Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rubens Valente

‘A jornalista Tereza Cruvinel, responsável pela principal coluna de informação e opinião sobre política do jornal ‘O Globo’, mantém um contrato de prestação de serviços com a Câmara dos Deputados -foco freqüente do que escreve na página 2 do jornal do Rio de Janeiro.

‘Já entreguei o trabalho, ainda não recebi. É R$ 12 mil. Acho muito mal pago para um trabalho tão grande como o que eu fiz’, disse Cruvinel. Ela foi contratada pela Casa por R$ 15,68 mil para elaborar um perfil da ex-deputada federal de Pernambuco Cristina Tavares, morta em 1992.

O processo administrativo que deu origem ao contrato começou em 8 de abril de 2003 por iniciativa do gabinete do presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP). A contratação foi fechada sem um procedimento licitatório, sob alegação de notória especialização (artigo 25 da Lei de Licitações).

O contrato começou a vigorar em novembro de 2003 e valerá até o próximo dia 29. Nesse período, Cruvinel continuou exercendo suas funções na coluna política.

Ela também faz comentários sobre política na ‘Globonews’, emissora de TV a cabo de notícias da Rede Globo.

Independência

A jornalista disse ontem que não considera falha ética manter contrato com a Câmara ao mesmo tempo em que comanda a coluna em ‘O Globo’.

‘Do ponto de vista da relação com o Congresso, não vejo como [o contrato] possa interferir na minha independência ou no meu distanciamento’, disse a colunista. ‘Eu acho que o trabalho é sobre uma pessoa que já morreu, não é sobre uma pessoa viva. Não estou fazendo um trabalho sobre João Paulo ou qualquer outro deputado’, argumentou.

O Código de Ética do jornalista, em seu artigo 10, proíbe ao profissional ‘exercer cobertura jornalística pelo órgão em que trabalha, em instituições públicas e privadas, onde seja funcionário, assessor ou empregado’.

Procurado quatro vezes ontem pela Folha, por telefone, no Rio, o diretor de redação de ‘O Globo’, Rodolfo Fernandes, não retornou a ligação. Sua secretária informou que ele estava em reunião.

O chefe-de-gabinete do deputado João Paulo, José Umberto Almeida, informou, por meio da assessoria da presidência da Casa, que ‘a pessoa é escolhida pela sua capacidade técnica e afinidade com o personagem a ser retratado’ na coleção de livros editados pela Casa chamada ‘Perfis Parlamentares’. Ele não comentou os aspectos éticos da contratação.

Viagens

A relação de viagens pagas pelo governo federal em 2003, entregue ao Congresso a pedido do deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), incluiu registro de duas passagens aéreas para que os jornalistas de economia Luís Nassif, colunista da Folha, e Miriam Leitão, de ‘O Globo’, participassem de um seminário sobre reforma da Previdência do governo federal. O evento foi organizado em Brasília pelo Ministério da Previdência, em outubro passado.

Nassif disse não ver problema na sua viagem para o seminário. Afirmou também não ter informado o convite à Secretaria de Redação do jornal porque desconhecia a necessidade, prevista no ‘Manual da Redação’.

‘Já recebi passagens de associações de magistrados para palestras para juízes; de associações de procuradores para palestras para o Ministério Público; de universidades para palestras para universitários. Na maioria absoluta dos casos, sem remuneração’, informou Nassif. Procurada pela Folha, Miriam Leitão não deu retorno a um pedido de informações.’



TODA MÍDIA
Nelson de Sá

‘A Suíça e o fulano’, copyright Folha de S. Paulo, 9/05/04

‘Por que agora? O Jornal Nacional dedicou um terço de sua edição de anteontem à destruição de Paulo Maluf, pré-candidato a prefeito em São Paulo. A manchete:

– Exclusivo. A investigação do envio ilegal de uma fortuna para fora do Brasil. Pelo menos US$ 200 milhões. E documentos comprovam que o dinheiro é do ex-prefeito Paulo Maluf.

Não faltou nem o comentário acusador de Arnaldo Jabor. O JN correu com a sua reportagem e saiu antes da revista ‘Veja’, que ocupa a capa deste fim de semana com manchete ainda mais carregada:

– A megafortuna de Maluf no exterior.

Ainda na capa:

– As provas definitivas. Documento de um banco suíço desmente o político e comprova a existência de contas secretas. Extratos revelam que, num único dia, uma conta do ex-prefeito de São Paulo recebeu depósitos de US$ 345 milhões.

Ontem a Folha trouxe o próprio Paulo Maluf dizendo que tem gente por trás da história:

– É um dos políticos mais conhecidos deste país. Um deputado me disse: ‘Eu sei quem esteve na revista ‘Veja’, dando os dados. E sei quem esteve há dois dias na Rede Globo. É o mesmo fulano’.

A teoria conspiratória do ex-prefeito não chega a derrubar os documentos apresentados, mas joga a suspeita, uma vez mais, sobre o tucano José Serra.

Ou seria FHC? A mesma edição de ‘Veja’ se pergunta se FHC ‘quer Serra na disputa por São Paulo ou quer Serra fora da briga pelo Planalto’. É o que pensa o próprio ex-ministro, segundo a revista.

Mas talvez as denúncias sobre Maluf não passem mesmo de reportagens bem realizadas -apesar da coincidência com a notícia, quinta na Folha, de que o obstáculo para Serra aceitar a candidatura a prefeito é precisamente Maluf. Se ele desistir, Serra sai candidato.

Novamente, por que agora? A revista ‘Época’ já havia destacado a chegada dos documentos dos bancos suíços mais de um mês atrás.

Maluf e Serra, ontem, seguiam em campanha. A Globo foi achar o primeiro em uma nova reunião de seu partido, onde reafirmou não ter conta na Suíça. O segundo declarou a ‘O Estado de S.Paulo’:

– É hora de desenvolver a militância tucana.

Em Paris 1

Marta Suplicy assistiu à distância, de Paris, aos entrechoques da sucessão municipal.

Eleita presidente da Organização Mundial de Cidades, deu longa entrevista ontem ao caderno ‘Babelia’, do espanhol ‘El País’. Falou de exclusão social, política cultural, da periferia, dos CEUs etc.

Em Paris 2

Também o ‘Le Monde’, que já vinha de publicar uma entrevista com a prefeita paulistana, destacou sua eleição. E o site da organização que ela agora dirige trazia a manchete:

– O Brasil lidera o caminho.

Incapacidade

No Rio, Anthony Garotinho publicou um ‘esclarecimento à população’, em ‘O Globo’:

– O pedido, por nós encaminhado à excelentíssima governadora Rosinha, de participação de tropas federais nas ações de combate ao crime não pressupõe a incapacidade das forças policiais estaduais.

Ele quer as tropas, mas diz que não precisa delas.

Ator refém

Do ‘Jornal do Brasil’, com mais violência no Rio:

– Nem Thiago Lacerda escapou. O ator da Globo ficou quatro horas em poder de assaltantes, como refém.

Para o Brasil

Jornais do México, como ‘La Crónica de Hoy’, estão em polvorosa com a possibilidade de Gustavo Ponce, o foragido ex-secretário de finanças da Cidade do México, estar no Brasil. A seção brasileira da Interpol estaria em ‘alerta vermelha’ em aeroportos, portos, hotéis e ‘até nas ruas’.

Mas ainda espera a ordem de prisão do Supremo brasileiro.

Rato e Lula

O recém-eleito diretor-gerente do FMI, o espanhol Rodrigo Rato, deu entrevista à rádio espanhola Intereconomía, que a agência Reuters distribuiu e jornais europeus publicaram, destacando uma declaração que mais parecia tirada dos comerciais lulistas:

– As condições (da economia brasileira) são claramente melhores do que quando Lula chegou ao governo.

Maverick

O ‘Wall Street Journal’ publicou um longo perfil de Carlos Lessa, o presidente do BNDES -que foi atacado esta semana por FHC.

Chamando Lessa de ‘maverick’ (independente, dissidente), o conservador ‘WSJ’ sublinhou que ‘ele está pressionando ruidosamente por uma agenda econômica que decididamente é menos amigável ao capital externo’.

Transgênicos

Segundo o argentino ‘La Nacion’, o ‘negociador especial de biotecnologia’ do Departamento de Estado dos EUA, falando a brasileiros e outros, em Buenos Aires, comemorou que mais e mais países estão aceitando os transgênicos. Até mesmo a União Européia.

Aviso de perigo

A guerra do Iraque também faz estragos na imagem comercial dos Estados Unidos. Da ‘Advertising Age’, que cobre a área de publicidade:

– O aceitação da cultura e dos produtos americanos pelos consumidores estrangeiros caiu tanto que um novo estudo resolveu dar um ‘aviso de perigo’ às empresas dos EUA.

Uma pesquisa da NOP, com 30 mil pessoas de 30 países, apontou ‘hesitação’ na compra de produtos americanos.’

***

‘Alcoolismo’, copyright Folha de S. Paulo, 11/05/04

‘Governo e petistas não erram no que vêm dizendo sobre a reportagem de Larry Rohter no ‘New York Times’.

Não havia, até então, uma ‘preocupação nacional’ com o hábito de beber do presidente. As três ‘fontes’ citadas pela reportagem não têm crédito.

E foi o trabalho de um repórter em atropelo a outro, do mesmo ‘NYT’ mas vencedor do Pulitzer, que prepara ou preparava capa sobre Lula para a prestigiosa revista do jornal.

A linguagem usada denuncia desejo de humilhação, o que já vinha ocorrendo nos adjetivos de Mangabeira Unger, no desprezo de Jô Soares pela entrevista com o presidente etc.

É uma volta ‘aos velhos tempos de acusações preconceituosas’, que remete ao episódio de 89, em que os mesmos colloridos diziam que Lula teria sugerido a uma namorada que abortasse, e a vários outros.

Para fechar, o ‘NYT’ não fez o mesmo com a vida pessoal de Collor nem com a de FHC, embora não faltassem ‘fontes’ para tanto.

Até aí, bons argumentos. Mas então vem Luiz Gushiken, ministro e sobretudo amigo de Lula, e diz à Globo que ‘o presidente não vai mudar o comportamento por causa da reportagem’.

Alcoolismo, ainda que apenas uma sombra, uma desconfiança, até uma calúnia, não é assunto para tratar com tapas nas costas e estímulo.

Maluf no ar

Paulo Maluf já está com comerciais na TV. E fala grosso contra os promotores, por exemplo, ontem na Jovem Pan:

– Que me processem, em vez de ficar mostrando documentos à imprensa. Documentos a que meus advogados não têm acesso.

Pela primeira vez, citou José Serra como fonte das denúncias.

Serra x FHC

‘O Globo’ deu que ‘Serra vê o dedo de FHC, através de Nizan Guanaes, na concepção da campanha petista’. O esforço de opor Lula e o ex-presidente, na campanha, seria um modo de tirar Serra do páreo presidencial.

Soldados no Rio

A Globo passou os últimos dias comemorando a confirmação ou quase da ação militar no Rio. O Fantástico cobriu com ‘exclusividade’ o treinamento das tropas -e o Jornal Nacional de ontem detalhou exaustivamente como devem ser as operações.

Soldados no Haiti

Os argentinos ‘La Nacion’ e ‘Clarín’ noticiaram ontem o envio de tropas argentinas ao Haiti, num ‘gesto para George W. Bush’, e a viagem do ministro da Defesa ao Brasil.

A ‘coordenação militar’ no Haiti, segundo os jornais, será ‘do Mercosul’.

México e Mercosul

O mexicano ‘El Diario’ destacou que o Brasil prepara proposta comercial para discutir com o presidente mexicano Vicente Fox na próxima reunião do Mercosul, daqui a três semanas, e formalizar a entrada do país do norte no bloco sul-americano.

Amorim no Cairo

O site Arabic News e outros no Oriente Médio noticiaram no fim de semana a confirmação pelo chanceler Celso Amorim, em entrevista no Cairo (Egito), do encontro entre países sul-americanos e árabes, marcado para dezembro no Brasil.

França contra

Foi manchete no ‘Financial Times’, destaque noticioso no ‘Le Monde’ -e as agências Bloomberg, Reuters, Associated Press, France Presse e até a Globo saíram correndo atrás, logo pela manhã:

– União Européia propõe retirada de subsídios agrícolas.

Mas o governo Lula desde logo, como noticiou a BBC, demonstrou ‘ceticismo’, apesar da flagrante vitória política do anúncio da UE.

E não demorou para a França jogar água no entusiasmo geral, dizendo, segundo a France Presse, que a iniciativa ‘excede o mandato de negociação da comissão’ de agricultura da UE, nas palavras do ministro francês de agricultura, que acrescentou:

– Nós somos muito contra o conteúdo da carta (da comissão).

Um consultor ouvido pela Bloomberg declarou que a oposição francesa ‘pode ser suficiente para acabar com os esforços da UE para mostrar flexibilidade’.

Enquanto isso, lá em Paris, o líder sem-terra João Pedro Stedile participava de evento ao lado de José Bové, o líder dos muito protegidos e subsidiados agricultores franceses.

Alexandre Garcia, na Globo, observou que o sem-terra, em vez de detonar o governo Lula, deveria ter argumentado com seu colega francês.

LULA E A TV Segundo a revista ‘Época’, o presidente ‘não está gostando nem um pouco do baixo nível de alguns programas de TV, principalmente daqueles que exploram a violência e a sexualidade’ (acima, cena do Cidade Alerta de ontem). O ministro Luiz Gushiken vai ‘chamar os donos de duas emissoras’ para tratar do assunto.’





FSP CONTESTADA
Painel do leitor, Folha de S. Paulo

‘Cartas’, copyright Folha de S. Paulo,

‘9/05/04

Minas e Energia

‘Em relação à reportagem ‘Propaganda do PT usa números errados’ (Brasil, pág. A9, 7/5), o Ministério de Minas e Energia esclarece: A variação dos preços da gasolina e do botijão do gás liquefeito de petróleo (GLP) foi obtida a partir dos preços médios dos produtos coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 11 capitais brasileiras que servem de base para medição dos índices do IPCA, disponíveis no banco de dados da instituição. Foram calculadas médias aritméticas dos preços nas 11 capitais no início e no fim dos períodos analisados (janeiro de 1995 a dezembro de 2002 e janeiro de 2003 a março de 2004). A variação dos preços foi calculada com base nas médias encontradas no início e no final de cada período analisado. Essa é a metodologia que sempre foi utilizada pelo Ministério de Minas e Energia e pela ANP para aferir variações de preços dos combustíveis.’ Fernando Rosa, assessoria de comunicação do Ministério de Minas e Energia (Brasília, DF)

Nota da Redação – Veja seção ‘Erramos’ abaixo.

Imparcialidade

‘Jorge Bornhausen na pág. A3, Otavio Frias Filho, Eliane Cantanhêde, José Serra e alguns outros na pág. A2. Todos os dias a propaganda pró-FHC… Gente, onde anda a imparcialidade da Folha? Por que esses senhores não lembram o que FHC esqueceu (ou deixou) de fazer nos seus oito anos? Por que só bater em Lula? E por que a Folha não se manifesta sobre certas atitudes da Justiça (o episódio do silêncio de Pitta, por exemplo) e de outras áreas em vez de só bater em Lula? Por que nenhuma notícia sobre o calote dos tucanos na última campanha eleitoral? A Folha se arrisca a perder a sua maior virtude: a credibilidade. Já os jornalistas acima citados, esses já eram. Deveriam ir buscar emprego com os tucanos…’ Alfredo Sternheim (São Paulo, SP)



8/05/04

Cidades

‘O Ministério das Cidades reafirma o equívoco da jornalista Marta Salomon quando insiste em que os investimentos em saneamento do governo federal, em especial o FGTS de 2003, não foram gastos (‘Presidente contraria discurso e corta gasto com saneamento’, Brasil, 11/4). Para evidenciar o erro, vamos aos fatos. O governo federal fez sua parte liberando R$ 1,7 bilhão de recursos que estão nas contas da Caixa em nome de 12 Estados e dois municípios (Paraíba, Maranhão, Sergipe, Amazonas, Pará, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo e Paraná e Campinas e Itapevi). O desembolso desses recursos se dá com a licitação e a contratação das obras, o que é responsabilidade de Estados e municípios e não depende do governo federal, como faz crer a jornalista, visando criar uma imagem de ineficiência deste. O desembolso para a contratação e pagamento de obras obedece a prazos e a procedimentos legais que diferem do desembolso para a compra de remédios, de alimentos ou de quaisquer produtos prontos. Freqüentemente esse desembolso toma um ou mais anos. Os prazos mínimos são de lei e independem da vontade de governadores, de prefeitos ou do governo federal. Portanto o presidente Lula não se enganou -como quis a jornalista- quando declarou que já havia liberado R$ 1,7 bilhão para o saneamento em 2003.’ Ermínia Maricato, secretária-executiva do Ministério das Cidades (Brasília, DF)

Resposta da jornalista Marta Salomon – A reportagem afirmava que os recursos não foram gastos, como reconhece a própria nota.’



PUBLICIDADE NO JORNALISMO
Edileuson Almeida

‘Jornalismo ou publicidade?’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 6/05/04

‘Em meados do século passado, quando publicaram e apresentaram ao mundo sua principal obra: Dialética do Iluminismo, Horkheimer e Adorno criaram o conceito de indústria cultural. Segundo eles qualquer produção cultural e intelectual é orientada em função de seu poder de consumo. Nada, a partir de então, sobreviveria sem passar pelo filtro da mídia, ou seja, pela mediação da publicidade. ‘A figura do cidadão foi eclipsada pelas do consumidor e do contribuinte’, observaria décadas depois Habermas, o principal herdeiro da Escola de Frankfurt, onde Horkheimer, Adorno, Marcuse, Walter Benjamin, entre outros, foram figuras expoentes.

Tais pesquisadores jamais foram contra os meios de comunicação, inclusive reconheciam o potencial democrático e progressista destes meios técnicos. Só temiam, e alguns nem acreditavam, que os mesmos poderiam se desenvolver contribuindo para o processo de conscientização das massas. A mídia utilizaria seu poder de passar idéias para a nossa cabeça, segundo os pensadores, limitando nosso poder de decisão ao exercício do poder de compra. Os meios de comunicação, portantom agem como interligadores destes dois elos da economia capitalista (a produção e o consumo). A publicidade então é o filtro obrigatório para garantir a alimentação e manutenção do sistema, do qual somos apenas mais uma engrenagem.

Bem, onde queremos chegar retomando essas posturas críticas em relação às empresas de comunicação é a questão. Sempre tratando o cidadão de forma estereotipada, a indústria cultural tem buscado de várias formas atingir a mente de cada consumidor utilizando os mais variados modelos de propaganda. Apenas o espaço publicitário (presente em qualquer tipo de mídia, afinal é nele que se busca o oxigênio para a sobrevivência do meio) já não é mais suficiente. Várias são as razões: espaço saturado; pouco interesse do leitor/ouvinte/telespectador; entre outros.

Para garantir a sobrevivência alguns meios têm fechado os olhos para algumas práticas que cada vez mais reforça a crítica frankfurtiana: a mídia está a serviço da classe social dominante. Para invadir a mente do cidadão, levando a uma nova postura, as mensagens ideológicas surgem disfarçadas por todos os lados. A vítima do momento (só tenho dúvidas se é recente) é o jornalismo, que cada vez mais tem corrompido seu verdadeiro ideal. O traído (sempre o último a saber) é o leitor/ouvinte/telespectador, que deveria ser o sujeito final do jornalismo (como reza o bom manual) é na verdade o seu objeto. O que na propaganda ficou conhecido como mensagem subliminar no jornalismo já é praticado de forma descarada.

A questão ora levantada tem sido uma incógnita para os profissionais da comunicação. Não deveria, pelo simples fato de ambos os conceitos em nada convergirem. Ao contrário. Publicidade e Jornalismo dividem espaço, mas não são complementares. Alguns veículos insistem: anúncio publicitário é acompanhado de cobertura jornalística, quando não: o anúncio publicitário é descaradamente transformado em matéria jornalística. Pasmem. Deveria parecer óbvia essa distinção, mas nem sempre é o que acontece. O cidadão nem sempre descobre o golpe. Basta folhear o jornal do dia, ouvir a programação jornalística nas emissoras de rádio ou mesmo assistir a programação telejornalística, para se deparar com tal prática condenável.

Há muito a publicidade recorre ao formato jornalística para vender produtos, serviços ou idéias. Até ai nada de mais. Mas quando o jornalismo é usado com objetivos publicitários, o mesmo perder a sua função nobre de informar, para servir de trampolim aos interesses nem sempre muito claros e por cima disfarçados de notícia.

A preocupação passa a ser mais evidente quando se assiste profissionais que deveriam prezar pela missão maior do jornalismo, inverterem os papéis, submetendo-se a função de promovedores de idéias que andam a léguas do interesse público. Invadem descaradamente um espaço que deveria ser ocupado para informar, não negociar produtos e idéias, para ludibriar.

Bombardeado por todos os lados numa sociedade de economia capitalista, onde consumir é a garantia da manutenção de um sistema e a certeza de ser aceito por ele, o cidadão tem o direito de não ser engabelado. Os elos que compõe a informação e a publicidade devem ser permanentes e nítidos, se assim realmente desejam as empresas de comunicação cumprir com sua responsabilidade social. Se a mídia não deseja contribuir para o processo de conscientização do cidadão, pelo menos não deveria bestificá-lo.

(*) Jornalista, Mestre em Ciências da Comunicação(USP) e Coordenador do Curso de Comunicação Social (FAA) – edileusonalmeida@yahoo.com.br’