Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Desinformação do sustentável

No simples gesto de folhear a realidade, percebemos que milhões ($) transitam diante e além de nossos olhos. Entre os interesses da massa e as necessidades e anseios individuais, os eletrocidadãos mobiles perambulam entre as novelas midiáticas da famigerada vida real.

A polêmica política de integração nacional familiar pernambucana de Bezerra; a proposta de aumento exorbitante (61%) dos salários dos vereadores de Belo Horizonte (MG); as desgraças do período pós-chuva a atingir 3 milhões de pessoas nos municípios mineiros e os 3 milhões atingidos pela seca no sul do país; o Enem e os erros do sistema educacional (e o Prouni comemora que desde sua criação, em 2004, já concedeu quase um milhão de bolsas de estudos em cursos de graduação – e esse ano arrebentou em inscrições; mais de 1,2 milhão – qualidade versus acesso), tudo se renova do mesmo. Etanol, café e suco de laranja pelos ares.

A esperança está na sensação que alguns veículos conseguem provocar com suas matérias ao apontar incoerências e soluções e transmitir a ideia de que algo está sendo feito. Nem que esse algo seja apenas barulho. Fato curioso não é a mídia estacionar as pautas nos trending topics, mas a matéria da Folha Online(12/1), sobre o ministro Bezerra, utilizar o jornal O Estado de S. Paulo como fonte ao falar sobre os dados da ONG Contas Abertas. Costume cada vez mais presente na mídia.

Mino Carta e Thomaz Souto Corrêa (na última edição da revista Imprensa) declararam que a qualidade do jornalismo brasileiro tem caído continuamente. A mídia impressa há tempos é usada como registro histórico de uma era. Uma versão equivocada, ou narrativa mal construída pode comprometer o registro e a interpretação das gerações futuras ao revisarem a história social. O que intriga atualmente é que alguns veículos não consideram esse fato e tornam-se panfletos que sujam nossos dedos de tinta ou cansam nossos olhos à tela.

Humanidade confunde-se com individualismo

Um eficiente sistema de controle, a desinformação justifica dentre outras coisas a censura rebatizada de Sopa e Pipa, mesmo Obama alegando veto. Atualmente, conteúdo público e privado dependem muito mais dos interesses do gestor ou autor do que da natureza do produto. Quando têm o interesse de disseminar em massa algo novo, tratam como conteúdo público e gratuito; todavia, quando esse algo já está consolidado, querer ganhar dinheiro com o acesso, tornam o produto privado. O padrão de precificação de conteúdo do Itunes (pelo menos para música e apps) apresenta-se como alternativa, mas ainda muito ineficiente. A interação em web aponta a substituição do download pelo streaming.

A desinformação é uma arma estratégica. Ela enaltece e afunda partidos políticos, obras públicas, iniciativa privada, conceitos e ideologias; funda religiões, corrompe a relação do homem com Deus e contribui para o espetáculo da soberba e fúria contemporânea, onde a modernidade se faz arcaica e humanidade confunde-se com individualismo.

Cada vez mais distante do que deveria e precisaria se tornar, o homem se enobrece alimentando-se de sonhos, silício, cidades e jardins resignados a vasos no quintal de concreto.

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[Rudson Vieira é jornalista, Coronel Fabriciano, MG]