Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Dora Kramer

‘Nessa nova ofensiva de comunicação de governo protagonizada pelo presidente da República, o Planalto resolveu democratizar o entrevistado.

Da outra vez em que as pesquisas indicaram queda na popularidade, em agosto do ano passado, a operação limitou-se a um café da manhã com 10 jornalistas e a uma bem-produzida performance no Fantástico.

Agora, Luiz Inácio da Silva vai circular por vários programas de televisão, mas um de cada vez.

A Secretaria de Comunicação economizaria tempo e energia do presidente se convocasse uma entrevista coletiva, com a participação de todos os veículos e transmissão ao vivo. Como costumam fazer os chefes de nações democráticas.’



Daniel Castro

‘Jô Soares adia entrevista com Lula’, copyright Folha de S. Paulo, 23/04/04

‘A entrevista que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva daria na semana que vem ao apresentador Jô Soares, da TV Globo, foi adiada por tempo indeterminado. O motivo foi a ‘entrevista-churrasco’ que Lula concedeu anteontem a Carlos Massa, o Ratinho, do SBT.

‘Ontem [anteontem] à noite mesmo nós adiamos essa entrevista’, afirmou Jô ontem à tarde. ‘Como fazer um programa inteiro se o presidente deu uma entrevista exclusiva para outra emissora dias antes?’

A entrevista ao ‘Programa do Jô’ seria gravada na quarta-feira que vem, no Palácio do Planalto, e exibida no mesmo dia.

A decisão de adiar a entrevista com o presidente foi do próprio Jô Soares, que afirma ter total independência sobre seu programa. ‘Não houve interferência da Globo. Perguntar isso me ofende’, disse o apresentador.

O encontro de Lula com Ratinho foi na Granja do Torto e durou cerca de cinco horas, sendo três horas só de gravação. Segundo a assessoria do apresentador, o presidente atendeu a um convite de um ‘amigo’.

A entrevista conduzida por Ratinho, segundo ele próprio, só deve ir ao ar na próxima sexta-feira. Se isso for cumprido, Jô Soares exibiria a sua antes do concorrente popular. Mas na Globo muita gente duvida da palavra de Ratinho. Desconfia-se que o SBT possa antecipar a exibição.

Jô Soares afirma que não foi o fato de Ratinho ter feito a entrevista antes, independentemente de exibi-la depois, que influenciou sua decisão de adiar o encontro com Lula.

‘Não é porque o Ratinho fez antes. É por causa da proximidade. Não tem sentido fazer uma entrevista em cima da outra’, disse.

A última vez em que Lula foi entrevistado por Jô Soares foi em maio do ano eleitoral de 2002, ainda como pré-candidato do PT à Presidência.

Já no segundo turno da campanha, o apresentador convidou o petista para um debate com o concorrente, José Serra (PSDB). O candidato tucano aceitou, mas o debate teve que ser cancelado porque Lula não respondeu ao convite de Jô Soares.

Agora o presidente volta a querer espaço na mídia. Com o caso Waldomiro Diniz esfriando, ele tenta se expor mais com o objetivo de reverter a queda da popularidade do seu governo.’

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‘Entrevista opõe Planalto e Jô Soares’, copyright Folha de S. Paulo, 24/04/04

‘O secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República, Ricardo Kotscho, disse ontem que a decisão de adiar entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Jô Soares, da Globo, foi tomada em comum acordo entre o apresentador e o Planalto. Soares nega.

A entrevista estava marcada para a próxima quarta-feira, em Brasília, e seria exibida no mesmo dia. Mas o fato de Lula ter dado uma entrevista antes, na última quarta, a Carlos Massa, o Ratinho, do SBT, irritou Jô Soares. A entrevista de Ratinho deve ir ao ar somente no dia 30, próxima sexta.

‘Conversei com o Jô na quarta-feira e chegamos à conclusão de que era melhor marcar outra data, para não haver duas entrevistas na mesma semana’, afirmou o secretário em uma primeira entrevista à Folha.

Jô Soares contesta o secretário. ‘Cada um interpreta como quiser. Na minha interpretação, fui eu quem ligou para o Kotscho dizendo que a entrevista seria adiada’, disse. E foi irônico: ‘Continua me intrigando o hábito da assessoria do presidente de marcar entrevistas exclusivas para duas pessoas ao mesmo tempo’.

Informado da declaração de Soares, Kotscho admitiu numa segunda conversa que a iniciativa de adiar a entrevista partiu do apresentador da Globo. Ele negou que seja um hábito marcar entrevistas exclusivas a veículos diferentes em curto espaço de tempo. Afirmou que Ratinho teve prioridade porque pediu a entrevista antes, há cerca de um mês.

O secretário também disse que ‘não existe uma estratégia de colocar o [presidente] Lula na TV’. ‘A gente atende a pedidos.’

Kotscho informou que o presidente irá conceder em breve uma entrevista coletiva à imprensa no Palácio do Planalto. Será a primeira vez que isso ocorre no Brasil desde que Lula assumiu a Presidência, em janeiro de 2003.’

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‘A Ratinho, Lula diz que adubou e vai colher’, copyright Folha de S. Paulo, 22/04/04

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou ontem em Brasília -no feriado de Tiradentes- uma ofensiva nos meios de comunicação a fim de tentar reverter a crise política e a queda de popularidade do seu governo.

Ontem à tarde, ele recebeu na Granja do Torto o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, a quem afirmou que fazer greve contra o governo é ‘inútil’ e prometeu que começará a ‘colher em junho o que plantou’, numa reedição agrária da promessa de espetáculo do crescimento, previsto para julho do ano passado.

O encontro -uma entrevista-churrasco- durou cerca de cinco horas, das 11h às 16h e foi registrado por seis câmeras do SBT. O material -foram três horas só de gravação-deverá ir ao ar em um programa especial no 30 de abril.

Pela manhã, em gravação especial do seu ‘Café com o Presidente’, programa quinzenal veiculado em rede de rádio, anunciou medidas antigas que até hoje não saíram do papel, como o ‘Farmácia Popular’ e crédito a juros baixos para aposentados.

O presidente também tem agendada para a semana que vem participação no ‘Programa do Jô’, de Jô Soares, da Globo. A Folha apurou que os convites das emissoras a Lula vêm desde o início do ano, mas só agora, com o arrefecimento do caso Waldomiro Diniz, sentiu-se à vontade para aceitá-los.

No caso do Ratinho, a assessoria disse que Lula atendeu a um convite de um ‘amigo’. A ofensiva na mídia ocorre num momento em que o governo enfrenta uma série de greves no funcionalismo, onda de invasões do MST e cobranças por um salário-mínimo maior.

Participação especial

A entrevista de Ratinho com o presidente teve a ‘participação especial’ da dupla sertaneja Bruno e Marrone, que cantou para e com o presidente. A princípio, o encontro teria a presença do cantor Leonardo (que com o irmão, Leonardo, foi um dos símbolos da Era Collor, com o hit ‘Pense em Mim’). Mas Leonardo não pôde ir, por problemas de agenda.

Bruno e Marrone tornaram-se conhecidos publicamente pela música ‘Dormi na Praça’, cujo refrão diz: ‘seu guarda, eu não sou vagabundo, não sou delinquente/ sou um cara carente’.

Segundo Ratinho, a entrevista ocorreu em um clima de ‘alto astral’, sem formalidades. As conversas foram captadas durante uma caminhada e durante um almoço. Na edição, serão pontuadas com músicas da dupla.

Segundo Fábio Furiatti, diretor-geral do ‘Programa do Ratinho’, no almoço foram servidos churrasco, arroz, feijão tropeiro, salada, molho vinagrete e mandioca, acompanhados de água e Coca-Cola. De sobremesa, pudim de leite. Participaram do encontro a primeira-dama Marisa Letícia, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o assessor especial José Graziano, o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e o deputado estadual do Paraná Carlos Ratinho Junior, filho de Ratinho.

Segundo Ratinho, a entrevista começou a ser arquitetada há um mês, num café-da-manhã com Lula. ‘Pedi uma força para o programa, uma entrevista exclusiva’, disse o apresentador, que se tornou amigo de Lula pouco antes da campanha presidencial de 2002.

Ratinho afirma que perguntou de tudo ao presidente. ‘Ele está muito otimista. Falou que arou a terra no primeiro ano [de governo], jogou adubo, plantou no começo deste ano e começa a colher em junho’.

Também conversou com Marisa. ‘Perguntei se tinha ciúme do presidente. Falou que não’.

Na próxima quarta, Lula deve dar entrevista em Brasília para Jô Soares. Segundo Soares, o material deve ser exibido no mesmo dia. Ratinho, que só deve levar seu material ao ar dois dias depois, diz não ter medo de ser furado pelo concorrente, que tem outro público. ‘Nossas perguntas são melhores do que as dele [Jô]’, provocou.

Café com presidente

No programa de rádio, Lula disse que o Ministério da Previdência deve anunciar nos próximos dias a criação de uma linha de financiamento para aposentados a juros mais baixos em relação ao mercado. A medida já fora anunciada em setembro de 2003.

Lula falou sobre salário mínimo, cujo novo valor deve ser definido nos próximos dias e entrará em vigor em maio. ‘Estamos preparando as bases para que a gente possa cumprir os nossos compromissos e dobrar o poder aquisitivo do salário mínimo. Agora, enquanto essas coisas não acontecem, vamos criar mecanismos para facilitar a vida do aposentado.’’

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‘Ele está otimista, diz apresentador’, copyright Folha de S. Paulo, 22/04/04

‘Carlos Massa, o Ratinho, falou com a Folha ontem à tarde, em Brasília, pouco antes de embarcar de volta para São Paulo. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Folha – Você está ficando importante, almoçando com o presidente?

Ratinho – Ah, eu sou chique [risos].

Folha – Como foi o encontro?

Ratinho – Foi uma conversa boa. O Lula sempre foi meu amigo antes de ser presidente. Faz tempo que ele está me cobrando: ‘Pô, vem aqui almoçar?’. Eu falei: ‘Eu vou almoçar aí, mas você tem que deixar eu gravar umas perguntas para colocar no programa’. Aí ele deixou eu gravar, várias perguntas. Fizemos um programa na casa dele, muito bom.

Folha – O que Bruno e Marrone foram fazer?

Ratinho – Há muito tempo eles tinham pedido para eu levá-los junto no encontro com o Lula. Eu chamei e eles foram.

Folha – O que você perguntou para Lula e o que ele respondeu?

Ratinho – Perguntei não sobre uma coisa específica. Falamos muito sobre emprego, desenvolvimento, sobre o que ele vai fazer na saúde, perguntei por que ele viaja tanto. Ele está muito otimista. Acha que, no linguajar dele, ele arou a terra, jogou adubo e agora começa a colher. Falou que arou a terra no primeiro ano, jogou adubo, plantou no começo deste ano e começa a colher em junho.

Folha – Isso é um novo ‘espetáculo do crescimento’?

Ratinho – Não sei se ele chama isso de ‘espetáculo do crescimento’. Disse que a gente tem de entender que ninguém pega uma lavoura e já começa colhendo, que primeiro tem de se plantar. Que ele pegou um país com muita dificuldade, que tem sérios problemas que ele não vai resolver em 500 dias porque levaram 500 anos para estragar. Ele falou ainda que a burocracia atrapalha muito, que prejudica a tomada de decisão.

Folha – E sobre as viagens?

Ratinho – Ele disse que, a partir do momento em que começou a viajar, o Brasil começou a abrir novos espaços para exportação.

Países do Oriente Médio, que não compravam nada do Brasil, já estão comprando bastante. O presidente Lula acha que o momento é de os países em desenvolvimento, que têm os mesmo problemas, sentar e criar uma nova linha de comércio.

Folha – O que ele falou do desemprego?

Ratinho – Falou que o Brasil precisa se desenvolver, do Primeiro Emprego, que agora está saindo do papel, falou do Fome Zero, que até o final do ano já terá 5 milhões de pessoas atendidas pelo Bolsa-Família, que ele acha o melhor programa. Falou de saúde bucal, que não quer ver nenhuma criança com problema na boca e nenhum adulto com dentadura. Falou que quer consertar a boca do brasileiro.

Folha – O que mais?

Ratinho – Ele falou que as pessoas que estão fazendo greve sabem que o governo não pode dar mais do que já deu, que essas greves são inúteis. É como se uma criança pedisse ao pai um caminhãozinho a motor, mas o pai é operário e não consegue dar o brinquedo. Então ele vai se contentar com um sem motor.

Uma coisa que senti que o presidente Lula está meio magoado é que tem muito programa do governo federal, que ele dá dinheiro, e que os governadores colocam que é só do Estado. Dá a impressão de que o governo federal não está fazendo nada.’

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‘Empresário de sucesso, Ratinho já apoiou Collor’, copyright Folha de S. Paulo, 22/04/04

‘Aos 48 anos, Carlos Massa, o Ratinho, de origem humilde como o presidente Lula, é hoje empresário muito bem-sucedido, graças à TV, que impulsiona seus negócios. Fatura cerca de R$ 4 milhões por mês, tem um salário de R$ 600 mil no SBT, 19 fazendas, cerca de 25 mil cabeças de gado e marcas de rações, café, cerveja e tintas.

Ratinho foi deputado federal pelo Paraná. Elegeu-se em 1989 pelo PRN de Fernando Collor, a quem deu sustentação. Entrou em rede nacional de TV em 1996, com o policialesco ‘190 Urgente’, na então CNT-Gazeta. Depois foi para a Record, onde estourou no Ibope, chegando a bater a Globo. Desde 1998, está no SBT.

A média de audiência do programa, que já foi superior a 20 pontos, hoje está na casa dos 8, 9, exceto às quartas-feiras, quando a audiência dobra. Cada ponto equivale a 48 mil domicílios na Grande São Paulo.

Já Vinícius Félix de Miranda e José Roberto Ferreira -nomes verdadeiros da dupla Bruno e Marrone, respectivamente- iniciaram a carreira há 18 anos em Goiânia (GO). Antes de formarem a dupla, Bruno era farmacêutico e Marrone trabalhava na roça.

A dupla tem mais de 11 álbuns gravados, e afirma ter vendido, até hoje, mais de 6 milhões de cópias.’

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‘Tucanos também foram a programas’, copyright Folha de S. Paulo, 22/04/04

‘Os programas populares de televisão têm sido, de maneira cada vez mais comum, uma das vitrines preferidas dos políticos brasileiros, independentemente do partido ou da orientação ideológica que seguem.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, freqüentou, na noite da última segunda-feira, o sofá da apresentadora Hebe Camargo, do SBT. Estava acompanhado da primeira-dama Lu Alckmin.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, outro tucano, também não se negou a aparecer na televisão. Ele e seu ministro da Educação, Paulo Renato, foram, em 2001, ao programa ‘Alunos Nota 10’, também do SBT, entregar um diploma ao vencedor da competição entre alunos do ensino médio.

Também em 2001, o apresentador Silvio Santos esteve à frente de uma aparição em massa de políticos na TV, no ‘Show do Milhão’ especial, que contou, entre outros, com a presença do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (PP), e do então governador e hoje secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho (PMDB).

O mesmo ocorreu com o ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB). Em 2001, ainda ministro, participou dos programas de Luciana Gimenez (Rede TV!), Gugu Liberato e Ratinho (SBT). Durante a campanha presidencial de 2002, voltou aos dois últimos.

Já a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), falou sobre sua administração durante 52 minutos a Luciana Gimenez, no ano passado. Dias antes, havia participado do ‘Boa Noite, Brasil’, de Gilberto Barros, na Bandeirantes. Em 2001, ela e o senador Eduardo Suplicy (PT) foram ao encerramento da ‘Casa dos Artistas’, do SBT. O filho Supla era finalista.’