comScore Inc. O Facebook ainda tem que provar que consegue atrair mais anúncios em escala para conquistar as grandes marcas que levam bilhões de dólares para as campanhas de TV, rádio e mídia impressa.
Qualidade, confiabilidade e capacidade
A Facebook também se vê às voltas com dúvidas sobre a privacidade do usuário, uma questão que persiste desde os primeiros dias. Apesar de um acordo emblemático com a Comissão Federal de Comércio dos EUA, pelo qual a empresa concordou em ser auditada por privacidade por um período de 20 anos, questões sobre como ela administra a sua valiosa coleção de informações ainda permanecem.
Pessoas familiarizadas com a opinião de Zuckerberg dizem que ele se preocupa com os danos que uma abertura de capital podem causar à cultura da empresa – e quer que os empregados se concentrem em fazer ótimos produtos, e não na cotação da ação, dizem eles. Se dependesse de Zuckerberg, a Facebook permaneceria com o capital fechado. Mas uma lei americana que exige a apresentação de dados financeiros uma vez que uma empresa tenha mais de 500 acionistas o convenceu no fim das contas de que esse era o caminho certo.
Zuckerberg diz que pode evitar os efeitos negativos de uma abertura de capital montando uma diretoria forte o suficiente para resistir aos desejos de curto prazo dos acionistas. “As pessoas sempre falam do lado negativo dessas coisas”, disse Zuckerberg, referindo-se à abertura de capital, “e eu acredito que elas sejam reais, mas os diretores da empresa fundamentalmente têm controle das decisões que ela toma”.
Sobre ser uma blue chip, Zuckerberg sugere que o termo não é amplo o suficiente para definir o papel que ele vê para o Facebook. Depois de ler a definição – de que uma blue chip é uma companhia com reputação nacional de qualidade, confiabilidade e capacidade de operar com lucro em bons e em maus períodos –, ele disse: “Espero que nossa reputação não seja apenas nacional.”
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[Shayndi Raice é do Wall Street Journal]