Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Inspiração aos documentários na Páscoa

Com a aproximação da Páscoa, milhões de americanos que não viram A Paixão de Cristo nos cinemas terão a oportunidade de vê-lo virtualmente com especiais de TV sobre a questão da culpabilidade dos judeus. ABC, Fox News e History Channel, entre outros canais, planejaram documentários sobre Jesus – uma forma de capitalizar a popularidade do polêmico filme de Mel Gibson.

O tom e a perspectiva, porém, são diferentes. Todos esses documentários, segundo Alessandra Stanley [The New York Times, 5/4/04], insistem na tecla de que Jesus nasceu judeu, viveu como judeu e como judeu morreu, e que Pôncio Pilatos, e não os judeus, é o culpado por sua execução.

Gibson e seus defensores negaram enfaticamente acusações de que A Paixão traz mensagens enrustidas de anti-semitismo. Nenhuma das emissoras falou do diretor, um católico tradicionalista, a não ser a Fox News – mas sem criticá-lo. A maioria dos programas consultou rabinos, padres, pastores, historiadores, arqueólogos e até geólogos para refutar, elipticamente, as conclusões de Gibson sobre a responsabilidade dos judeus pela crucificação de Cristo.

O programa Jesus and Paul: The Word and the Witness, um especial da ABC de três horas produzido por Peter Jennings e exibido em 5/4, é talvez o mais ambicioso e interessante desses documentários. No início, Jennings lança a pergunta sobre quem queria a execução de Jesus. ‘Os judeus ou os romanos?’ Ele consulta uma gama de especialistas, de Elaine Pagels, autora do best-seller Gnostic Gospels, a Daniel Schwartz, professor do Instituto de Estudos Judaicos. A conclusão é de que o grande culpado é Pôncio Pilatos. ‘Apenas um pequeno círculo da elite governante judaica colaborou com Roma’, afirma Jennings.

De maneira geral, o interesse nas religiões cresceu nos noticiários da TV americana. Segundo uma pesquisa do Media Research Center, os noticiários noturnos da ABC, CBS e NBC apresentaram 303 reportagens sobre religião em um ano. No mesmo período de 1993, o número foi de 121. O mesmo crescimento foi notado em noticiários matinais e programas de domingo.

O fenômeno, de acordo com David Bauder [AP, 5/4], deve-se ao filme de Gibson, ao 25o aniversário do papado de João Paulo II, à cobertura de abusos sexuais dentro da Igreja católica, à polêmica acerca de um monumento dos Dez Mandamentos em um tribunal do Alabama e à discussão sobre pastores homossexuais.

O Media Research Center, grupo de orientação conservadora, tem restrições à forma com que várias reportagens religiosas foram transmitidas. O grupo acha que as emissoras costumam ser hostis a manifestações ortodoxas de fé, preferindo abordar acadêmicos religiosos liberais.