Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Violência e responsabilidade de mídia

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Você teve um choque quando viu as manchetes dos jornais na semana passada: 600 mil brasileiros assassinados em 20 anos, 30 mil por ano, aumento de 95% nas taxas de mortos por armas de fogo na faixa entre 15 a 24 anos. O IBGE prestou um grande serviço à sociedade ao flagrar com números tão precisos as dimensões da guerra brasileira. Mas agora, depois do trauma, cabe perguntar: esta violência caiu do céu, foi inventada? Quem estimula o consumismo desbragado, quem erotiza as crianças precocemente, quem banaliza a violência?


A mídia certamente não é a culpada, mas a mídia é certamente uma das parceiras na transformação da antiga ‘sociedade cordial’ nesta terra de ninguém da qual a Rocinha não é caso isolado. E a mídia eletrônica, sobretudo a televisão, e mais ainda a televisão comercial e aberta, no lugar de estimular o horror dissemina o convívio com as diferentes brutalidades fazendo delas a matéria-prima básica da sua programação.


Mas a batalha não está perdida. Enquanto as gangues de traficantes disputam o controle da Rocinha, neste mesmo Rio de Janeiro reúne-se a 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Jovens, onde, junto com os problemas, estão sendo mostradas as soluções para fazer da mídia um antídoto contra a violência.


Este Observatório existe porque acredita na imprensa, este Observatório existe porque acredita na mídia como fator de humanização e não de barbárie.


Comentários dos participantes do programa


Alberto Dines, editor-responsável do Observatório da Imprensa


‘Acho que o nosso convidado em Brasília, o dr. José Eduardo Elias Romão, perdeu uma excelente oportunidade para informar os tele-cidadãos a respeito do trabalho do Ministério da Justiça na classificação da programação televisiva por horário e faixa etária. Sobretudo diante do vexame que culminou com a saída do seu antecessor na mesma repartição (episódio fartamente comentado em nosso site).


Ao formular as perguntas, tive o cuidado de lembrar ao ilustre convidado que o Observatório da Imprensa há anos acompanha a questão de modo a evitar que caísse na tentação de enveredar pelos habituais rodeios, malabarismo ou reticências. Não obstante, o dr. Romão insistiu naquilo que o vulgo designa como ‘conversa mole’. Pior, usou a retórica ‘politicamente correta’ para nos colocar como defensores da censura. Exigir que o Ministério da Justiça cumpra com a sua obrigação constitucional não é recorrer à censura – ao contrário, é lembrar os compromissos legais dos governantes perante os governados.


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Rita Ribes, professora da Faculdade de Educação UERJ


‘Eu acho que é importante não se ver a mídia de uma forma maniqueísta. As pessoas devem tentar encontrar a qualidade na televisão que com certeza existe. O público generaliza muito quando julga a televisão.’


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Julita Lemgruber, diretora do Centro Estudos de Segurança e Cidadania


‘O programa tem um formato muito rápido, e como tem muitos convidados não dá tempo de dizer tudo. Um programa como esse deveria ter menos pessoas participando para poder aprofundar.’


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Celia Marques, esspecialista em Educação à Distância


‘O programa foi muito construtivo. O tema é importantíssimo, uma discussão muito importante. A televisão é um instrumento poderoso, que pode ter efeitos muito positivos, mas também pode contribuir para a degradação em todos os níveis. Espero que esse encontro [4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes] resulte em algo positivo para a sociedade.’