Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Jornalistas, posicionem-se, por favor

Nos dias de hoje, a notícia precisa ser mais bem trabalhada pelos agentes da comunicação que infelizmente não sabem, ou sabem, de que lado estão, e acabam trucando a informação e muitas vezes não tomam posições diante de alguns desmandos do poder público em função dos movimentos de contestação ao que está errado. Na greve dos policiais militares, algumas emissoras da TV cearense deixaram a desejar no processo noticioso onde muitos esconderam a notícia e deixaram o povo à mercê de boatos e dos avisos governamentais – que até negaram a existência do movimento. Se estava tudo tranquilo, por que mandaram buscar a Guarda Nacional para o evento do réveillon que, na visão da população, da imprensa e do governo, seria mais importante que negociar com os manifestantes?

Em momentos graves da história brasileira, o papel da imprensa foi fundamental e o posicionamento dos jornalistas diante das barbaridades cometidas expressou ações de reação aos desmandos promovidos. Hoje em dia, infelizmente, temos constatado que alguns jornalistas e donos de jornais acabam caindo aos encantos da verbas publicitárias promovidas pelos governos e acabam desvirtuando o sentido da notícia e dando mais importância aos feitos governamentais. Há também jornalistas militantes que não veem os erros de seus correligionários a acabam dando a notícia do ponto de vista de seus partidos, num caro corporativismo ideológico.

A eliminação da figura do ombudsman

No episódio da greve dos policiais militares do estado do Ceará, o jornal O Povo, de Fortaleza, lança um editorial criticando a ação dos policiais de forma unilateral, sem dar condições de entendimento do que realmente se passa na vida do policial, que é, sim, mal pago e que já tentou várias vezes abrir canais de negociação sobre um problema que é evidente, real e certo. Não é por aí: tem que ouvir os dois lados, tem que se posicionar dentro da perspectiva popular, ou os policiais são milionários? Por que não fazem uma reportagem investigativa sobre a vida do policial nos dias de hoje? Por que não discutem a condição de vida dos servidores públicos? Por que não discutem as prioridades dos governos estaduais hoje? Será que têm ou não têm dinheiro? O jornal chamou o movimento legítimo de ilegalidade insana. Quem está ilegal? Vale ressaltar que este jornal já fez o mesmo em relação aos movimentos dos professores… Por que este meio de comunicação demoniza os movimentos populares? Por que só o governo está certo?

De todo modo, resta ao povo filtrar as notícias e ignorar os meios de comunicação que se posicionam contra os interesses populares, pois é sempre bom verificar qual o verdadeiro sentido da imprensa livre e democrática. Infelizmente, a ditadura dos militares já acabou, mas a ditadura dos conchavos e dos interesses econômicos ainda perdura no país…. Por que os jornais se fecham ao povo? Por que os que têm mais dinheiro e poder têm mais espaço que o “povão” nos jornais? A imprensa tem de ser livre, mas livre de interesses, ideologias e dos conchaves tão comuns na vida política do país, que envergonham, entristecem e dão náuseas. Clamar por mudanças é mera terapia, pois vivemos um momento do estilo manda quem pode e obedece quem tem juízo. É assim que funciona a democracia? Acho que não, mas como eles querem, infelizmente vai ser assim… Sugiro ao jornal a eliminação da figura do ombudsman, pois as reclamações não surgem efeito e os jornalistas deste grupo de comunicação são semideuses e tudo podem, mas sempre ao lado do poder…

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[Francisco Djacyr Silva de Souza é vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE]