Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica não deve ignorar TV trash, dizem especialistas

Se você não aguenta ler nem mais uma linha sobre o BBB 12, é melhor dar um tempo da internet. O burburinho virtual, no entanto, é menor para Dercy de Verdade, minissérie que foi vizinha do reality show na grade da Globo nesta semana. “Qual dos programas você acha que vai ser mais ‘analisado’ pelos ‘críticos de plantão’?”, indagou Zeca Camargo em seu blog na semana passada.

Segundo ele, a internet abriga contingente excessivo de “críticos de plantão”, dispostos a “papagaiar o próprio universo trash que a maioria das atrações que atraem algum público oferece”. Para essa categoria, avalia o jornalista, contam mais os cliques gerados por uma polêmica do que a qualidade do que é dito.

A Folha ouviu jornalistas que cobrem televisão para repercutir as ponderações de Camargo. Colunista e crítica de TV do jornal O Globo, Patrícia Kogut diz que “se a crítica se dedicasse apenas aos programas de qualidade, estaria prestando um desserviço ao público porque é nossa função também apontar o que não é bom”. Zeca concorda. “Só acho que a balança está [pesando] para o outro lado.”

“Experiências que exigem reflexão”

O colunista do F5 Tony Goes afirma que “não é demérito algum querer ser lido”. Ele conta que, recentemente, pôs a palavra “sexo” no título de um texto sobre a série American Horror Story ciente de que isso seria um ímã de cliques. “É nosso trabalho. Não acho que isso seja roubar no jogo. O que acho ruim é a sua opinião não ser verdadeira.”

Em seu blog, o crítico do portal UOL Mauricio Stycer ressaltou que também a TV hierarquiza sua programação de olho na audiência. Não à toa, BBB vai ao ar antes de Dercy, exemplifica. “O problema é a falta de coragem, ousadia e inventividade que domina a maior parte das cabeças no comando [das TVs].” A escritora Vanessa Barbara, colunista de TV da Folha, põe em xeque a própria ideia do que é bom ou não. “Acho ruins o Globo Repórter, o SPTV, as novelas. Porque subestimam o espectador tanto quanto os outros – só que com um verniz de ‘padrão de qualidade’”, afirma.

Stycer acredita que o papel do crítico seja “destacar experiências que exigem reflexão”, em vez de “subestimar o público”. Mas essas experiências, lamenta ele, são hoje artigo raro na TV.

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[Anna Virginia Balloussier, da Folha de S.Paulo]