‘A derrota moral mais devastadora que os americanos tiveram no Vietnã foi a revelação de que um jovem tenente de infantaria chamado William Calley comandara na aldeia de My Lai um massacre em que 500 civis vietnamitas foram mortos. O crime ocorreu em 1968, mas Calley só foi à corte marcial dois anos depois, quando, então, foram revelados os detalhes pavorosos da história. O mais chocante dava conta que um bebê saiu engatinhando de uma pilha de cadáveres no centro da aldeia. Calley tirou sua pistola, encostou-a na cabeça do bebê, disparou e o jogou de volta ao amontoado de corpos. O tenente foi condenado a dez anos de prisão, dos quais cumpriu apenas quatro, sendo colocado em liberdade condicional em 1974. Para muitos analistas, o episódio de My Lai foi a gota d’água no front interno, onde a administração já vinha perdendo a guerra havia vários anos. Na semana passada, a opinião pública americana foi apresentada a um episódio que, embora menos cruento, pode ter sobre a avaliação da guerra no Iraque o mesmo efeito produzido pelo massacre no Vietnã. A rede de televisão americana CBS exibiu em horário nobre imagens de prisioneiros iraquianos sendo torturados e humilhados por soldados americanos.
As imagens foram feitas em novembro e dezembro no presídio de Abu Ghraib, em Bagdá. O impacto de ver soldados americanos, entre eles oficiais mulheres, foi ainda maior por causa do cenário do crime. Abu Ghraib é a cadeia-símbolo da crueldade do regime do ditador deposto Saddam Hussein. Nas semanas que se seguiram à tomada de Bagdá, no ano passado, os americanos trataram de expor ao mundo os horrores ocorridos no Iraque durante duas décadas de ditadura de Saddam Hussein. Filmadas e fotografadas em detalhes, as cicatrizes deixadas pelas sessões de tortura nos sobreviventes e as valas coletivas com os corpos dos assassinados nas prisões serviram como provas convincentes de que os Estados Unidos tinham libertado o povo iraquiano de um pesadelo. Em Abu Ghraib, Saddam executava anualmente cerca de 6.000 presos, em alguns casos com a utilização de métodos de uma perversidade aterradora. Incluíam uma máquina trituradora e a imersão em óleo fervente. Em setembro do ano passado, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, visitou Abu Ghraib para ver com os próprios olhos as câmaras de tortura. O complexo nos arredores de Bagdá tinha então se tornado local de detenção para iraquianos capturados pelas tropas americanas.
As fotografias divulgadas na semana passada mostram prisioneiros iraquianos quase sempre nus, exceto por um capuz enfiado na cabeça. Numa foto, um iraquiano é mantido em pé sobre uma lata, com fios atados em suas mãos. É um método conhecido de tortura, que em pouco tempo provoca dores terríveis nos braços e nas pernas. De acordo com a CBS, o preso permaneceu por um longo tempo sobre a lata, avisado que seria eletrocutado se colocasse os pés no chão. Fotos e gravações em vídeo mostram prisioneiros nus ajoelhados uns sobre os outros para formar uma pirâmide humana. Outra imagem é a de iraquianos obrigados a simular que estão fazendo sexo oral em colegas. Muitas fotos mostram guardas americanos rindo despreocupadamente. Uma soldada ironiza os detentos nus apontando sarcasticamente para seus genitais. Em outra imagem um cão de guarda ataca um preso iraquiano.
A divulgação das imagens de torturas praticadas por soldados americanos foi devastadora para a Casa Branca. Desde que se comprovou que as armas de destruição em massa que Saddam teria simplesmente não foram encontradas, o governo americano se agarrou na justificativa de que a invasão do Iraque serviu para libertar o povo iraquiano da repressão desumana de Saddam Hussein. É difícil sustentar essa tese quando as tropas de ocupação enfrentam uma rebelião popular em várias cidades iraquianas e surgem evidências de que os libertadores torturam e humilham prisioneiros. ‘O tratamento dado aos prisioneiros não reflete a natureza do povo americano. Não é assim que fazemos as coisas nos Estados Unidos’, disse o presidente George W. Bush, que se disse ‘profundamente desgostoso e desapontado’ com a revelação. O general-brigadeiro Mark Kimmitt, comandante do teatro de operações no Iraque, sentiu-se traído: ‘Que eu tenha colegas de farda capazes de fazer essas coisas me deixa arrasado. Eles violaram todos os códigos de ética e dignidade dos verdadeiros combatentes americanos’.
As denúncias de torturas em Abu Ghraib são antigas, mas foi preciso aparecerem as imagens para o governo americano se sentir na obrigação de fazer alguma coisa para deter os torturadores. Ex-detentos, libertados no ano passado, reclamaram de espancamentos e punições, como a permanência de horas sob o sol e tortura psicológica que incluía ouvir música em volume elevado dia e noite. As investigações mostram a falta de regras claras para os soldados americanos destacados para cuidar dos presos em Abu Ghraib e também inesperadas falhas na escala de comando. A rede de televisão CBS admitiu que relutou em divulgar as imagens porque sofreu muita pressão do Pentágono para não fazê-lo. A denúncia surgiu num momento em que o apoio à guerra está em queda e confirma um fenômeno já bem estudado: a guerra pode despertar os melhores sentimentos de um ser humano. Em geral, contudo, o que se vê é a eclosão do lado negro da soldadesca. A diferença é que quando isso ocorre numa democracia o sistema se eleva acima das diferenças e do poder militar e age para punir os responsáveis e encontrar fórmulas de evitar que a tortura se repita. Do ponto de vista formal, o Pentágono agiu com correção. Seis soldados vão enfrentar a corte marcial por maus-tratos a prisioneiros. Outros quatro receberão uma punição disciplinar. Sete oficiais vão receber o mesmo tratamento, porque os soldados em questão informaram que o tratamento dispensado aos prisioneiros recebia o apoio dos oficiais. A general Janice Karpinski, que comandava a polícia militar e era responsável pelos centros de detenção, foi despachada de volta aos Estados Unidos, mas o dano na opinião pública não se dissipará pela mera punição dos envolvidos.’
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‘No estilo Dr. Fantástico’, copyright Veja, 4/05/04
‘Os Estados Unidos têm soldados em dois conflitos armados, no Iraque e no Afeganistão, e ainda travam uma guerra sem fronteiras contra o terrorismo. Essas três frentes são prioridade na estratégia de defesa da superpotência desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Nem por isso o governo de George W. Bush descuidou-se do arsenal nuclear americano. Só neste ano, os gastos com manutenção, modernização, pesquisa e produção de ogivas e mísseis nucleares chegam a 6,5 bilhões de dólares. O valor parece pequeno diante do orçamento anual do Pentágono, de 420 bilhões de dólares, mas representa 55% mais que os gastos médios anuais dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Para 2005, o presidente George W. Bush solicitou ao Congresso um aumento dessa verba para 6,8 bilhões de dólares. Os dados constam de um relatório divulgado na semana passada por Christopher Paine, especialista em armas nucleares do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, com sede em Nova York.
A pergunta óbvia é por que os Estados Unidos gastam agora com armas nucleares mais do que o presidente Ronald Reagan na década de 80, na Guerra Fria? Seria de esperar que a corrida nuclear tivesse o ritmo abrandado com o fim da União Soviética, em 1991. ‘Ao continuar investindo no arsenal, Bush criou um novo conceito de dissuasão: intimidar os países que mantêm grandes arsenais nucleares e que, em tese, representam um risco para os Estados Unidos, como a Rússia e a China’, disse Paine a VEJA. A pressão também serve para conter os inimigos menores que desenvolvem tecnologia nuclear, como a Coréia do Norte e o Irã. A atual gastança com o arsenal não inclui o projeto do escudo antimíssil. O programa prevê a criação de um sistema de defesa interligado por satélites cujo objetivo é detectar e destruir os mísseis inimigos no ar, antes que possam causar dano. O projeto, ainda em fase inicial, pode custar 300 bilhões de dólares nos próximos dez anos.’
Folha de S. Paulo
‘Horror E Crítica’, Editorial copyright Folha de S. Paulo, 30/04/04
‘‘Nós não torturamos pessoas na América’, disse o presidente George W. Bush numa entrevista à TV australiana em 18 de outubro de 2003. Se o presidente norte-americano pode assegurar que esse é o procedimento que vigora no país, há indícios de que norte-americanos têm recorrido a métodos condenáveis de tratamento de prisioneiros no Afeganistão, em Guantánamo (Cuba) e no Iraque.
A divulgação, pela rede de televisão CBS, de fotos supostamente tiradas por soldados americanos de iraquianos sendo torturados na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá, confirma o que já se receava: que a tortura é um dos métodos pelos quais as tropas dos EUA estão extraindo informações de prisioneiros. Suspeitas semelhantes já foram levantadas em relação a detidos no Afeganistão e na base de Guantánamo.
No caso do Iraque, as suposições ganham materialidade com investigações do próprio Exército que levaram à exoneração de 17 militares apontados como envolvidos, dos quais seis deverão ser julgados.
É verdade que não existem guerras isentas de episódios de brutalidade. Nada, porém, justifica a tortura de pessoas aprisionadas pelas Forças Armadas dos EUA e, com isso, colocadas sob a guarda do Estado norte-americano. Ainda que essa não seja, obviamente, a política oficial de Washington, preocupa a multiplicação de casos de ex-detentos relatando ter sofrido maus-tratos. Lamentavelmente, há motivos para suspeitar que muitos comandantes tolerem atitudes mais violentas de suas tropas, principalmente quando elas resultam em informações valiosas.
Desse deplorável quadro de guerra e tortura emerge uma boa notícia. Os meios de comunicação norte-americanos parecem estar acordando da letargia a que foram levados após os ataques de 11 de Setembro e começam a questionar, ainda que de modo desigual, decisões e políticas do governo Bush. Pode-se falar mesmo numa certa impaciência demonstrada por setores da mídia, que vão se irritando, por exemplo, com a tentativa da Casa Branca de vetar imagens de caixões de soldados mortos no Iraque.
Vale frisar que isso tudo ocorre ao lado dos trabalhos da comissão independente que investiga possíveis erros de atuação do governo para prevenir os ataques terroristas de 2001 e de notícias sobre a piora da situação de segurança no Iraque. Como é natural, vai caindo o apoio da população dos EUA à guerra. Pesquisa CBS News/New York Times divulgada anteontem mostra que 47% dos norte-americanos acham que foi correta a decisão de invadir o Iraque. Há um ano, 70% apoiavam a ação. Esse descontentamento pode, é óbvio, produzir efeitos sobre a disputa eleitoral pela Casa Branca.
Seja como for, é preciso saudar a nova disposição da mídia. Depois de mais de dois anos e meio de docilidade em relação à Casa Branca, vai ressurgindo algo do espírito crítico que deve ser a marca da imprensa livre.
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‘Bush e Blair se dizem chocados com tortura’, copyright Folha de S. Paulo, 1/05/04
‘O presidente dos EUA, George W. Bush, disse ontem estar ‘profundamente enojado’ pelas fotos que mostram soldados americanos torturando prisioneiros iraquianos. No Reino Unido, um porta-voz do governo declarou que o primeiro-ministro Tony Blair afirmou estar ‘horrorizado’ com as imagens divulgadas pela rede de TV CBS.
Também ontem, o jornal ‘Daily Mirror’ divulgou novas fotos de violência contra iraquianos. Nesse caso, porém, segundo o jornal, elas foram cometidas por soldados britânicos.
Nas fotos exibidas pela CBS na quarta-feira, soldados aparecem obrigando iraquianos nus a simular atos sexuais. Em uma delas, um prisioneiro está com fios elétricos presos em suas mãos. As imagens foram feitas no final de 2003, na prisão de Abu Ghraib, próxima de Bagdá.
‘Não gostei nem um pouco. Mas também quero lembrar que aquelas poucas pessoas que fizeram isso não refletem a natureza dos homens e mulheres que mandamos ao exterior. Haverá uma investigação. Acho que vão tomar conta deles’, afirmou Bush.
Em 20 de março, o Exército anunciou que seis soldados iriam ser acusados por crimes cometidos em Abu Ghraib. Ao todo, 17 militares foram afastados devido à descoberta das fotos.
O comando militar está avaliando se tomará medidas contra a general Janis Karpinski, que chefiava a prisão na época em que as fotos foram feitas -acredita-se que elas foram tiradas por soldados que participaram das ações. Se for punida, ela poderá perder seu posto de comando, deixar de ser promovida ou ainda receber uma carta de reprimenda.
O general Mark Kimmitt, vice-chefe de operações americanas no Iraque, disse que os EUA decidiram transferir o comandante da prisão de Guantánamo, general Geoffrey Miller, para o Iraque, onde ficará encarregado das prisões da coalizão. Organizações de defesa dos direitos humanos já protestaram contra o tratamento dado aos ‘combatentes inimigos’ mantidos em Guantánamo.
O porta-voz de Blair disse que as imagens são ‘lamentáveis’ e ‘pressupõem uma infração clara da política de atuação da coalizão’. Por outro lado, autoridades militares britânicas confirmaram que estão investigando novas denúncias de abusos. O ‘Daily Mirror’ publica na edição de hoje um militar urinando em um iraquiano. O preso foi espancado e teve seus dentes quebrados por soldados britânicos.
O Ministério da Defesa do Reino Unido informou ontem que o comando militar está avaliando se vai processar oito soldados por um outro caso de abuso, denunciado em maio do ano passado.
Um porta-voz do secretário-geral da ONU informou que Kofi Annan estava ‘profundamente perturbado’. A Anistia Internacional disse que os abusos revelados ‘não são um incidente isolado’. A Cruz Vermelha afirmou que as fotos são ‘perturbadoras e preocupantes’.
A exibição das imagens foi parar nas manchetes de jornais de todo o mundo anteontem, gerando uma grande onda de indignação. A rede árabe de TV Al Jazira disse que as fotos documentam as ‘práticas imorais’ das forças de ocupação. A rede concorrente Al Arabiya afirmou que as imagens mostram a ‘selvageria’ dos soldados americanos.
Apesar de as fotos terem sido divulgadas em primeira mão pela CBS, a imprensa americana não repercutiu sua exibição com a mesma intensidade observada na mídia internacional. Antes de a Casa Branca se manifestar, as cadeias de TV, com a exceção da CBS, deram pouca ou nenhuma atenção ao caso.
Ainda que os envolvidos na tortura dos iraquianos sejam punidos, os danos causados à imagem dos EUA no Oriente Médio serão imensos. ‘Isso vai aumentar entre os iraquianos o sentimento de insatisfação com os americanos. A resistência vai tentar explorar esses incidentes dolorosos’, disse Mahmoud Othman, membro do Conselho de Governo Iraquiano.’
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‘Afiliada boicota programa sobre mortos’, copyright Folha de S. Paulo, 30/04/04
‘Uma empresa de radiodifusão que possui afiliadas da rede nacional ABC em oito Estados americanos se recusou a transmitir um programa com imagens dos soldados americanos mortos no Iraque, alegando que ele se baseia numa ‘agenda política’.
O ‘Nightline’, um dos principais noticiários da ABC, desta noite será dedicado exclusivamente aos mais de 700 americanos mortos na guerra. Suas imagens e uma pequena descrição de suas funções, serão exibidas ao longo do programa enquanto um locutor lê seus nomes.
Mas o Sinclair Broadcast Group, que possui afiliadas da rede em cidades como Saint Louis (Missouri) e Tallahasse (Florida), não retransmitirá o especial.
‘A decisão parece ter base numa agenda política estabelecida para corroer os esforços dos EUA no Iraque’, diz o comunicado do SBG. ‘Esse suposto tributo é um esforço para destacar só um aspecto do esforço bélico e, assim, influenciar a opinião pública.’
O ‘Nightline’ definiu o programa como ‘uma manifestação de respeito em honra dos que deram a vida pelo país’.
Tortura
Autoridades dos EUA anunciaram que tomarão medidas severas contra 17 militares envolvidos em tortura de iraquianos, já afastados. O ‘60 Minutes’, um dos programas de maior audiência dos EUA, exibiu as fotos de tortura anteontem. Segundo fontes militares, seis dos acusados poderão enfrentar corte marcial.
‘Francamente, todos estamos muito decepcionados com as ações de uns poucos’, disse o general Mark Kimmitt, porta-voz do comando militar no Iraque. Com agências internacionais’
O Estado de S. Paulo
‘Fotos de presos torturados revoltam árabes’, copyright O Estado de S. Paulo, 2/05/04
‘Árabes de vários países, chocados com as fotos de prisioneiros iraquianos torturados e maltratados por soldados americanos no Iraque, acusaram ontem os EUA de terem diferentes padrões para direitos humanos.
Alguns disseram que o fato vai aumentar o apoio aos extremistas islâmicos.
As fotos mostram iraquianos nus, empilhados uns sobre os outros, soldados rindo deles e os humilhando. Numa outra, publicada num jornal britânico, aparece um soldado britânico urinando em um prisioneiro iraquiano.
‘O Escândalo’ foi o título de primeira página do jornal egípcio Akhbar el-Yom. ‘Vergonha’ foi a manchete de seu concorrente, Al-Wald. As fotos foram divulgadas pela TV americana CBS na quarta-feira à noite, mas só ontem foram publicadas pelos diários árabes porque sexta-feira é o dia muçulmano do descanso. ‘Como eles podem convencer-nos de que são o bastião da democracia, liberdade e direitos humanos?’, indagou o egípcio Mustafa Saad.
Ontem, o diário The New York Times informou que a Agência Central de Informações (CIA) também investiga abusos de seus agentes contra prisioneiros no Iraque. O governo britânico anunciou que a investigação em andamento sobre os abusos de soldados será independente. (Reuters e AP)’
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‘TV americana mostra retrato de todos os mortos’, copyright O Estado de S. Paulo, 2/05/04
‘O âncora do programa Nightline, da rede de TV americana ABC, Ted Koppel, apresentou um especial inusitado na sexta-feira: leu solenemente o nome de todos os militares dos EUA mortos na guerra do Iraque, enquanto eram exibidas fotos deles, com informações como a patente e idade que tinham ao morrer. A exibição tomou os 40 minutos do Nightline.
Mas algumas emissoras afiliadas à ABC se recusaram a exibir o programa, acusando o de ter como objetivo a oposição à guerra. A rede Sinclair Broadcast Group anunciou na quinta-feira que tiraria o programa do ar em suas afiliadas que o retransmitem, incluindo estações em Ohio e no Missouri.
A direção da SBG alegou que ‘o programa parece motivado por uma agenda política destinada a minar os esforços dos EUA no Iraque’.
Na apresentação do Nightline, Koppel fez menção à polêmica. ‘Nosso objetivo esta noite é elevar os mortos na guerra acima da política e do jornalismo diário’, disse ele, acrescentando que a leitura dos nomes nunca buscou provocar oposição à guerra nem endossá-la. (Associated Press)’
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‘Blair fica ‘escandalizado’ com fotos de torturas’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/05/04
‘O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, ficou ‘escandalizado’ com as fotos de prisioneiros iraquianos torturados e maltratados por soldados dos EUA no presídio de Abu Ghraib, em Bagdá. As imagens, exibidas pela TV americana CBS na quarta-feira à noite provocaram protestos de vários países e entidades e causaram indignação no mundo árabe e muçulmano.
As fotos mostram iraquianos nus, encapuzados e atormentados por seus captores. Alguns estavam empilhados sobre os outros. Soldados riam e os humilhavam.
Um porta-voz de Blair declarou à imprensa que ele condenou o abuso de prisioneiros e enfatizou que esses atos não refletem a conduta da vasta maioria das tropas da coalizão. ‘O porta-voz do Exército americano disse esta manhã que ele está chocado, que aqueles responsáveis deixaram seus companheiros soldados deprimidos. E essa é a visão da Grã-Bretanha’, disse o assessor de Blair. ‘Isso não representa os 150 mil soldados (da coalizão) no Iraque.’
O governo britânico também anunciou que oito casos de tortura envolvendo suas tropas no Iraque estão sob investigação.
‘Sinto um profundo desgosto por aqueles prisioneiros terem sido tratados da maneira que foram tratados’, afirmou ontem o presidente americano, George W.
Bush. ‘Não gostei nem um pouco daquilo. Mas também quero lembrar as pessoas que aqueles poucos que fizeram aquilo não refletem a natureza dos homens e mulheres que enviamos para o exterior. Esse não é o jeito do povo (americano).’ Ele acrescentou que há uma investigação em andamento sobre as ações das tropas e prometeu ações disciplinares.
Houve protestos de várias entidades e líderes. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmou estar ‘profundamente perturbado’ pelas imagens e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha expressou sua ‘preocupação’.
Indignação maior ocorreu nos países árabes. ‘Eles ficam perguntando por que nós os odiamos. Talvez eles devam olhar no espelho e então vão odiar a si mesmos’, disse a síria Khadija Mousa, um dos espectadores que viu as imagens reproduzidas em TVs árabes.
Britânicos – O tablóide sensacionalista Daily Mirror publicou ontem na capa uma foto de um prisioneiro iraquiano encapuzado que teria sido espancado por um soldado britânico.
Numa entrevista coletiva à imprensa, para comentar as denúncias, o chefe do Estado-Maior do Exército, general Michael Jackson, declarou que os abusos estão sendo investigados. ‘Se forem provados, os responsáveis não estão em condições de vesti o uniforme da rainha. Eles mancharam o bom nome e a honra do Exército.’
O Mirror informou ter recebido o material de um soldado servindo num regimento real no Iraque. (AP, Reuters, AFP e DPA)’
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"Britânicos põem em dúvida imagens de tortura", copyright O Estado de S. Paulo, 3/05/04
"A BBC (emissora pública britânica de rádio e TV) informou ontem que especialistas militares britânicos manifestaram dúvidas sobre a autenticidade das imagens de supostas torturas aplicadas por soldados britânicos contra presos iraquianos. Citando fontes próximas do regimento cujos soldados estariam envolvidos no episódio, a emissora assegura que os fuzis e caminhões que aparecem nas fotos difundidas não são utilizados pelo Exército britânico em território iraquiano.
Por sua vez, o tablóide The Sunday Telegraph confirmou indiretamente as denúncias, destacando que a polícia militar britânica prendeu pelo menos seis soldados suspeitos de presumíveis abusos.
Já o Daily Mirror havia publicado foto de um soldado golpeando um preso com a culatra de um fuzil e urinando nele. O primeiro-ministro Tony Blair classificou esse comportamento de totalmente inaceitável. ‘Fomos ao Iraque para evitar esse tipo de coisas. não para fazê-las’, acrescentou ele, prometendo uma ‘investigação independente’ para esclarecer os fatos.
Na mesma linha, o general Richard Myers, comandante do Estado Maior Conjunto dos EUA, prometeu levar à Justiça e castigar os que cometeram tais atos.
‘Estou chocado com essas ações isoladas (…) Não é assim que o Exército americano atua, ou deveria atuar’, disse ele.
A revista americana New Yorker insinuou, por outro lado, que as supostas torturas na prisão de Abu Gharib poderiam ter sido ordenadas pelos serviços de inteligência militar.
Pelo menos um prisioneiro iraquiano morreu depois de um interrogatório, alguns foram ameaçados com cães de ataque e outros foram mantidos nus em celas minúsculas sem água corrente nem ventilação, segundo um relato escrito por um sargento da polícia militar que supervisionou um grupo de soldados dos EUA acusado no crescente escândalo sobre abuso de presos no Iraque.
O relato de Ivan Chip Frederick, com entrevistas feitas sábado com outros soldados da unidade do sargento e altos funcionários civis e militares dos EUA, pinta o retrato de uma prisão que saiu do controle no outono passado, quando milhares de iraquianos capturados foram confinados atrás de suas cercas de arame farpado.
Em alguns casos, apenas uma dúzia de soldados dos EUA foram responsáveis por vigiar mais de mil prisioneiros. Tentativas de fuga eram comuns. Disparos de morteiro de insurgentes choveram sobre a área da prisão, matando guardas americanos e prisioneiros iraquianos.
Parentes de Frederick, que enfrentará a corte marcial pela suposta degradação sexual e física de prisioneiros inimigos no Iraque, deram ao jornal Los Angeles Times uma cópia do relato escrito à mão que, segundo eles, Frederick compôs pouco antes de ser preso, em janeiro.
Frederick, de 37 anos, escreveu que funcionários de inteligência e seguranças civis dos EUA que conduziam interrogatórios pediram que a polícia militar na prisão de Abu Ghraib tomasse medidas para fazer os prisioneiros que eles vigiavam cooperassem mais.
Funcionários militares de inteligência ‘nos encorajaram e nos disseram ‘bom trabalho’, pois agora estavam obtendo resultados positivos e informações’, escreveu ele. (Associated Press, France Presse, Reuters, EFE e DPA)"