Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Agora é caso de polícia

 

A semana começou quente nos bastidores da Globo, no próprio programa Big Brother Brasil, e nos assuntos publicados e comentados na mídia e nas redes sociais a respeito do suposto estupro ocorrido dentro de um dos quartos do programa. Cabe aqui ressaltar, de antemão, que, nos últimos sete anos, desde a 5ª edição do BBB, o reality show tem perdido audiência nacional por conta do nada agradável e muito menos familiar conteúdo que a Globo insiste em exibir pela 12ª vez. A emissora carioca tentou, nesta últimas sete edições, alavancar a todo e qualquer custo a audiência, mas nada foi suficiente para melhorar a performance do programa de Boninho.

Agora, o reality show menos educativo e mais apelativo da TV brasileira virou caso de polícia, quando agentes do 32º DP do Rio de Janeiro foram até a “casa” colher depoimentos e, enfim, fazer a parte que lhes é cabível. O ocorrido é que o participante Daniel supostamente abusou de uma participante que estaria desacordada após beber umas e outras numa das habituais festas de sábado.

Aliás, não seria nada mau a polícia solicitar o encerramento deste programa, ao menos enquanto as investigações fossem realizadas. Tenho certeza que estariam prestando um ótimo serviço público à sociedade, permitindo à Rede Globo utilizar de seu valiosíssimo espaço para transmitir programas de alto nível e qualidade, como foi a série Dercy, como são as grandes minisséries produzidas – e, quem sabe, um programa de informação em horário mais do que nobre.

Repercussão negativa

Não seria surpresa a Globo se tornar culpada pelo ocorrido, já que de acordo com o § 2º do Art. 13 do Código Penal, “a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”. Não sou advogado, mas cabe ressaltar que, se a produção do programa não quisesse danos à imagem do BBB, poderia ter evitado o ocorrido. Mas quem o queria (ou deveria) evitar, se toda vez que um casal vai para debaixo do edredom, no dia seguinte estampa todas as capas de revista, jornais, sites e vira assunto nos mais variados meios tradicionais, eletrônicos e digitais?

Voltando ao assunto primordial deste texto, deixo no ar o seguinte questionamento: será que isso tudo estava no roteiro do Big Brother Brasil 12? Por que não poderia estar? Afinal, dá para acreditar que ali realmente existe algum tipo de show da realidade da vida? Voltando a ressaltar o início deste artigo, a audiência do programa tem tido uma queda nos últimos anos. Na TV, vale tudo pela audiência, é um cabo de guerra sem igual, sem força nem tamanho. Apelar para a atenção do público não é uma das novidades da televisão brasileira; tem sido praticado há tempos. Se o episódio não foi armado para alavancar a audiência, tudo bem, afinal acredito que a polícia carioca tem muito mais com o que se preocupar. Mas que, no mínimo, os comentários em volta do BBB e deste episódio repercutiram, isso ninguém pode negar. De fato, o problema ganhou uma repercussão um tanto negativa para a imagem do programa, e com uma dúvida: é algo que fugiu às regras do padrão Globo de qualidade e, quiçá, do controle de Boninho?

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[Hans Misfeldt é jornalista e empresário]