Talvez a afirmação que melhor responderia a esta questão seria a de que o jornalismo praticado pela grande imprensa tornou-se um jornalismo denuncista. Os fatos tratados pelos meios de comunicação não levam o leitor a um entendimento real da situação; com isso nos tornamos ‘cidadãos de papel’. Por não entender o que acontece em nossa sociedade e na sociedade global, acabamos dando continuidade ao ciclo do senso-comum, pois como neste exemplo dos índios cintas-largas, não mudamos a nossa posição ou conceito em relação aos índios e a seus problemas, justamente pela falta das reflexões que a mídia não faz.
Um outro aspecto que gostaria de levantar, contrariando a posição do autor, é que a mídia não seria o ‘quarto poder’, mas sim o primeiro, ou, como diria Antônio Duarte, ‘a ideologia do nosso tempo’, pois ele ajuda a legitimar discursos, conceitos, sistemas e valores. A comunicação também é responsável pela integração dos três poderes (em nosso caso), pois a mídia tornou-se a norteadora da vida política, depois que nos tornamos seres midiatizados.
Yuri de Góes Almeida, estudante, Salvador
Em Rondônia 1
Por favor, a reserva é em Rondônia, e não em Mato Grosso, como no primeiro artigo, e muito menos em Roraima, como nesse. Esse erro ‘geográfico’ tornou-se ridículo.
Fábio Ximenes, estudante de Biologia, Porto Velho
Em Rondônia 2
Quero dizer a Ulisses Capozzoli, colaborador e articulista do Observatório, que cometeu um erro crasso quando, em vez de nominar Rondônia, referiu-se a Roraima (‘As reflexões que o jornalismo não faz’). Não quero aqui dizer que por isso Roraima não tenha problemas e seja melhor do que Rondônia, mas apenas contribuir com a verdade do texto deste conhecedor e crítico desse quinhão brasileiro. Mesmo sabendo que o erro pode acarretar algumas manifestações de descontentamento, acredito no respeito e no compromisso que esse profissional tem com essa paragem longínqua do nosso Brasil.
Joaquim Pereira Castro Filho, estagiário de Comunicação, Boa Vista
As reflexões que o jornalismo não faz – Ulisses Capozzoli
Nota do OI: Caros Fábio e Joaquim, em jornalismo os erros também acontecem, embora sejam inadmissíveis. Obrigado pelo alerta e desculpem-nos pela derrapada. A responsabilidade é da Redação do OI. E os equívocos já estão corrigidos. (L.E.)
Mimetismo por semelhança
O texto retrata apenas a visão do receptor da matéria veiculada pelo Fantástico. Então vou comentar agora a visão do médico. É uma visão unidimensional. Esquece que o receptor do Fantástico é formado por um amplo leque de receptores espalhados por toda a estratificação social e é pluridimensional: temos homeopatas assistindo ao programa; temos cientistas de outras correntes que inclusive não acreditam nessa historinha da carochinha de navegação a partir de 1500 que o articulista tenta passar no texto antipático que escreveu.
A demora na difusão da ciência, se ficarmos com a visão do articulista, continuaria. E tem mais: a homeopatia pode não curar a malária, porque falar homeopatia é muito genérico, mas o remédio homeopata produzido por um sábio e tomado com responsabilidade pelo doente cura, sim, e as pesquisas com povos ágrafos vêm mostrado que o problema é muito mais complexo do que nossa medicina finita e experimental pretende defender com a tese de combater o ágrafo. Na verdade o articulista não sabe o que é mimetismo por semelhança e pensa que está vendo tudo.
Jussara Araújo, jornalista, professora e pesquisadora de Ciências da Comunicação, Londrina, PR
Sociedade cética
O principal problema de matérias como a da BBC sobre homeopatia é conceber a ciência como atividade não-problemática, com o estatuto dogmático de quase religião. No mundo todo, a autoridade cognitiva da ciência vem sendo problematizada e a controvérsia atual sobre transgênicos, mesmo entre cientistas, é um pálido exemplo dos problemas da dita racionalidade científica e suas implicações para a sociedade. É também uma demonstração do ceticismo da sociedade diante da sacrossanta verdade científica.
De fato, os transgênicos representam um divisor de águas na relação entre público e inovação tecnológica. Imaginar que a ciência seja a única racionalidade possível no mundo depois de Chernobil, DDT, chumbo tetraetila na gasolina, doença da vaca louca/Creutzfeld Jakob, buraco na camada de ozônio, fenômeno Catarina etc. é prestar um desserviço à democracia. É preciso problematizar as relações contemporâneas entre ciência e sociedade, e não transformar aquela em nova religião. Isso ficava bonito e edificante no tempo de Condorcet. Hoje é positivismo barato, que não resiste a um debate intelectual de alto nível, coisa que o Fantástico está longe de acolher.
Cláudio Cordovil, jornalista científico, Rio de Janeiro
Opressão do saber
O discurso científico, sabidamente, é fonte de poder. Quem usa a linguagem dos cientistas demonstra superioridade e conhecimento, principalmente num país com milhões de analfabetos. Uma notícia carregada de termos técnicos, durante muito tempo, valeu mais do que o entendimento do leitor. A mensagem, assim, era a opressão do saber sobre a ignorância. O mundo mudou. A época em que dizer algo ‘que não fosse verdade’ levava as pessoas às fogueiras terminou. Todas as opiniões devem ser ouvidas, com igual peso. O testemunho de um ator da Globo, ou a palavra de um cientista, felizmente, hoje, têm o mesmo valor.
Paulatinamente, a mídia vem desconstruindo o que ela mesma ajudou a construir: a imagem de que o cientista é o detentor do saber, do conhecimento, portanto, do poder. Da mesma forma, hoje sabemos que o que, agora, é uma ‘evidência’, amanhã, pode ser uma dúvida, um ‘equívoco’. Hoje, o que não passa de um ‘placebo’ pode ser a ‘verdade’ de amanhã. Assim, o que muitos entendem como ‘ilusão e desinformação’ entendo como vox populi. O senso comum em poucas vezes tem espaço na mídia e, quando o consegue, sua voz logo é taxada como ‘ilusão’. Parabéns, não apenas ao Fantástico, pela matéria sobre homeopatia, mas a todos os coleguinhas que têm contribuído para a desmistificação da ciência. A ciência tem que caminhar ao lado do povo, não sobre ele.
Rosana Leite, cirurgiã-dentista, formanda em Jornalismo pela UFRJ