A matéria da Folha de S. Paulo a meu respeito, infamante em sua natureza, atribui-me um delito ético a pretexto de discutir um padrão de conduta para os jornalistas. Fosse mesmo este o seu objetivo, teria trazido vasto levantamento de nomes e situações discutíveis e conhecidas. Não acho que deva pôr minha vida profissional em discussão nas páginas daquele jornal. E tendo tido meus argumentos reduzidos e fragmentados, julguei ocioso reivindicar ali qualquer espaço para externar minhas restrições à matéria ou sequer para manifestar minha indignação. Em consideração ao artigo de Alberto Dines, e à propriedade do Observatório da Imprensa como espaço para discussão de questões da imprensa e do ofício, farei alguns comentários.
Tenho convicção de que não cometi qualquer delito ético-profissional ao aceitar escrever, para uma coleção publicada pela Câmara dos Deputados, os Perfis Parlamentares, a biografia de Cristina Tavares. Como jornalista, foi ela uma das primeiras mulheres a se projetarem na reportagem política. E em tempos difíceis, de censura e cerceamento. Como deputada, esteve entre os que mais se bateram pela liberdade de imprensa e pela democratização dos meios de comunicação. Como recordou Dines, foi dela a proposta original para a criação do Conselho de Comunicação Social hoje existente. Recordei ainda ao repórter sua destacada atuação no combate à ditadura e na defesa dos direitos da mulher, tema que introduziu na agenda parlamentar. Com ela convivi muitos anos, acompanhando sua trajetória política singular e irrepreensível, ainda que idiossincrática. Estas são as razões que motivaram o convite e me fizeram aceitá-lo, não a remuneração, que julgo insignificante (R$ 15,6 mil brutos, R$ 12 mil líquidos). Mas, na matéria, restou apenas esta última referência, como se fosse um reclamo pecuniário. O contrato está disponível na página da Câmara na internet há alguns meses e o trabalho será publicado em breve. Jamais tiveram nada de oculto.
A natureza memorialística do trabalho em nada o relaciona com os vivos da política contemporânea sobre os quais escrevo na coluna do Globo. Nela, ao longo dos últimos 18 anos, já fiz reiteradas críticas e reparos, e também elogios, possivelmente mais parcos, ao Congresso e a parlamentares.
Não creio que os manuais devam impedir o exercício intelectual dos jornalistas fora de sua rotina. Fosse assim, não poderiam outros explorar sua competência para fazer palestras remuneradas, contra as quais, vale dizer, nada tenho contra. Devemos discutir, sim, o jornalismo e a conduta profissional, a liberdade de imprensa e seus excessos, a fronteira entre privacidade e interesse público, e outros aspectos críticos de nossa atividade. Mas acho estranho e perigoso que, a pretexto de tal debate, inaugure-se uma espécie de jornalismo inquisitório sobre jornalistas, tentando sujeitá-los todos ao manual de um jornal.
Tereza Cruvinel, jornalista, Brasília
Não espanta
Esse comportamento do jornal [no caso Tereza Cruvinel] causa indignação, mas não espanto. É típico de uma empresa que se quer impoluta, moralista e árbitra do reto proceder, mas que esquece/esconde sua verdadeira história, em parte – parte essencial – recuperada por Beatriz Kushnir no livro Cães de guarda – Jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de 1988. Livro que, curiosamente, o jornal aparenta desconhecer.
Pericles Trevisan, São Carlos
O Manual e suas conveniências – Alberto Dines
OI NA TV
Infelizmente não tenho podido assistir ao programa, pois foi tirado do ar por causa dos programas regionais. Não sei se isso poderia acontecer. Um programa de alto padrão a gente tem que ficar sem… Não tenho TV a cabo nem UHF. Fiquei muito triste em perder esse programa às terças-feiras. Não sei o que vocês poderiam fazer, mas fiquem certos de que faz falta. Desde já agradeço sua atenção e espero que isso possa ser resolvido em breve. Esqueci de dizer que moro em Curitiba.
Tania Marcia Miller, artesã, Curitiba
CÂMERA ESCONDIDA
Toda profissão tem um lado ruim, quero crer. Um administrador de empresas poderá ter de enfrentar um fiscal corrupto e, sob ordens do presidente, corromper porque, em casa, a família depende de seu trabalho, não obstante não aceitar a corrupção; um zagueiro deverá, num lance qualquer, violentar o direito do atacante de saber driblar e chutar-lhe a canela, não obstante integrar o grupo de ‘atletas de Cristo’; um comerciário deverá, uma ou outra vez, vender um produto ruim porque seu caixa está a descoberto.
Enquanto escrúpulos e princípios de brio não se elevarem sobre a necessidade premente do agora e do já, todas as profissões continuarão com seu lado ruim. A ‘câmera escondida’ mostra-se mesmo uma ferramenta prática, mas denunciadora de profissionais feitos à metade. O texto de F. Borges tem o compromisso de juntar-se a outros tantos, para que outros tantos sejam redigidos e, estes, ‘puxarem’ outros tantos ainda. Assim, algumas profissões terão menos cancros com o passar dos tempos.
Sergio dos Santos, redator/revisor, Caieiras, SP
Até onde vai o disfarce dos jornalistas? – Fábio Borges
SOCORRO DO BNDES
Como dito por Alberto Dines, é necessário que esta discussão figure em todas camadas da sociedade. Nós, alunos de Comunicação (grande parte de Goiânia) estamos fazendo a nossa parte. Discutimos a (im)parcialidade da comunicação, discussão esta que começou com o anuncio do financiamento do BNDES às empresas de comunicação. Caso queiram colaborar mais efetivamente para nossa discussão, estamos hospedados no yahoogrupos.com.br, e o nome do nosso grupo é ‘enecosgyn’. Apareçam.
Pedro Palazzo, estudante de Comunicação, Goiânia
O maior desafio da mídia é a ética – Murilo César Ramos
REAJUSTE DO MÍNIMO
Isso é ‘jornalismo’? O site (www.estadao.com.br) exibiu durante quase toda a tarde do dia 13/5 uma reportagem com a seguinte manchete: ‘Salário mínimo – Relator propõe trocar o avião de Lula por um mínimo maior. Segundo o relator da MP, se Lula ficar sem seu avião novo e sem 2.700 novos contratados, é possível aumentar o mínimo para R$ 275.’
Ao ler a reportagem, ficamos surpresos ao saber que não ‘bastariam’ os R$ 143,8 milhões do avião, os R$ 93,5 milhões das contratações… e sim mais R$ 1,7 bilhão da reforma agrária, e ainda R$ 312,4 dos ministérios. Só assim se chega aos R$ 2,2 bilhões necessários para aumentar o mínimo para R$ 275. Isso é jornalismo ou direcionamento? Depois não se sabe por que a imprensa é tão criticada.
Elaine Santos, bancária, Brasília
MALUF NA BERLINDA
Se o título do artigo é ‘Maluf na berlinda – Um fato e as interpretações’, gostaria de questionar por que o jornalista Sidney Borges não analisou as interpretações dos outros canais de televisão e outros meios de comunicação. A postura tendenciosa da Globo, na minha opinião, já não é nenhuma novidade em relação a Paulo Maluf, seja em sua vida privada ou pública. No trecho em que Sidney declara que Maluf mentiu ao dizer que nunca teve contas no exterior, ‘pois a assinatura do depósito é do próprio político’, quem omite a verdade é o jornalista que assina a matéria. O que se vê nos documentos é que a assinatura é igual à de Paulo Maluf, mas nenhuma perícia comprova que seja dele. Por que a Polícia Federal não atuou no caso enquanto as supostas contas estavam sendo movimentadas? Por que só em época de eleição esses escândalos ganham espaço na mídia?
André Victor Sartorelli, estudante, São Paulo
À espera do quê?
Destacadas figuras da política nacional habituaram-se ao longo de décadas a mostrar sem cerimônia a que vieram e o respeito que têm pelos seus concidadãos: nenhum! A Justiça deveria confiscar-lhes os bens e metê-los na cadeia, onde poderiam escrever ‘As memórias dos ladrões’, com prefácio de todos aqueles que os ajudaram a espoliar o Erário.
Marcos Pinto Basto