Larry Rohter, do ‘New York Times’, jogou a responsabilidade sobre a imprensa brasileira. Como dizia a reportagem de ontem do ‘NYT’, escrita por Warren Hoge, destacada em manchete no UOL:
– Rohter, que fala português fluentemente, argumentou que a versão do seu artigo tinha sido mal traduzida na imprensa brasileira, ‘um fato que pode ter ampliado o mal-entendido’.
Disse mais, segundo seus advogados, em trecho destacado no site do ‘Valor’:
– O artigo [que escreveu sobre Lula no ‘NYT’] limita-se a veicular comentários… O texto não foi escrito para ofender o senhor presidente, embora as repercussões e polêmicas posteriores à reportagem possam ter lhe causado constrangimento.
Na revista ‘Veja’, o colunista Diogo Mainardi, uma das três ‘fontes’ de Rohter, também responsabiliza a imprensa:
– Minhas fontes foram Folha, ‘Estado’ e ‘Globo’. Consequentemente, foram também as fontes do ‘New York Times’.
Em ‘O Dia’, ontem, o colunista Claudio Humberto, outra ‘fonte’ de Rohter, foi na mesma linha, citando um texto de ‘O Globo’, há duas semanas.
‘O Globo’ contra-atacou com ironia, também em texto de ontem, comentando as desculpas do jornalista do ‘NYT’ :
– Apelido dado por jornalistas ao colega do ‘New York Times’: Sorry Rohter.
E o ministro Tarso Genro acrescentou, no site do jornal:
– O jornalismo americano é desqualificado. O jornalismo no Brasil não aceita esse tipo de baixaria.
George W. Bush deu entrevista ao ‘Washington Times’ dizendo que evita ler jornais, sobretudo ‘editoriais e colunas de opinião’, para não perder ‘a visão clara das coisas’. Seu secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, afirmou aos soldados no Iraque ter parado ‘de ler os jornais’. O ‘NYT’ deu editorial dizendo que os dois não querem é ler más notícias. Só as que favorecem ou as curiosas.
Por coincidência, o site da Casa Branca abriu nova home, como destacou o ‘Washington Post’, só para o cachorro de Bush, Barney. Traz uma ‘foto do dia’, todos os dias (acima), e tem uma BarneyCam, uma câmera em tempo real que segue o cão.
Mas a assessoria de comunicação de Bush disse que talvez o presidente participe de bate-papos, no futuro.
Belezas
Só boas notícias. A rádio Bandeirantes deu que ‘o governo pretende fazer uma divulgação maciça das belezas naturas e culturais do Brasil no exterior’. Ao custo de R$ 30 milhões.
Ibope
A revista ‘Veja’ noticiou que nova pesquisa Ibope, encerrada na segunda, registrou ‘melhora na avaliação do governo’. Seria efeito do programa do PT.
A revista se perguntou se, com a quase expulsão do jornalista, os ‘números viraram coisa do passado’. Para o marqueteiro Duda Mendonça, em ‘O Globo’, talvez:
– O caso arranha a imagem do presidente.
Reeleição
Alexandre Garcia disse na Globo, na semana, que ‘José Sarney resolveu desistir’ da reeleição para presidente do Senado. A ‘Veja’ voltou ao tema e registrou que, em votações, Sarney já atua contra Lula.
Luxemburgo
FHC não pára de dar entrevistas. Agora ele surgiu na revista ‘Cult’, menos como político, mais como intelectual. Quase um marxista. Dele:
– O que acontece é que nós vivemos sob a égide do capitalismo. Ele se tornou planetário. Veja a China. Algumas coisas ditas por Marx, nos últimos capítulos de ‘O Capital’, anteciparam isso. Rosa Luxemburgo também. A generalização do sistema capitalista.
Mais China
Também ‘Veja’ abriu amplo espaço, a exemplo da Globo, para a China que está para ser visitada por Lula ‘e sua supercomitiva de ministros, governadores e empresários’. Destacou os executivos brasileiros que estão aprendendo mandarim.
Sem vitória
De sua parte, o site da ‘Forbes’ deu longa entrevista com o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura), que buscou afirmar que ainda há muito trabalho a fazer para conquistar a China.
A ESTRELA SOBE 1
O chanceler Celso Amorim era descrito assim, anteontem na abertura de reportagem do ‘Wall Street Journal’ (acima, retrato do ministro no jornal):
– O influente ministro do exterior do Brasil disse que os países da Organização Mundial do Comércio concordaram nos planos quanto à agricultura, mas que um outro ponto -a redução de tarifas- está desafiando um acordo. Celso Amorim, um líder das agora essenciais nações em desenvolvimento do G20, disse que o grupo rejeita as estratégias dos EUA e da União Européia.
Também o ‘Financial Times’, em reportagem de ontem, destacava a opinião de Amorim, ‘que lidera o G20’, até sobre o representante comercial dos EUA.
A ESTRELA SOBE 2
O espanhol ‘El País’ não pára de entrevistar a esquerda brasileira. Ontem foi a vez de Gilberto Gil, ouvido ‘em seu duplo papel de ministro da Cultura e músico’. Foi descrito como ‘político e pensador’, ‘vestido elegantemente, mas mantendo sua proximidade habitual e seu sorriso expansivo’ etc. O título, publicado junto a uma foto de seu show em Barcelona (acima):
– Gilberto Gil considera ‘irreversível’ o avanço da música latino-americana.’
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‘Lula e os inimigos’, copyright Folha de S. Paulo, 14/05/04
‘Lula não recuou e perdeu um pouco mais de poder. As instituições recuaram por ele, na manchete que dominou sites como o UOL, à tarde, e os telejornais, à noite:
– Justiça suspende expulsão do jornalista americano.
Na CBN, o ministro do STJ que tomou a decisão teria dito que ela não deverá atrapalhar as relações da Justiça com o Poder Executivo.
Mas Lula resiste. Segundo o Jornal Nacional, para o governo ‘a decisão (do STJ) não anula o cancelamento do visto’.
Não faltam teorias, a começar de Leonel Brizola em ‘informe publicitário’, de que Lula estaria usando o escândalo em torno do ‘NYT’ para esconder notícias como o pequeno aumento do salário mínimo. Ele teria criado um inimigo externo.
A revista ‘Economist’ parece corroborar, em sua nova edição, com texto que abre declarando que planejava ‘usar este espaço para escrever’ sobre o crime no Rio, mas mudou de idéia com a decisão de Lula de expulsar o jornalista americano.
A expulsão, ontem, seguia com atenção ampla no mundo, de ‘Financial Times’ ao Poynter -o maior site sobre jornalismo nos EUA.
O ‘Painel’ de ontem na Folha informou que, privadamente, ‘Lula diz que a decisão terá boa repercussão interna. O público, acha ele, gosta de ver o Brasil ‘enfrentando’ os EUA’.
Mensagens aqui e ali, nos sites interativos, parecem sustentar a tese. Por exemplo, um de vários e-mails enviados ao site Blue Bus, que cobre mídia:
– O que mais se viu na mídia foi protecionismo escancarado dos jornalistas. E isso, nenhum -curiosamente- se deu conta, ficou muito evidente.
O ‘NYT’ bem que se esforça. Além de convocar o respeitado Warren Hoge para reportagens sobre o caso, o jornal teria feito um convite ao presidente para encontrar-se com seu conselho editorial, durante a visita de Lula a Nova York no mês que vem. Mas, segundo a Globo:
– O Planalto considerou o convite arrogante.
O ‘NYT’ se esforça mais. Em ‘O Globo’, o ombudsman do ‘NYT’ disse achar a reportagem ‘isenta’ por não se basear ‘em fontes anônimas’ e sim no que ‘as pessoas falaram’. Mas logo acrescentou:
– O que não ficou claro é se existe intenção política por trás do que as pessoas disseram do presidente. Eu não tenho essas informações, de que um é de oposição, o outro estava ligado a um presidente corrupto. Devia ter sido mais explicado.
Ele também disse ver como ‘problemática’ a foto de Lula na Oktoberfest:
– (A foto) só deveria ter sido publicada se o editor estivesse absolutamente convencido de que o presidente tem problemas por causa de bebidas.
ORIENTE
O que Lula mais escondeu com o caso ‘NYT’ foi a sua própria viagem à China, daqui a uma semana. A ‘Economist’ observou que ele até retomava a iniciativa, com ações como a entrevista a correspondentes estrangeiros sobre a China, mas pôs tudo a perder com a tentativa de expulsão.
Quanto à China, a Globo parecia já ter tudo preparado, com reportagem tratando dos ‘planos de investimentos bilionários no Brasil’ e uma análise de Míriam Leitão:
– A China é um grande mercado. Só de soja, o Brasil vende ao país US$ 1,3 bi. De minério de ferro, US$ 800 milhões. De aço, US$ 500 milhões. E têm aumentado as vendas a cada ano. Lula está indo num bom momento.
No site, toda uma seção foi lançada na segunda-feira, com o logotipo ‘Brasil & China – Uma aposta no futuro’ (acima), várias reportagens especiais sobre as relações comerciais e até mesmo um plantão de notícias.
Rede nacional
Como vem sublinhando ‘O Estado de S.Paulo’, seria uma ‘campanha nacional’ aquela de José Serra em São Paulo. Foi o que ele fez, no programa tucano em rede nacional.
É a saída para Serra se manter no páreo presidencial em 2006. E talvez tenha sido a razão para FHC faltar ao lançamento da candidatura, como destacava ontem a Jovem Pan.
PSDB e PFL
O PSDB descartou a candidata tucana no Rio, em favor do PFL, e quer o mesmo em São Paulo. José Pinotti, candidato pefelista, disse à Jovem Pan que não pensa em compor e oferece apoio só ‘no segundo turno’.
Ao Brasil
Para o ‘Wall Street Journal’, ‘muitos aplicadores financeiros parecem acreditar que o céu está caindo na América Latina’, mas não os economistas.
Sob o título ‘Os economistas gostam da América Latina’, o jornal diz que eles têm sugerido apostar na região. E concorda que ‘têm aparecido sinais de que o medo está escondendo os fundamentos’.
Libertador
O ‘Financial Times’ noticiou que quem está avançando sem parar na América Latina é a Fox de Rupert Murdoch. Como em outras partes, usa para tanto as transmissões de futebol. Por aqui, da Libertadores.
SÍMBOLOS
Uma pesquisa sobre hábitos de consumo pelo mundo, inclusive Brasil, mostrou que os produtos americanos e suas marcas -e até a cultura americana- estão a perigo, como noticiou a revista de publicidade ‘Ad Age’. ‘Um dos símbolos mais vívidos dos Estados Unidos no exterior’, o McDonald’s, segundo o ‘NYT’, em reportagem dias atrás, mostra não se preocupar:
– No Brasil, às vezes (as lanchonetes da rede) são alvo de demonstrações de esquerda na avenida Paulista, uma das principais de São Paulo, mas também é comum ver os manifestantes comendo no McDonald’s depois.
Pelo sim, pelo não, o ‘Wall Street Journal’ informou ontem que a McDonald’s Corporation apresentou uma série de novos comerciais aos jornalistas, em sua sede no Estado de Iowa. Serão veiculados pelo mundo inteiro, carregados de imagens e música, não de palavras, para transmitir que a empresa é global e não americana.
O comercial destacado pelo ‘WSJ’ em seu site mostra uma sacola do McDonald’s que é amassada e termina usada como bola de futebol, num shopping brasileiro.’
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‘Com a palavra, Lula’, copyright Folha de S. Paulo, 13/05/04
‘Lula vai recuar ou não? O Jornal Nacional jogou forte pelo recuo, em suas manchetes, pela ordem:
– A expulsão do jornalista é notícia no mundo todo como atentado contra a liberdade de expressão.
– O governo é criticado por entidades da sociedade civil, por políticos da oposição e também pelos aliados.
– Líderes dos partidos vão pedir ao presidente que reveja sua posição.
Com a palavra, Lula.
O ‘NYT’ convocou Warren Hoge, um sereno e respeitável veterano de sua Redação e de Brasil, onde foi correspondente, para a nova reportagem em que busca dar ordem à repercussão do episódio. Não deixa de ser, à maneira do vetusto jornal, uma bandeira branca.
O texto entrou no ar ontem à noite, no site, relatando a reação da sociedade civil e de políticos brasileiros como FHC, que antes se colocavam ao lado de Lula na crítica ao jornal.
A nova reportagem destaca que ‘o líder brasileiro reafirmou o plano de expelir o jornalista do ‘Times’.
O jornal ‘La Nacion’ foi longe no perfil do correspondente do ‘NYT’ no Brasil, Larry Rohter, ameaçado de expulsão por Lula e que estaria na Argentina.
Relacionou em texto separado as ‘polêmicas’ que Rohter teria acumulado durante a passagem pela Argentina:
– Em 2002, acusou Carlos Menem de ter recebido suborno de US$ 10 milhões de um agente iraniano para esconder suposta vinculação do Irã ao atentado contra a (sede da organização judaica) Amia.
Meses depois, ‘nova polêmica reportagem de Rohter relatava que os habitantes da Patagônia queriam um país independente’ da Argentina.
E Mônica Bergamo, na Folha, citou que Rohter tinha de FHC ‘uma imagem bem diferente daquela que divulgou de Lula’, mencionando reportagem de 2002 com ‘os maiores elogios’ ao tucano.
Na internet, outras polêmicas surgem em torno de textos de Rohter, inclusive reportagem a respeito do venezuelano Hugo Chávez.
O mesmo site do ‘NYT’ trazia pouco antes um despacho da agência Reuters, com o subtítulo ‘complô dos EUA?’ e o relato de ‘conversas em Brasília de que o governo americano está por trás’ de Rohter.
Citava para tanto declaração do líder tucano Arthur Virgílio, de que diante da reportagem ‘a política externa dos EUA’ é que parecia bêbada.
Larry Rohter não tirou a sua reportagem do nada.
Brasília e os seus ‘bastidores’ foram a fonte. Bastidores que continuam como antes.
Claudio Humberto insistia, ontem, na denúncia de compra de copos para bebida alcoólica pelo Palácio da Alvorada. E para quem queria saber como foi a decisão de expulsar o jornalista havia duas versões em torno do ministro Luiz Gushiken. Para Ancelmo Góis:
– Foi Gushiken, sempre ele, quem patrocinou a idéia.
Já para Ricardo Noblat:
– Gushiken foi voto vencido.
‘ESSA GENTE’
A Fox News bem que se esforçou, mas as cenas da decapitação não foram o bastante para responder às outras imagens -da tortura de iraquianos por americanos. Há dias que a CNN, o ‘NYT’ e outros expõem a controvérsia no governo americano, sobre a oportunidade de veicular as novas fotos.
Senadores viram ontem as imagens e até os partidários de George W. Bush saíram descrevendo como muito piores do que esperavam. O site Drudge Report destacou a declaração de um dos parlamentares republicanos:
– Não sei como essa gente foi parar no nosso Exército.
E tinha mais. A CBS anteontem entrevistou a soldado que protagonizou toda a primeira série de fotos (imagem acima) e que, na TV, responsabilizou seus superiores.
A mesma CBS voltou à carga ontem, no ‘60 Minutes II’, com o ‘vídeo caseiro feito por um soldado na prisão de Abu Ghraib’. Num ‘diário visual’, não tinha cenas de ‘abuso’, segundo a CBS, mas o próprio soldado dizia:
– Eu odeio aqui. Eu quero ir para casa. Quero voltar a ser civil. Nós atiramos em dois prisioneiros hoje.
A revista on-line Salon trouxe o comentário de que, com câmeras hoje à disposição de ‘virtualmente todos os soldados’, ‘tudo mudou’ na cobertura da guerra:
– O que é irônico sobre as fotos que estamos vendo é que os jornalistas não tiveram nada a ver com elas.
Sazonal
Míriam Leitão, falando no Bom Dia Brasil, informou que vêm aí notícias econômicas para o período eleitoral:
– O país está crescendo. E nos próximos meses devem sair bons números para a economia, como a queda do desemprego, que sazonalmente ocorre no fim do segundo trimestre.
Recuperação 1
O ‘Financial Times’ destacou, em título e longa reportagem, que os dados sobre a indústria ‘se somam às evidências de crescimento do Brasil’.
Uma segunda reportagem do ‘FT’, também em sua edição de ontem, detalhou que agora é ‘o Brasil corporativo que começa a se recuperar’.
Recuperação 2
O ‘Wall Street Journal’ vê também ele boas notícias para as corporações latino-americanas, destacando a boa recepção às ofertas de ações por empresas como a Natura.
Brasil no Iraque
Em meio ao choque verbal de Brasil e EUA no caso ‘NYT’, a BBC deu que o governo Lula foi ‘convidado para a reconstrução do Iraque’. As empresas daqui poderiam participar em serviços e infra-estrutura.
Bom dia
Enquanto o ‘WSJ’ trazia novo editorial contra os subsídios agrícolas, o Bom Dia São Paulo, da Globo, noticiava que ‘o bom desempenho do setor agrícola brasileiro tem chamado atenção de empresários da Europa e até da Ásia’.
E seguia uns dinamarqueses pelo interior paulista.
Quase humilde
Em mais uma de suas palestras concorridas, agora aos donos de supermercados, FHC criticou, sem citar nomes, os políticos que ‘vendem ilusões’, como destacou a CBN.
Mais importante, admitiu que ele próprio vendeu as suas, em campanha. Mas foi a pedido dos marqueteiros.’
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‘Lula expulsa’, copyright Folha de S. Paulo, 12/05/04
‘Lula não vinha mal, em sua reação à reportagem do ‘New York Times’. Ontem até FHC achou por bem dar seu apoio, em ‘O Globo’:
– Estranho que um jornal dessa importância tenha dado abrigo a tamanha leviandade. Eu conheço Lula há 30 anos e não vejo nenhuma razão para o jornal fazer tal suposição.
Avaliou que a reportagem ‘desmoraliza todos nós’. Era o que faltava: alguém afirmar que se tratava de um ataque à nação e não a Lula.
E aí o presidente determinou a expulsão de Larry Rohter, autor da reportagem do ‘NYT’.
Até o Jornal Nacional, que no dia anterior tinha evitado entrar no assunto, acabou destacando o ‘cancelamento do visto’ do jornalista e as primeiras reações da sociedade civil.
Depois de um ano e meio se afastando de figuras como Hugo Chávez e demais populistas pouco afeitos à democracia, de uma canetada Lula se igualou a eles todos.
Para registro: um ano e meio atrás, num momento em que Lula era estigmatizado no Brasil, um editorial do mesmo ‘NYT’ se levantou em defesa do petista -dizendo que havia dedicado duas décadas à construção de seu partido e, diferente de Hugo Chávez, tinha compromisso com a democracia.
De Ricardo Kotscho, assessor de Lula, ontem na Cultura e TVE, afirmando que o governo falou com o ‘NYT’ para buscar ‘uma outra saída e eles tiveram uma atitude cínica, não pediram desculpas, não recuaram um milímetro’:
– Foi uma posição extrema do governo, para um caso muito grave, uma ignomínia. Não podia o governo brasileiro, diante de tal ofensa à honra nacional, na figura do presidente, ficar sem fazer nada.
Os demais participantes do programa questionaram, em uníssono, o ataque à liberdade de imprensa.
Claudio Humberto, colunista e uma das três ‘fontes’ do ‘NYT’ para noticiar que Lula tem problemas com bebida, se defendia ontem:
– Esta coluna, citada pelo ‘New York Times’, reafirma o compromisso com a apuração rigorosa. A claque governista, no Planalto e na mídia, tenta desqualificar o mais importante jornal do mundo e esta coluna.
E encerrava com mais uma piada infamante, mas adequada, no dia de ontem:
– A coluna sugere um slogan a Lula: governe com moderação.
‘SOFTWARE LIBRE’
Sites em espanhol, inclusive ‘El País, mas principalmente os alternativos como Universia.es, passaram a última semana em êxtase com um congresso de ‘software libre’ na Espanha.
Nas reportagens, o destaque era quase sempre para um brasileiro, Marcelo D’Elia Branco, citado como das ‘estrelas mundiais do software livre’, ao lado de Richard Stallman, também presente.
Branco é o coordenador do projeto de software livre brasileiro, que prevê a troca da Microsoft, que consome US$ 1,1 bilhão do orçamento federal, pelo gratuito Linux (acima, uma das várias versões do símbolo do Linux).
Enquanto isso, o ‘New York Times’ noticiava no fim de semana que a Microsoft se debate para achar uma maneira de penetrar nos mercados emergentes. O jornal destacou quatro países (Brasil, Rússia, Índia e China), em que a gigante não consegue crescer. O esforço que vem fazendo, segundo o ‘NYT’, visa reagir à Linux.
O Rediff.com, site da Índia, destaca por sua vez que a Microsoft começa a ceder. Uma razão seria o número crescente de governos, entre eles Brasil, China e México, que começam a priorizar o software livre. A mostra mais flagrante disso era lida no site mexicano Ayacnet:
– A gigante Microsoft vai patrocinar, em novembro, parte da conferência mundial de software livre no Brasil.
A ‘comunidade linuxera do Brasil’ não gostou, diante do histórico de ‘combate’ da Microsoft ao software livre.
Eu-não-disse
A combinação de duas manchetes do JN (‘indústria tem o melhor desempenho em três anos’ e ‘mercado financeiro tem recuperação’) causou mais do que alívio, ontem.
O ministro Luiz Furlan, com a fisionomia impaciente, como a expressar eu-não-disse, surgiu já à tarde no site do ‘Valor’ e logo depois na Globo News:
– Eu havia dito que os dados indicavam crescimento muito sólido. Isso já nos leva a uma velocidade superior à meta de 3,5% de crescimento este ano.
Outras vezes
Nem velhos integrantes da equipe econômica tucana escondem mais o otimismo. Ontem, da Globo:
– O ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda Amaury Bier e o ex-diretor de política monetária do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo lembram que o Brasil está com bons indicadores. E que não há um grande país à beira de colapso, como das outras vezes.
Das vezes deles.
Genro
Se o ‘NYT’ está no ataque, o ‘El País’ abriu suas páginas a Lula e colegas. De Marta Suplicy a João Pedro Stedile e agora Tarso Genro, ministro da Educação, o jornal espanhol vem publicando longas entrevistas com a esquerda brasileira. Genro se gabou de Porto Alegre, do Fórum Social Mundial, das cotas para negros na universidade etc.
Esportes
Um novo livro, desta vez de um jornalista próximo a George W. Bush, comentarista da Fox News, detalha a relação do presidente dos EUA com a imprensa, segundo o ‘Washington Post’.
Ele só recebe quatro jornais (‘New York Times’, o próprio ‘Post’, ‘Washington Times’ e ‘USA Today’), passa os olhos pela primeira página e por mais uma ou outra seção.
E vai para a seção de esportes.
Empreiteiras
A rádio Bandeirantes foi atrás do procurador, para falar sobre o caso Paulo Maluf, e ouviu dele que agora está atrás de ‘empreiteiras suspeitas de executarem obras superfaturadas’.
Ano eleitoral
Da Globo, ontem:
– As denúncias de contas milionárias em paraísos fiscais, envolvendo Maluf, já tiveram um efeito na disputa pela Prefeitura de São Paulo. José Serra, do PSDB, decidiu se candidatar.
Sites e outros noticiários confirmaram a decisão e já relatavam as reuniões de campanha.
‘Uma forcinha’
Esqueceram de avisar Saulo Abreu de Castro, até então um dos pré-candidatos tucanos em São Paulo. Seus assessores teriam ligado ontem para as rádios, pedindo ‘uma forcinha’, segundo a Bandeirantes.
E à noite lá estava o secretário, no Cidade Alerta, da Record.’
COMUNICAÇÃO E CONTROLE
‘O verdadeiro Big Brother’, copyright Boletim AEPET, 13/05/04
‘O volume global de comunicações em 2003 andou por volta dos 180 milhões de minutos. É a soma de telefonemas de todos nós, correios eletrônicos, faxes e etc. Os serviços de inteligência, sobretudo o enorme aparato dos Estados Unidos, à sua cabeça a National Security Agency, tratam de grampear cada impulso dessa movimentação supostamente privada, envolvendo trocas de informações. O argumento é a guerra contra o terrorismo, que será longa, vão logo dizendo, talvez uma nova guerra dos trinta anos. Ou mais NSA, CIA, FBI e outras agências do gênero do governo americano consomem 30 bilhões de dólares por ano. É uma tropa de choque de 30 mil pessoas, com a tarefa de bisbilhotar em operações que alcançam os quatro cantos do universo. Seus agentes trabalham com 115 línguas e dialetos diferentes. Não há forma de expressão que não seja entendida ou distância que escape de instrumentos de escuta e gravação que parecem rivalizar-se com a idéia de infinito. A intimidade eletrônica se torna coisa de um passado remoto, mesmo em seus níveis de mais baixa intensidade.
E o direito à privacidade, sagrado em democracias que se prezam?A escuta judiciária é autorizada por todas as partes. Mas é fenômeno recente. Na França, por exemplo, é regulamentada por uma lei de 1991. O grampo agora reivindica passe livre no campo de ‘segurança’, cuja abrangência, antes decidida em porões e não em tribunais, se alarga por meio de concessões legais. Alemanha e Dinamarca já o aceitam por motivos ‘estratégicos’. Canadá e Luxemburgo abriram as torneiras. O Conselho da Europa adotou soluções facilitando as escutas. Ainda discute condições.
O golpe mais profundo é nos Estados Unidos de Bush, com o chamado ‘Patriot Act’, aprovado depois dos ataques terroristas de setembro de 2001. O FBI ganhou poderes quase absolutos de quebra de privacidade. Pode até exigir acesso a arquivos de bibliotecas e livrarias, para saber o que ‘suspeitos’ lêem. O retrocesso é tão radical que mesmo os parlamentares republicanos, gente de Bush, hesitam em renovar a vigência do ‘act’ no ano que vem. É o plano interno. No externo, a NSA americana comanda o ‘controvertido’ sistema Echelon, com seis postos de captação da Europa e Pacífico, ampla rede de espionagem eletrônica, denunciada pelo parlamento europeu.
Diz-se que nada, por mais recôndito ou diminutivo que seja, escapa do Echelon. É o tema (e o título) de um livro por enquanto só disponível na Nova Zelândia, de autoria de Nicky Hager, um neolandês de 35 anos. O trabalho investigativo de Hager partiu do papel do Gesb (serviço secreto da Nova Zelândia) na rede cujo quartel-general está em Washington. Seus agentes, segundo Hager, passam os dias lendo correios eletrônicos, faxes e transcrições de conversas telefônicas de governantes, políticos e empresários de toda a área do Pacífico. Feita a triagem, o que é considerado ‘relevante’ vai para a NSA.
O Gesb, que forneceu as primeiras pistas, é pequena porção de gigantesca engrenagem. Fazem parte o ‘Defence Secutiy Department’ (DSD) da Austrália, o ‘Communication Secutiy Establishment’ (CES) do Canadá, o Government Communications Headquarter (GCHQ) da Inglaterra e o Gesb. Todo o universo fica na alça-de-mira desse quinteto, que dispõe do mais amplo e mais sofisticado sistema de satélites do mundo. A área latino-americana é controlada pelo Canadá. O Pacífico pela Austrália e Nova Zelândia. A Europa pela Inglaterra. O big brother, no comando geral, é a NSA americana.’