‘O secretário de Estado, Colin Powell, deu uma bronca ao vivo em sua assessora de Imprensa, que tentou encerrar uma entrevista dele à televisão no domingo. Falando da Jordânia, Powell estava escutando a última pergunta do entrevistador Tim Russert, da NBC, que estava em Washington no estúdio do programa Meet the Press. Na gravação, levada ao ar várias horas depois que a entrevista havia sido feita, Powell desaparece repentinamente da câmera.
Por alguns momentos, ficaram a vista palmeiras e a água do mar, cenários para a entrevista. Powell então pode ser ouvido dizendo para a assessora:
‘Ele ainda está fazendo uma pergunta.’ O secretário disse, então, a Russert:
‘Tim, desculpe, não ouvi o que falou.’ Russert respondeu: ‘Não sei quem fez isso. Acho que foi alguém de sua equipe, senhor secretário.’ O âncora acrescentou: ‘Não acho isso adequado.’ Com as câmeras ainda focalizando a água, Powell pode ser ouvido dizendo: ‘Emily, não atrapalhe’.
A NBC identificou a assessora como Emily Miller, vice-secretária de imprensa. Então, ele instruiu a equipe a ‘trazer a câmera de volta’, e disse a Russert para fazer a última pergunta. Depois que Powell respondeu, Russert agradeceu ao secretário por sua ‘disposição em barrar a tentativa de sua assessora de cortar a nossa discussão abruptamente’.
A porta-voz do departamento de Estado, Julie Reside, disse que Powell havia programado cinco entrevistas uma depois da outra e a NBC havia ultrapassado o limite de tempo acordado entre todos. Havia outras emissoras na fila com horário de satélite reservado. (AP)’
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‘Rumsfeld autorizou torturas, diz ‘New Yorker’’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/05/04
‘O semanário New Yorker diz em artigo que sairá em sua edição de amanhã que as torturas e maus-tratos impostos por soldados americanos a presos iraquianos são resultado de uma decisão aprovada secretamente em 2003 pelo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld. ‘As raízes do escândalo que sacudiu os EUA não repousam nas tendências criminosas de alguns soldados, mas na decisão aprovada por Rumsfeld no ano passado’, diz o articulista Seymour Hersh.
A medida adotada pelo chefe do Pentágono teria por objetivo ‘ampliar os limites de um programa altamente secreto para fustigar a Al-Qaeda (rede terrorista do saudita Osama bin Laden) nos interrogatórios de prisioneiros no Iraque’, ressaltou Hersh, citando como fonte funcionários da ativa aposentados dos serviços de inteligência.
Segundo o articulista, as fontes revelaram que o programa ‘estimulava a coerção física e as humilhações sexuais de prisioneiros iraquianos para obter deles mais informações sobre o crescente movimento de resistência e insurreição no Iraque’.
‘Façam deles o que quiserem’, era a ordem recebida pelos militares encarregados dos interrogatórios, acrescentou Hersh com base em suas fontes, ressaltando que o plano partiu de Stephen Cambone, subsecretário da Defesa para Inteligência, recebendo aprovação imediata de Rumsfeld e do chefe das Forças Armadas, general Richard Myers.
Tropas ficarão – Contrariando declarações de altos membros de seu gabinete e apesar da morte de mais cinco soldados americanos, o presidente George W. Bush afirmou ontem que as tropas dos EUA vão permanecer no Iraque até que o país possa se defender por si só. ‘A missão decisiva de nosso Exército é garantir a segurança do Iraque e, por isso, ele permanecerá lá em 1.º de julho e depois’, disse Bush em seu habitual programa radiofônico dos sábados.
No dia anterior, tanto o secretário de Estado, Colin Powell, quanto o administrador americano para o Iraque, Paul Bremer, haviam dito que as forças anglo-americanas deixariam o país se esse fosse o desejo do governo provisório iraquiano que assumirá em 30 de junho. ‘Mas, como estamos ali para apoiar o povo iraquiano, não tenho dúvidas de que o governo interino nos dará boas-vindas’, acrescentara Powell, repetindo uma ponderação de Bremer – imediatamente acatada por Grã-Bretanha, Itália e Japão, que mantêm tropas na região.
‘Nossas tropas não deixarão o Iraque, enquanto aquele país tiver dificuldades para defender-se’, insistiu Bush, ressaltando os Estados Unidos já trabalham nesse sentido em conjunto com os líderes iraquianos.
Referindo-se depois às torturas impostas por soldados americanos a presos iraquianos, o presidente foi categórico: ‘Minha administração e nossos militares estão absolutamente determinados a não permitir que tais abusos se repitam.’ E acrescentou: ‘Todos os americanos sabem que as ações de uns poucos não refletem o verdadeiro caráter das Forças Armadas dos Estados Unidos.’
Concluindo, Bush classificou de ‘ato selvagem’ a degola do americano Nicholas Berg por extremistas iraquianos. ‘Só há um caminho para por fim ao terror: temos de confrontar o inimigo e manter a ofensiva até que esses assassinos sejam derrotados.’
No cenário das ações militares, o sábado foi marcado por um grande número de baixas. Forças americanas perderam mais 5 soldados, mataram 21 iraquianos e feriram 10 durante conflitos nos subúrbios de Bagdá, a capital, e outras regiões, como Mossul, ao norte. (Associated Press, Reuters, EFE, France Presse e DPA)’
Michael Browning
‘Imagens capazes de mudar a História’, copyright O Globo / The New York Times, 14/05/04
‘Guerras podem ser reduzidas a momentos, memórias, pequenos episódios. Nos Estados Unidos, fotografias valem mais do que mil palavras. Dez anos da Guerra do Vietnã foram resumidos em quatro imagens. Eddie Adams registrou o instante em que o general Nguyen Ngoc, do Vietnã do Sul, executou um prisioneiro vietcong numa rua de Saigon, em 1968. Nick Ut fez a foto da menina correndo nua pela estrada depois do ataque com napalm em 1972. Ron Haeberle fotografou corpos de vítimas do massacre de My Lai, em 1968. E John Filo focalizou Mary Ann Vecchio gritando sobre o corpo de um colega de escola morto pela Guarda Nacional durante um protesto na Kent State University, em 1970.
Poder-se-ia argumentar que essas fotos modificaram todo o equilíbrio da opinião pública sobre a guerra. O que aconteceu nos campos de batalha tornou-se irrelevante diante do que ocorreu quando certos fótons neutros se concentraram para formar imagens e chegaram às retinas e mentes do público americano.
Da mesma maneira, as fotos dos prisioneiros iraquianos sendo torturados e humilhados na prisão de Abu Ghraib foram um golpe doloroso para o poder americano e seu prestígio no mundo. As pequenas lentes das câmeras digitais, e o que elas testemunharam, provaram ser mais chocantes e terríveis do que o choque e pavor dos mísseis de cruzeiro e das bombas fura-bunker lançados no início da guerra.
É impossível escapar do sombrio pressentimento de que com essa série de cliques pornográficos, esses registros de comportamento barato, toda a guerra no Iraque tenha sido resumida e talvez irrevogavelmente perdida, ou imensuravelmente alongada, ou ambos. As suspeitas do mundo de 1,2 bilhão de muçulmanos sobre os EUA foram certamente confirmadas, afiadas, renovadas e validadas fotograficamente.
Algumas noites de atos vulgares e cruéis de um punhado de soldados quase anularam os sacrifícios de milhares de militares, puseram em risco o trabalho do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, e colocaram o governo Bush na defensiva. O fotógrafo Henri Cartier-Bresson costumava chamar esse tipo de foto de ‘o momento decisivo’.
– Susan Sontag certa vez disse que fotos são inúteis sem palavras acompanhando-as. Estava errada. Essas fotos enterram palavras. São a surpreendente prova do poder da imagem de informar e esclarecer – diz Neal Ulevich, fotógrafo aposentado que ganhou o Prêmio Pulitzer em 1977 por registrar estudantes de esquerda sendo linchados em Bangcoc, na Tailândia.’
Folha de S. Paulo
‘Novas fotos de tortura chocam senadores’, copyright Folha de S. Paulo, 13/05/04
‘Imagens inéditas de tortura e humilhação sexual de iraquianos por militares americanos mostradas ontem no Senado dos EUA chocaram vários congressistas ao exibir cenas que, segundo o líder republicano (governista) na casa, vão ‘muito além nas situações’ expostas em imagens divulgadas nas últimas duas semanas pela imprensa. As cenas, disseram senadores, reforçam a necessidade de punir os responsáveis.
Pouco antes da sessão que gerou críticas contundentes e preocupação entre os legisladores, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, defendeu parte das técnicas de coação empregadas na prisão bagdali de Abu Ghraib, rechaçando afirmações de que elas violassem as Convenções de Genebra, que garantem tratamento humano a prisioneiros de guerra.
Rumsfeld não fez menção à tortura nem ao constrangimento sexual que chocaram os congressistas, abusos pelos quais ele já havia assumido a responsabilidade, em última instância, por ser o último na cadeia de comando antes do presidente George W. Bush. Mas disse, a um comitê do Senado, que técnicas como a supressão do sono, alterações alimentares e a manutenção de prisioneiros em posições de estresse foram aprovadas por advogados do Pentágono e condizem com as convenções.
Em resposta, o senador democrata Richard Durbin afirmou que essas técnicas ‘vão muito além’ das Convenções de Genebra (1949). O artigo 26 da Terceira Convenção, por exemplo, determina que ‘rações diárias de comida devem ser providenciadas em quantidade, qualidade e variedade suficiente para manter os prisioneiros com boa saúde’ e que ‘medidas disciplinares coletivas envolvendo alimentação são proibidas’. Já o artigo 89 permite a supressão de privilégios garantidos pelas convenções no caso de sanção disciplinar, mas enfatiza que ‘em nenhum caso as punições devem ser desumanas, brutais ou perigosas à saúde do prisioneiro’.
‘Descida ao inferno’
Numa sessão que durou cerca de três horas -com 45 minutos dedicados à exibição de slides- deputados tiveram acesso a mais de mil imagens de prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib. Segundo a TV CNN, cerca de 400 retratam abusos ou tortura.
Caberá ao governo decidir se as imagens serão divulgadas.
‘Eu diria que, pelo menos para mim, o que vimos é aterrador. É consistente com as fotos vistas na imprensa até agora, mas vai além em vários aspectos em termos das atividades retratadas’, disse o senador Bill Frist, líder republicano.
‘Há cenas horríveis. Eu me senti descendo ao inferno, e, infelizmente, isso é nossa criação’, disse Durbin. ‘Quando você começa a pensar no sadismo, na violência, na humilhação sexual, você desiste, não dá para agüentar.’
Um exemplo é uma foto que, segundo fontes da CNN no Pentágono, mostra prisioneiros sodomizados com lâmpadas químicas -tortura citada no relatório investigativo do general Antonio Taguba. Na semana passada, Rumsfeld, que já tivera acesso às fotos tiradas pelos próprios encarregados da prisão, já dissera que as novas imagens mostrariam ‘coisa muito pior’.
O Departamento da Defesa está conduzindo uma extensa investigação sobre a tortura no Iraque, enquanto o Congresso tem realizado sucessivas audiências sobre o caso com membros do governo e oficiais militares. Democratas pedem a renúncia de Rumsfeld, homem forte do governo Bush.
‘Eles [os responsáveis] devem ser indiciados criminalmente’, disse a senadora democrata Dianne Feinstein. Mais dois militares foram indiciados. Os sargentos Javal Davis, 26, e Ivan ‘Chip’ Frederick 2º serão submetidos a corte marcial, mas a data não foi marcada. Até agora, nove militares já foram indiciados.
A general Janis Karpinski, comandante da brigada responsável por Abu Ghraib quando os abusos ocorreram, afirmou que foi contra ceder o controle da prisão a oficiais de inteligência, mas foi desautorizada.
Segundo o general Taguba, nenhum comandante deu ordem de tortura, embora tenha havido ‘falhas de comando’. Mas, segundo o jornal ‘The Washington Post’, Karpinski coloca no centro das decisões que deram margem aos abusos o general Ricardo Sanchez, chefe das tropas no Iraque, e o general Geoffrey Miller, o novo responsável pelas prisões no Iraque e ex-responsável por Guantánamo -a prisão em Cuba onde os EUA mantêm suspeitos de terrorismo e onde, segundo Rumsfeld, não são aplicadas as Convenções de Genebra.
Segundo a general, Miller lhe disse, em um encontro antes de assumir, que queria tornar Abu Ghraib ‘igual a Guantánamo’.
Taguba confirmou que Karpinski protestou, mas enfatizou que ela manteve a autoridade sobre parte dos guardas, o que a torna imputável.
Também a recruta que se tornou o maior símbolo do escândalo ao ser fotografada maltratando prisioneiros, Lynndie England, afirmou ontem que agiu sob ordens e que as fotos em que aparece seriam usadas como instrumento de pressão psicológica. England, 21, será submetida à corte marcial e poderá ser condenada a 15 anos de prisão. Com agências internacionais’