A ficção televisiva apresenta enorme receptividade junto às audiências, grande potencial entre os anunciantes e ampla possibilidade de comercialização internacional. Seu custo elevado, no entanto, tem impedido a realização de produtos unitários: torna-se mais vantajoso investir em telenovelas ou minisséries, que cada vez contam com mais capítulos, diluindo seus custos. Em decorrência disso, o telefilme tem sido um formato pouco explorado. Por definição, trata-se de um produto audiovisual ficcional, com duração variável entre 50 e 80 minutos. No que tange à sua distribuição, segue caminho inverso aos tradicionais filmes comerciais: sua primeira exibição ocorre na televisão, eventualmente migrando para as salas de cinema, especialmente as dedicadas aos chamados circuitos alternativos.
No caso brasileiro, a produção de telefilmes é pífia. Em contrapartida, produções norte-americanas e canadenses são amplamente exploradas em sessões de cinema com grande audiência, como a Supercine, da Globo. Em um passado recente, o SBT chegou até mesmo a apresentar a sessão Made for TV, exibida nas madrugadas e dedicada aos títulos produzidos em regime de baixo custo. Apesar de seu elevado potencial comercial, os telefilmes estrangeiros nem sempre contam com nomes conhecidos do cinema mundial. Mas há exceções, como o norte-americano Prayers for Bobby (2009), que contou com a atuação de Sigourney Weaver, bastante conhecida dos blockbusters e que chegou a ser vencedora do Golden Globe Awards (Globo de Ouro, em português), mesmo disputando com produtos audiovisuais de diversos formatos.
Formato unitário
Em dezembro de 2011, época dos tradicionais especiais de final de ano, as emissoras brasileiras aproveitaram para programar os telefilmes inéditos que estavam em seu catálogo. A realização dos títulos contou com a vinculação de produtoras independentes, cooperação necessária para captação de recursos federais via projetos de incentivo à produção audiovisual. No Especial Record de Literatura, a emissora homônima exibiu O Madeireiro (26/12), uma co-produção com a Contém Conteúdo; e O Menino Grapiúna (27/12), co-produzida com a Bossa Nova Filmes. Na sequência (29/12), a Globo programou Homens de Bem, produzida em parceria com a Casa de Cinema de Porto Alegre. Os horários de exibição, sempre após as 23 horas, somados ao padrão tecno-estético diferenciado, não resultaram em maior audiência. O mais curioso foi ver Rodrigo Santoro, cuja dedicação atual visa à participações em películas norte-americanas, novamente na tela da Globo; e Petrônio Gontijo, atualmente contratado da Globo, mas que durante a gravação de O Madeireiro ainda era contratado da Record.
Cabe ressaltar que a Globo tem sido a que mais investe na experimentação de formatos, ainda que sem tradição em telefilmes que, na verdade, não estão (ainda) incorporados ao fazer audiovisual nacional. Os atuais projetos da emissora atualmente contemplam desde minisséries de quatro, 16 e 30 episódios, a séries semanais com 30 minutos de duração (que se tornam expansíveis no vídeo mediante a inserção de intervalos comerciais). O formato unitário, como é o caso dos telefilmes, tem contemplado histórias cuja trama pode ser mais bem desenvolvida em um curto espaço de tempo e que, devido à sua essência narrativa, dificilmente funcionariam no núcleo de uma telenovela.
Direitos de comercialização
As recentes produções de telefilmes têm sido beneficiadas por recursos federais e estatais. No âmbito estadual, a Secretaria da Cultura de São Paulo selecionou, em 2011, através de seu Programa de Ação Cultural, 10 projetos que contemplavam a criação e o desenvolvimento de um roteiro inédito para produção de telefilmes, oferecendo recurso de R$ 40 mil para cada contemplado. Desta gama, quatro projetos foram contemplados para produção, sendo beneficiados com R$ 600 mil cada. Os contemplados na segunda etapa ainda têm direito a diárias de câmera digital e de estúdio, equipamento de iluminação e suporte técnico. Os telefilmes têm sua exibição assegurada na programação da TV Cultura.
Neste caso específico, a emissora fica com 60% da receita advinda dos direitos de comercialização do telefilme, em todas e quaisquer mídias, pelo período de 10 anos. Os 40% restantes da receita advinda dos direitos de comercialização são de propriedade de seus realizadores. Ainda possui cessão exclusiva dos direitos de exibição do telefilme em todas as mídias durante o período de um ano. Passado este período, a TV Cultura segue com o direito de exibição permanente, porém sem exclusividade.
***
[Valério Cruz Brittos e Andres Kalikoske são, respectivamente, professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e doutorando no mesmo programa]