Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Estupro ao vivo?

Não assisto ao Big Brother Brasil, mas não tem como passar ileso pela internet, pelo trem, pelos colegas de trabalho sem escutar a polêmica do suposto estupro ocorrido na casa. Sendo assim, fui assistir ao vídeo polêmico e chato. Pergunto: o que faz uma mulher tomar um banho e vestir uma camisola sensual para deitar debaixo de um edredom com um cara sarado por quem estava morrendo de tesão? Não é pelo sexo? Pelo contato corporal? A moça que está sendo colocada como “vítima” se mexe no vídeo fatídico, e emite ruídos. Fato.

Em minha opinião, ela quer se isentar do que permitiu ser feito, e nada mais; talvez seu juízo estivesse comprometido para ponderar que estava em rede nacional, mas não para deitar na cama com dois parrudos. Talvez não tivesse plena certeza do que foi visto pelo público. E então, ela se mantém neutra. Se você tivesse sofrido uma violação realmente sem o seu consentimento e de fato não pudesse se certificar disso pela memória, certamente pediria imediatamente um exame de corpo de delito, não? Principalmente porque seu caso está exposto em esfera nacional.

Uma violência sexual de qualquer natureza jamais deve ficar impune. Ninguém tem o direito de constranger o outro ou abusar de qualquer condição para impor a própria vontade em detrimento dos direitos humanos. E analisando friamente a situação, a moça que se autointitula “Maria Chuteira” não é inocente nem ingênua coisa nenhuma. Bebeu pra ficar soltinha, se deixou levar por um impulso que talvez não tenha sido muito racional: fez uma besteira gostosa. É fácil alegar amnésia alcoólica, não? Ela simplesmente “se deixou levar” após consentir os caminhos que estavam conduzindo seu próprio tesão a um ato sexual. As pessoas podem fazer coisas das quais se arrependem moralmente depois. Quando estão bêbadas afunilam os limites e fazem coisas que desejam de forma latente, mas que talvez evitassem se estivessem sóbrias. Ela declarou as passadas de mão que deu e permitiu. Pergunto: isso, de certa forma, não é sexo? Aí ela permanece passiva no ato? Será que talvez pela sensação alcoólica de moleza, porque é legal ficar indiferente ao outro, porque demonstra poder, porque seria conveniente para tirar o rabo fora? Por que as pessoas não cogitam as coisas? As pessoas precisam se preocupar em não serem injustas, mesmo porque a moça precisa de um pouco de semancol, mesmo que tenha sido realmente vítima.

Comportamento complexo

Pergunto: que credibilidade possui uma emissora que está transmitindo um estupro ao vivo e não o interrompe? Ela é cúmplice, não é? E se for uma simples estratégia de audiência? O Ministério Público fará algo contra esse abuso? Expulsaram o rapaz grudando nele um rótulo que, sendo realmente legítimo ou não, o acompanhará por onde ele for. Bem feito pra ele ou não, este é um assunto muito importante para ser tratado com tanta imperícia e vulgaridade.

Só por observação de uma detalhista: se ele realmente estava “copulando”, provavelmente esqueceu a camisinha. Que é isso, meu povo? Olha a política de saúde sexual, Rede Globo! Será que a possibilidade de realmente haver indícios de sêmen incrimina o rapaz, gente? O comportamento humano realmente é bem mais complexo do que aparenta.

Enquanto isso, ela só falará do assunto fora da casa. E fora da casa ela também mostrará as entranhas nas revistas de mulher pelada. Quer apostar?

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[Thalita Pacini é escritora, São Paulo, SP]