Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Disney ‘censura’ documentário anti-Bush

A Walt Disney Company tenta bloquear a Miramax de distribuir o novo documentário do polêmico cineasta Michael Moore. Intitulado Fahrenheit 911, o filme critica duramente o presidente George W. Bush. Moore faz ligações entre Bush e membros de famílias sauditas – incluindo a de Osama Bin Laden – e faz críticas às ações do presidente antes e depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

A Disney, que comprou a Miramax há mais de dez anos, possui um acordo contratual com seus diretores, Bob e Harvey Weinstein, que lhe dá poder de proibir a empresa de distribuir filmes que tenham um orçamento estourado ou não sejam indicados a menores de idade. Mas executivos da Miramax, que se tornaram os principais investidores do projeto de Moore no ano passado, não acreditam que o documentário se aplique a algum desses casos.

De acordo com informações de Jim Rutenberg [The New York Times, 5/5/04], a Disney vêm enfrentando duras críticas de conservadores desde que a Miramax aceitou financiar Fahrenheit 911, depois que a Icon Productions, companhia de Mel Gibson, decidiu não fazê-lo. Um executivo da Disney afirmou que a companhia tem o direito de impedir a Miramax de distribuir certos filmes se considerar que eles vão contra os interesses da empresa. Segundo ele, o documentário de Moore vai contra os interesses da Disney não por causa das relações da companhia com o governo americano, mas porque seus produtos são consumidos por famílias de todas as linhas políticas dos EUA, e o filme pode incomodar muitas delas. A Miramax é livre para procurar outro distribuidor para Fahrenheit 911, mas este não seria um bom negócio, já que os lucros teriam que ser divididos.

Os filmes de Moore, como Roger e Eu e Tiros em Columbine, não dispensam as críticas contra o sistema americano. Por outro lado, têm se mostrado bastante lucrativos. Seu mais recente filme, Tiros em Columbine, vencedor do Oscar de melhor documentário em 2003, rendeu para a United Artists cerca de US$ 22 milhões nos EUA. Seus livros, como Stupid White Men – Uma Nação de Idiotas, contra o governo Bush, também obteve lucros com a venda de mais de um milhão de exemplares. Moore diz que Fahrenheit 911 descreve três décadas de conexões financeiras entre a família Bush e seus associados e importantes famílias da Arábia Saudita. Segundo ele, o filme ainda conta com depoimentos de soldados americanos no Iraque expressando sua desilusão com a guerra.

Pode ser apenas marketing

Michael Moore ganhou as páginas de jornais de todo o mundo ao denunciar que a Disney o estaria censurando ao se negar a distribuir seu novo filme. No entanto, como noticia The Independent [7/5/04], a polêmica que o diretor criou pode ser apenas um golpe de marketing.

Em entrevista para a CNN, Moore admitiu que já sabia há um ano que a Disney não queria distribuir seu filme. Ele vinha afirmando que soubera do veto apenas agora, alguns dias antes da estréia mundial, no Festival de Cannes, na França. De qualquer maneira, ninguém em Hollywood duvida que Fahrenheit 911 encontrará distribuidor.