Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma de nossas misérias

O assunto acesso à leitura continua uma das misérias que assolam este imenso e não ainda tão grandioso país. Diz um aprendiz de Jorge Luis Borges (aliás, que adquiriu cegueira), um estudioso da leitura chamado Alberto Manguel, que ‘uma sociedade pode existir –existem muitas, de fato – sem escrever, mas nenhuma pode existir sem ler’. Acrescentaria que é pela prática da leitura que se oportuniza ao homem a criação, a construção e a reconstrução do conhecimento chegando a sua aplicabilidade ao meio social que habita.

E o ser ‘cego’ ou possuidor de visão subnormal não é ser mentalmente capaz que contribui para a sociedade? Aqui, sociedade brasileira? Por que tanta restrição? E a criança, um ser em formação, a ela está sendo negada a possibilidade de conhecer e ver o mundo pelo livro e pela leitura? Lembre que cego vê, e talvez veja e sinta melhor de que as pessoas ‘videntes’.

Políticas públicas voltadas à educação, à leitura, à acessibiliade – sim, pasmem, conheço bibliotecas com acervos em braile que ficam no terceiro andar de um prédio que não possui elevador… – ainda derrapam na mão de gestores. Associadas à timidez de um povo que pouco exerce a cidadania, fazem com que um grupo de cidadãos permança no escuro. Aliás, é a restrição de leitura que causa cegueira no ser humano, independentemente de ser ter visão ou não!

Não diferentemente, as organizações privadas do mercado livreiro não efetivam a sua contribuição. Alguém está pedindo algo gratuitamente? Não! Estamos apontando que todos têm direito à informação, a fatia do mercado está para ser explorada. Paradoxalmente, nem por ‘dinheiro’ se produzem livros em braile! Há tipos e tipos de cegueira!

Quem leu Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago? Parece que esta epidemia tratada pelo autor português assola o povo brasileiro, principalmente aqueles que estão posicionados para que haja ‘equidade para todos.’ Finalizando, são artigos aqui e acolá, como este de Gisele, que espero se tornem cupim, sim, aquele bichinho que muitos consideram insignificante e que, em grupo, derruba prédios!

Que sejamos cupins destruindo a inércia que ainda impede um cego, um ser humano de ler e crescer! Parabéns à Gisele.

Salete Cecilia de Souza, bibliotecária, da Unisul e do Grupo Cegos.Com



Pura realidade

Que artigo estupendo, magnífico! São a pura realidade os fatos retratados no artigo. Há falta de incentivo à produção de livros em braile e muita burocracia para atender aos pedidos de transcrição de livros feitos pelos deficientes visuais. Eu mesmo já enfrentei dificuldades. Ao recorrer a uma instituição, pediram-me três meses de espera somente para orçar a transcrição de um livro. Abraços de luta a todos.

Ricardo de Azevedo Soares, analista da Justiça Federal do Estado do Rio de Janeiro

Faltam livros em Braille no país – Gisele Pecchio Dias



NOVELAS DA GLOBO
Candura com a elite

O leitor Carlos Roberto Tomaz do Nascimento, de Natal, ao comentar cena da novela Celebridade (‘Briga chocante’), pergunta: ‘Como se pode admitir que uma personagem fina, educada e da elite possa ser capaz de atos tão violentos?’ Eu não assisto a novelas (a última que vi foi Pantanal), mas me espantei com a candura do leitor em relação a pessoas finas, educadas e da elite. Basta lembrar do jornalista Pimenta Neves, que matou a namorada com dois tiros. Dos adolescentes de Brasília que incendiaram o índio pataxó Galdino (e depois ‘desculparam-se’, dizendo que pensavam tratar-se de um mendigo). De Suzane Richtophen, que, com a ajuda do namorado e do cunhado, matou os pais, em São Paulo. Todos, gente fina, educada e da elite, que cometeram atos de extrema violência.

Rogério Ferraz Alencar, técnico da Receita Federal, Fortaleza

Briga chocante – Canal do Leitor [rolar a página]



Para alegrar a patuléia

Corroboro os comentários e sentimentos do professor Jaime Guimarães Barreiros. Sou brasileiro e, por isso, segundo as concepções preconceituosas, sem ‘raça definida’. Não me enquadro no estereótipo vigente, de que exista uma definição em minha formação étnica. Como a maioria dos brasileiros, sou descendente de alemães, espanhóis, portugueses, gregos, índios e negros. Como se diz por aí, tenho um pé em diversas cozinhas. Digo isso, porque, pela minha formação acadêmica, abomino essas classificações de raça existente na espécie humana, tão difundida entre a população e divulgada pela mídia. Aliás, parece que até existe uma revista no Brasil, com boa tiragem, utilizando essa denominação. O que existe, e isso precisa ficar bem claro, pelo que se evidencia no dia-a-dia, pelo que se lê nos jornais, pelo que se observa na TV, são os preconceitos humanos em relação aos seus diferentes e que se denotou chamar erroneamente de raça.

Acompanho à distância essa discussão sobre o tema da referida novela, até porque não assisto a esses programas, mas percebo que os debates mostram-se acalorados, uma vez que se está discutindo subliminarmente o pior dos sentimentos humanos, que é a rejeição, a exclusão, e os diferentes sentem-se assim, e são tratados assim, como uns inferiores. E me parece que é esse o mote daquela novela na Globo. O que me constrange, nesse particular, é ver grupos organizados (e por si só excluídos e excludentes) pedindo o encerramento da novela, ou o enquadramento judicial de seus autores, baseados no conceito errôneo de racismo, que supostamente estaria sendo apresentado pelos personagens da ‘obra’. E o pior: querem aplicar a censura como forma, punitiva, de evitar que o tema seja divulgado, como se a mudez dos artistas colaborasse para diminuir os preconceitos existentes no país e no mundo. (…) Como bem disse o professor Jaime, que se espere o desenrolar dos fatos, pois é bem possível que dessa vez o negro tenha sua vez, para alegria da patuléia.

Alexandre Carlos Aguiar, biólogo, Florianópolis

Não dá pra entender – Canal do Leitor



O CASO MAINARDI
Passo ao largo

Acho ótimo que alguém sugira à revista Veja algo neutralizante para o efeito Mainardi. A princípio lia toda semana, depois percebi que ele só estava a fim de polemizar, sem muito fundamento. Hoje passo ao largo de seus textos, não perco mais o meu tempo.

Liliane Rocha, professora, Salvador