“Ao pé da letra”, “deitar e rolar”, “zanzar por aí”. Locuções como estas estão na boca do povo, mas não é tão fácil encontrá-las nos dicionários convencionais. Pensando nisso, o economista – e também amante das palavras – Carlos Alberto de Macedo Rocha deu início a uma densa pesquisa que resultou no Dicionário de locuções e expressões da língua portuguesa. A motivação do projeto foi facilitar a vida de falantes e estudiosos, brasileiros ou não, já que o significado das nossas expressões nem sempre é bem explicado ou traduzido. Embora já existam alguns dicionários com esse intuito, a maioria deles traz termos sobretudo regionais, enquanto este promete justamente ser mais amplo e atualizado.
Outro problema apontado por Rocha em relação aos dicionários disponíveis hoje é a forma como eles são organizados: “Os dicionários em geral até têm muitas locuções, mas a busca não costuma ser prática”, diz o autor. “Já o material que organizamos pode agilizar – e muito – esse tipo de pesquisa; além de boxes explicativos para esclarecer algumas expressões, há um índice remissivo que ajuda a identificá-las”, explica.
A expressão “aos boléus”, por exemplo, é definida como “aos encontrões, com dificuldade”. No box que a acompanha, há um complemento, ou, como diz Rocha, uma curiosidade: “boléu significa exatamente queda, baque, trambolhão”. O índice, por sua vez, indica a existência da expressão (aos boléus) na entrada da palavra “boléus” – assim, é possível saber todas as expressões presentes no dicionário que incluem determinada palavra.
Três obras que se complementam
Em 704 páginas, o dicionário reúne quase 18 mil expressões, selecionadas de jornais, livros, propagandas, filmes e até redes sociais. “Ao longo de 10 anos, selecionei as mais correntes”, diz Rocha. “Não entraram nem as muito antigas, já em desuso, nem as mais novas, que ainda não se consolidaram”, afirma o autor, que concluiu seu trabalho com a ajuda do filho, o arquiteto Carlos Eduardo Penna de M. Rocha. O economista de 83 anos conta que, enquanto desenvolvia a pesquisa, o filho organizava todo o material no computador, com o auxílio de um programa adequado. O esforço da dupla resultou na publicação do material pela editora Lexikon, em novembro último.
O dicionário de expressões, ao lado de outros dois dicionários, faz parte de um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para enriquecer a bibliografia da área. “O objetivo das coleções é oferecer ao público instrumentos de consulta para suprir necessidades básicas no ensino e na pesquisa do português”, resume Ricardo Cavaliere, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade Federal Fluminense e coordenador do projeto.
Além da obra de Rocha, foram publicados pela Lexikon um dicionário etimológico, que trata da formação e datação das palavras, e outro sobre o repertório do escritor Machado de Assis – sua linguagem, estilo e temas recorrentes em seus livros. “As três obras, de autores diferentes, se complementam para cobrir questões ligadas à origem, evolução e expressividade da língua”, avalia o pesquisador.
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[Carolina Drago, do Ciência Hoje On-line]