Em meio aos conflitos incessantes entre palestinos e israelenses, a organização Citizens Accord Forum, que reúne integrantes de ambos os lados, criou, no ano passado, um espaço de diálogo para aproximar judeus e muçulmanos. Distribuído com o diário israelense Haaretz e os semanários árabes Kul al-Arab e as-Senaara, o jornal trimestral Duet traz artigos que mostram aspectos das duas sociedades que não são conhecidos pela outra parte. Na verdade, grande parte dos jornalistas que contribuem voluntariamente para a publicação se concentram em mostrar os problemas de suas comunidades. Os judeus, por exemplo, são, em maioria, críticos de Ariel Sharon.
Um tema interessante levantado por Duet é a questão das mulheres palestinas. A jornalista árabe Yara Mashour, contribuiu com um artigo mostrando que a revista da qual é editora, a feminina Lilac, tem tratado de assuntos complicados como sexo sem ser considerada ameaçadora pelos homens, que até têm se tornado leitores também. Os israelenses tendem a acreditar que, devido a uma opressão cultural, as mulheres muçulmanas estão presas a valores de séculos atrás. ‘Isto simplesmente não está certo. As mulheres palestinas em Israel são pioneiras no mundo árabe. Enxergar que elas querem fazer parte da experiência israelense pode aumentar as perspectivas de coexistência’, raciocina Mordechai Kedar, professor da Universidade Bar Ilan, próxima a Tel-Aviv.
Mas Duet não cita apenas mudanças de postura por parte dos judeus como caminho para a pacificação. Artigo do jornalista árabe Salim Jubran mostra que os palestinos ainda têm um longo caminho a percorrer para desenvolver uma consciência cívica, livrando-se das amarras da lealdade a clãs e seitas. ‘Temos de nos fazer perguntas substanciais sobre nossas autoridades locais, governança falida, corrupção, atos ilegais e nomeações baseadas em partidos e famílias’, escreve Jubran. Segundo The Christian Science Monitor [14/4/04], Duet tem circulação de 170 mil exemplares, para uma população de 6,1 milhões de pessoas.