Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Opinionista briga com fatos

O diretor de redação do Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet, afirma que a “suposta oposição entre as esquerdas na América Latina é muito mais uma invenção dos meios de comunicação ocidentais, que têm interesse em criar oposições artificiais”.

Hugo Chávez se prepara para disputar a terceira prorrogação de um mandato iniciado em 1999. Lula nem tentou propor emenda que tornasse possível sua eleição para um terceiro mandato.

A imprensa funciona livremente no Brasil, no Uruguai e no Chile, mas não no Equador e na Venezuela. E está ameaçada na Argentina.

Tudo isso é “invenção dos meios de comunicação ocidentais”.

Ramonet deu sua opinião numa entrevista intitulada “A neutralidade não existe na imprensa”. Para ele, “um jornal que diz que é objetivo é um jornal alinhado à direita e que tenta esconder seu ponto de vista”. Ele prefere que um jornal de direita se assuma como tal, “mas que fique claro que representa o ponto de vista dos empresários, da burguesia e da classe conservadora”.

Quem vai “deixar claro”? O próprio jornal? Um tribunal de opinião? Alguma agência governamental? Mas não é Ramonet, na mesma entrevista, quem opina que “são os leitores que dão identidade a um jornal”?

A isenção é uma meta

A “neutralidade” não existe, mas existe a busca da isenção profissional. Sempre uma meta. Quanto mais se chega perto, mais ela recua. Como as utopias políticas e sociais.

No Brasil, meios de comunicação considerados “de direita” noticiaram, por exemplo, em março de 2011, uma gigantesca e furiosa revolta operária no canteiro de obras da hidrelétrica de Jirau, empreendimento conjunto de empresas privadas e públicas.

Outros exemplos, ainda que se delimitasse o período em que seriam colhidos – um ano, por hipótese –, dariam para encher dezenas de edições do Le Monde Diplomatique. Com fatos, notícias, a parte mais relevante do jornalismo.