É estranho ler um título como “Nessas horas a gente vê que Deus existe, diz analista”, publicado em página da Folha de S. Paulo (27/1) com noticiário sobre o desabamento de três prédios no Centro do Rio de Janeiro.
O entrevistado teve sorte. Faltou a uma aula no Edifício Liberdade devido a uma reunião de trabalho.
“Chegando em casa, vendo minha filha de um ano e minha mulher grávida, não tive como aguentar o choro. Nessas horas a gente vê que Deus existe”, disse.
A existência de Deus se comprova pela salvação de uma pessoa e não pela morte de tantas outras? Ambas as coisas decorrem do arbítrio celestial, ou nenhuma delas?
O que faz o senso comum supor que a vontade de Deus guia, de um lado, a mão de quem constrói errado ou de quem destrói uma estrutura, e, de outro lado, a agenda de trabalho de um sobrevivente?
Quem teme a marcha da humanidade em direção ao ateísmo ou à irreligiosidade pode suspirar aliviado. O reconhecimento dos poderes divinos por um dos jornais mais importantes do país mostra que isso ainda está longe de acontecer, embora menos longe do que em tempos idos.