Roberto DaMatta constata em sua primeira crônica do ano (Estado de S. Paulo, 4/1) que a sociedade brasileira começa 2012 “com uma intolerância maior para a bem estabelecida desigualdade dos poderosos (localizados no Estado) e a igualdade devida a cada um de nós como cidadãos efetivamente republicanos”.
Em seguida, elogia:
“Desse aspecto, ninguém mais do que a imprensa tem atuado com eficiência e equilíbrio. Pois é ela que tem mostrado como é importante, numa sociedade igualitária, separar o que deve ter limites do mandonismo ilimitado.”
São palavras que ajudam a refletir sobre o fato sociológico de que a imensa maioria dos jornalistas está fora do interminável festim de velhos e novos poderosos.
Cometem erros e injustiças, aceitam modismos, preocupam-se exageradamente com a repercussão (ou audiência), são tão vaidosos quanto qualquer trabalhador intelectual, não são imunes ao eventual charme do poder.
Mas no frigir dos ovos, como ator coletivo, costumam colocar em primeiro plano seu papel social, orientado por um sentido de responsabilidade perante a sociedade e a história.
Nem sempre essa ética é compartilhada pelos donos de veículos de comunicação, mas esses têm em geral o mérito de reconhecer que sem independência não há credibilidade, pilar central da força econômica e política da mídia.