Kassahun Yilma saiu da Etiópia às pressas em dezembro de 2009. Ele não teve tempo para planejar nada – nem tinha lugar para ficar ou trabalhar. Deixou mulher, mãe, casa e todos os amigos para trás. Yilma não tinha ideia do que lhe esperava; sabia apenas que, se ficasse no país, corria o risco de ser vítima de uma campanha organizada pelo governo contra o Addis Neger, jornal onde era repórter. “Fugi para salvar minha vida, pois temia por ela”, contou.
Encontrou mais dificuldades no exílio do que na terra natal. Nos primeiros meses, ficou preocupado com as necessidades mais básicas de sobrevivência: hospedagem e comida. Agora, dois anos depois, preocupa-se com trabalho e futuro. Ele continua a escrever para uma versão online do Addis Neger. “Vivendo em Nairóbi, você não sabe o que vai acontecer amanhã”, disse.
Centenas de jornalistas em todo o mundo são forçados a deixar seus países para fugir da violência ou de algum tipo de perseguição. Mas o problema é mais evidente nas partes oriental e nordeste do continente africano, onde o caos, a guerra e a ameaça de prisão já forçaram dezenas de jornalistas a buscar refúgio em países vizinhos. Na última década, mais jornalistas saíram da Etiópia e da Somália do que do Iraque e do Irã.
Problemas também no exílio
No entanto, os problemas dos jornalistas não terminam na fronteira. Isolamento, dificuldades financeiras e traumas provocam ainda mais dor ao já árduo processo de estabelecimento em um novo país. Na última década, em todo o mundo, apenas 22% dos jornalistas exilados encontraram trabalho na sua profissão, segundo pesquisa do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Nas partes oriental e nordeste da África, poucos conseguiram voltar à terra natal.
Nos últimos 18 meses, o programa de assistência a jornalistas do CPJ prestou ajuda a mais de 100 jornalistas na região, cobrindo despesas médicas e outras necessidades mais urgentes. Mas auxílios financeiros esporádicos não são suficientes para sustentar jornalistas a longo prazo. Desta forma, o CPJ, em parceria com o Rory Peck Trust, organização internacional de apoio a freelancers e suas famílias, realizou em dezembro uma conferência em Nairóbi para debater formas de melhorar a assistência aos jornalistas da região que estão atualmente exilados. Cerca de 50 participantes, dentre eles representantes de organizações internacionais e regionais de defesa de direitos humanos, grupos de liberdade de expressão e de defesa dos jornalistas debateram melhores estratégias para assistência emergencial.
Esperança de melhorias
Apesar dos problemas, há esperança. Um participante, Qaabata Boru, saiu da Etiópia como estudante de jornalismo no final de 2004. Mais de seis anos depois, ele permanece no campo de refugiados do Quênia, com pouca expectativa de melhoria de vida. Ainda assim, encontrou um modo de continuar a praticar o jornalismo. De maneira voluntária, Boru trabalha como editor-chefe da Kakuma News Reflector, publicação online que divulga notícias do campo de refugiados. “Ver crime, corrupção, guardas explorando meninas – isso machuca meu coração. Por isso começamos o jornal”, afirmou.
Depois de três dias de workshops e debates, os participantes comprometeram-se a trabalhar juntos para fazer pesquisas sobre as necessidades de ajuda emergencial, médica e assistência a traumas, auxílio legal e outros desafios da vida dos jornalistas exilados. Para a presidente do CPJ, Sandra Mims Rowe, a conferência foi o primeiro passo em uma colaboração entre organizações internacionais e regionais para melhorar oportunidades para jornalistas no exílio. “Espero que sirva como modelo para o trabalho do CPJ em outras regiões”, disse. Informações de Kristin Jones [CPJ, 16/12/11].