Depois de virar febre nas redes sociais com o #LuizaEstánoCanadá, a filha do jornalista Gerardo Rabello, que foi tema de comercial na Paraíba, voltou para o Brasil, semana passada, e com isso foi recebida por diversas emissoras se tornando destaque em vários telejornais. Atrelado ao fenômeno Luiza, estiveram nas redes sociais comentários sobre o provável estupro no reality Show Big Brother Brasil. Essa conjuntura provou a força e ainfluência cibernéticaperante a mídia brasileira, tornando assim meros fatos sem relevância em notícias factuais e atrelando a elas o jornalismo opinativo.
Foi o que aconteceu com o jornalista e apresentador do SBT Carlos Nascimento, que criticou na última semana os assuntos mais comentados da rede; com um tom pedante e irônico, o apresentador questionou se os problemas brasileiros já estavam todos resolvidos, ou se nós nos tornamos perfeitos idiotas.
“[…] Não é possível que dois assuntos tão fúteis possam chamar a atenção de um país inteiro. Um programa de televisão em que se discute um estupro, que por si só já é um absurdo, negado pelos dois protagonistas; segundo, uma pessoa que ninguém conhece vira celebridade da mídia somente por que o nome apareceu milhões de vezes na internet. Luiza já voltou do Canadá e nós já fomos mais inteligentes” (NASCIMENTO, Jornal do SBT, 19 de janeiro de 2012).
A relação dos jornalistas com os protagonistas
A revista Veja apontou, em novembro do ano passado, que no Brasil o Twitter é a ferramenta vice-campeã em número de acessos, ao lado do Facebook, com 10,7 milhões de visitantes únicos ao mês, atrás do Orkut, com 26,9 milhões. Em 2004 a Veja apontou a inovação promovida pelo Orkut de possibilitar a cada usuário montar uma página com seu perfil. Com o passar do tempo, o padrão acabou servindo de modelo à maioria das redes sociais que surgiram posteriormente. Ao contrário do e-mail, sites como Orkut, Facebook e Twitter, por sua instantaneidade, criaram um novo tipo de ansiedade: a de ficar sempre plugado para evitar a impressão de que se está perdendo algo.
Segundo RECUERO (2009) “as redes sociais na internet são constituídas de representações dos atores sociais e de suas conexões”. Com isso, essas representações são individualizadas e personalizadas, constituindo assim conexões na mediação da internet através da interação, podendo levar o anônimo a se tornar uma celebridade instantânea, como enfatizou José Nêumanne Pinto em um de seus comentários sobre Luiza Rabello.
No contexto do jornalismo opinativo, José Marques de Melo assinala que há dois núcleos de interesse em torno de um discurso jornalístico; primeiro a informação, cujo interesse é saber o que se passa, e segundo a opinião, cujo interesse é saber o que se pensa sobre o que se passa. Para MELO, os gêneros do primeiro núcleo “se estruturam a partir de um referencial exterior à instituição jornalística: sua expressão depende diretamente da eclosão e evolução dos acontecimentos e da relação que os mediadores profissionais (jornalistas) estabelecem com seus protagonistas (personalidades ou organizações)” (2003, p.65).
De certa forma, o comentário feito por Carlos Nascimento mantém uma íntima ligação com a atualidade e é produzido a partir do que está ocorrendo, ou seja, o comentário acompanha a própria notícia.
O BBB, Luiza e o mercado publicitário
À comunicação publicitária não interessa em mudar opiniões, e sim mudar o comportamento aquisitivo. Ou seja, sua finalidade é fazer com que o produto seja difundido fazendo com que as pessoas possam adquiri-lo. Contudo, ela incrementa o consumismo de massa e seu objetivo é criar continuamente novas necessidades.
As redes sociais na internetcongregam 29 milhões de brasileiros por mês. Nada menos que oito em cada dez pessoas conectadas no Brasil têm o seu perfil estampado em algum site de relacionamentos. Elas usam essas redes para manter contato com os amigos e conhecer pessoas. Da mesma forma, as redes sociais veem se tornando espaço para o mercado publicitário, não só através de links que se colocam, mas também de próprios relatos testemunhais de determinados produtos.
Com isso, o resultado de grande audiência do BBB em suas várias edições, como também a influência que ele atualmente exerce sobre os telespectadores, fez com que o mercado publicitário investisse cada vez mais em publicidades e merchandising. Armando Sant’Anna deixa explícito o fenômeno que o merchandising exerce no Brasil:
“No Brasil há um fenômeno merchandising que é a utilização simulada de produtos ou serviços por atores, principalmente em filmes ou novelas. Nesse setor liderado pela Rede Globo de Televisão, as emissoras constituíram departamentos de merchandising que vendem espaços em suas novelas ou outros programas para empresas que queiram veicular seus produtos como parte dos hábitos ou costumes dos personagens da ficção ou apresentadores” (SANT’ANNA, 2009, p.28).
Com Luiza não será diferente. Durante esse fenômeno da “instantânea celebridade”, a jovem receberá propostas de várias empresas de publicidade, como também outros veículos de comunicação. Afinal, a internet tem feito algo diferente: permitir que o público “eleja” alguém que de certa forma interaja com a “marca”, percebendo os fatores que lhe sejam relevantes, tendo como resultado final a efetuação da compra e fidelização de clientes.
Referências
MELO, Jose Marques de. Jornalismo Opinativo: gêneros opinativos no jornalismo brasileiro. 3ª ed. Campos de Jordão, RJ: Editora Mantiqueira, 2003.
RECUERO, Raquel Zago. “Em Busca das Redes que importam”: Redes Sociais e Capital Social no Twitter. In: Anais do XIX Encontro da Compós, PUC/MG, Junho de 2009. Disponível em: < www.compos.org.br/data/trabalhos_arquivo_coirKgAeuz0ws.pdf >. Acesso em 21/01/2012
SABARAY, Rafael. “O que quer o senhor das redes”. Revista Veja, São Paulo, V.2237, Nº 44, p. 93, outubro de 2011.
MAXSUEL, Wallace “O fenômeno Luiza voltou do Canadá”.Santa Cruz, 2012. Disponível em <http://wsantacruz.com.br/2012/01/19/o-fenomeno-luiza-voltou-do-canada/> acesso em 21/01/2012.
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[Rodolpho Raphael Oliveira Santos é jornalista, Campina Grande, PB]