Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Carlos Heitor Cony

‘Um dos ossos do ofício de jornalista é a mania de considerá-los bem informados, com respostas para tudo. Ao longo do tempo, aprendi o macete de responder às perguntas com outra pergunta. É cômodo e dá a impressão de que a gente sabe mais do que os outros.

Outro dia, me perguntaram o que Lula vai fazer com o Brasil. Fiz um silêncio tático, para dar a impressão de um esforço mental. Respondi com outra pergunta: o que o Brasil fará de Lula?

Se ele fosse um ditador, deveríamos partir para a clássica mobilização democrática, que custa sangue, suor e lágrimas, e custa tempo, sobretudo, para nos livrarmos de um tirano. Não é o caso. Lula pode ser tudo, menos um tirano. Pelo contrário, é boníssima gente, boníssima alma, pai amoroso e marido exemplar, vivido e sofrido em lutas pela liberdade e pela justiça social.

Se fosse um governante corrupto, mais cedo ou mais tarde a sociedade, como um todo, repetiria o mesmo impedimento que nos livrou recentemente de uma administração federal cercada de escândalos.

Se fosse incompetente, os 16 meses de seu governo já o teriam desmoralizado de tal forma que o poder de fato estaria sendo exercido por outro homem, um regente, como nos tempos do Império, ou por um colegiado de notáveis, ou mesmo por um gabinete do tipo parlamentarista.

Acontece que Lula não é ditador, não é corrupto, não é incompetente. Mas continua patinando, falando muito e nem sempre bem, ainda não desencarnou de sua liderança oposicionista, promete um país que outros governantes não fizeram, promete até mesmo, por um vício de marketing das muitas campanhas eleitorais em que se meteu, um espetáculo de crescimento cada vez mais distante e improvável.

E aí surge a questão: não sabemos o que Lula poderá fazer com o Brasil. E sabemos menos ainda o que o Brasil ainda fará com ele.’



Milton Coelho da Graça

‘Sem metáfora, Roriz virou exemplo’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 22/04/04

‘A quem se destinou a ‘chupada de olho’ indireta quando o presidente Lula apontou como exemplo a ser seguido a publicidade feita pelo governo do Distrito Federal? O ministro Luis Gushiken, ministro da Comunicação, Duda Mendonça, o condestável da imagem, ou os dois?

Desta vez não houve metáfora, o presidente foi direto ao ponto e, como mencionou explicitamente a publicidade, excluiu da crítica o responsável pelo noticiário do Planalto, o repórter com roupa temporária de assessor Ricardo Kotscho, que tão bem nos explicou, em artigo que deveria ser lido por todos os profissionais de comunicação, ‘o que é notícia para o governo’.

E não só por isso agiu bem o Presidente. Mas também porque o governador Roriz, num país que afirma na Constituição a importância da liberdade de imprensa, parece ter uma visão diferente. Roriz, espertamente, sabe que os jornais brasilienses, além de aparecerem nos clippings recebidos por todos os poderes e lobbies da República, funcionam – como ocorre normalmente em todas as cidades – como out-doors bem espalhados e convincentes.

O Correio Braziliense, que, sob a direção de Ricardo Noblat e durante todo o mandato anterior de Roriz, manteve uma atitude independente diante do governo distrital, hoje é um porta-voz confiável do pensamento oficial e Noblat foi banido da família Associada.

Informações muito confiáveis obtidas junto a fontes que conhecem bem os temas e locais das conversas entre o governo distrital e os diretores de jornais locais ou sucursais de jornais nacionais asseguram que a conta da harmonia de pontos-de-vista atinge R$ 7 milhões mensais. O CB, por sua natural maior importância, asseguram essas fontes, merece a metade, enquanto o restante se divide entre o Jornal de Brasília, o Jornal da Comunidade (este tem distribuição gratuita) e o Jornal do Brasil, que lançou um caderno local e mantém reluzente embaixada na capital, sob o comando comercial de Paulo Marinho.

Os outros jornais nacionais, segundo essas mesmas fontes, só recebem o ouro de Brasília sob a forma de publicidade convencional.

Obrigado, Kotscho

A coluna de Ricardo Kotscho, respondendo, de forma democrática e transparente, a pergunta ‘O que é notícia para o governo?’, é uma dessas pequenas coisas que nos fazem acreditar sempre mais no Brasil e torcer para que o governo Lula dê certo.’