Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Laura Mattos

‘No primeiro ano da gestão do PT -partido historicamente ligado à defesa de rádios comunitárias- cresceu em cerca de 17% o número de emissoras fechadas pela Anatel (órgão ligado ao governo federal). Foram 2.759, contra 2.360 em 2002.

O levantamento, realizado pela Agência Nacional de Telecomunicações a pedido da Folha, dá sustentação ao descontentamento de defensores de rádios comunitárias com a administração petista.

Agrava também o clima de insatisfação do setor com a escolha de Eunício Oliveira (PMDB-CE) para a pasta das Comunicações. Como o novo ministro (no cargo desde ontem) é proprietário de rádios comerciais no Ceará e em Goiás, teme-se que amplie o fechamento de comunitárias.

Até o novo presidente da Anatel, o ex-sindicalista Pedro Zaime Ziller, reduziu nos últimos dias as expectativas de uma mudança na política de fiscalização da agência.

Em encontro da Agert (Associação Gaúcha de Emissoras Comerciais), afirmou que ‘a sociedade só pode progredir saudavelmente dentro da legalidade’. E, em reunião fechada com o presidente da Abert (Associação Brasileira de Emissoras Comerciais), garantiu que a fiscalização continua.

No ano passado, a Anatel era presidida por Luiz Guilherme Schymura, nomeado na gestão FHC. Dos 2.759 fechamentos, 1.014 ocorrem no Estado de São Paulo.

Em segundo lugar vem o Paraná, com 351. Os números mais baixos ficaram com Distrito Federal (34) e Rio de Janeiro (39), reduto eleitoral do então ministro, Miro Teixeira (sem partido).

O ex-titular da pasta será substituído em meio a críticas. O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação publicou na semana passada um manifesto intitulado ‘Miro Teixeira esqueceu as rádios comunitárias’, assinado por outras cinco entidades.

Ao assumir o cargo, Teixeira havia prometido agilizar a liberação de mais de 4.000 autorizações para comunitárias paradas no ministério. Formou um grupo de trabalho que produziu um manual, mas menos de cem processos foram liberados.

Um fato sustenta a reclamação das rádios comunitárias com a fiscalização acirrada da Anatel: muitas realmente prestam serviço à comunidade, seguem as normas e só não conseguem autorização para operar em razão da morosidade do ministério.

Mas o governo e as comerciais também têm seus argumentos. Não é raro que uma rádio dita comunitária tenha interesses comerciais ou políticos. Mesmo dentre as autorizadas a funcionar.’

 

José Paulo Lanyi

‘Não fale mal do rádio’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 29/01/01

‘Como anda o jornalismo das emissoras populares de São Paulo? Esse é o âmago da conversa com um grande especialista em rádio destas largas redondezas: Carlos Manzano, um dos responsáveis pela programação da Rádio Capital, vice-líder de audiência AM em São Paulo (a líder é a Rádio Globo, puxada pelo Padre Marcelo Rossi) e diretor geral de produção da agência de notícias Rádio 2.

Manzano é radialista e publicitário. Foi diretor de programação da Rádio Record AM/FM e diretor-geral e de programação da Rádio Gazeta AM/FM. Trabalhou nas agências Standard, Salles Interamericana e CIN.

Também é um exímio profissional do jornalismo, com quem- se o leitor me perdoa o acento pessoal- muito aprendi em alguns anos de convívio no rádio. Exigente, ora ranzinza, ora bem-humorado… um típico ‘italodescendente’ (agora é moda falar assim).

Aqui ele realça a prestação de serviço, defende os esforços dos profissionais do meio e diz que muitos repórteres só ouvem o próprio trabalho.

Link SP- Qual é a sua análise sobre o jornalismo do rádio popular em São Paulo?

Carlos Manzano- Eu acho que tem um grande divisor que é a prestação de serviço, na emissora popular, que tem o seu foco voltado para o público C, D e E. Para a dona de casa, que eu, educadamente, chamo de ‘Dona Maria’, não interessa saber o que é Selic, o que é Copom, por que a sucessão de quedas da taxa de juros foi interrompida. A dona de casa tem o seu referencial maior que é na feira livre que ela freqüenta, nas idas ao supermercado e, mais, administrando o orçamento da casa. Eu já cansei de falar para caras que trabalharam comigo: ‘Você não está numa CBN, você não está numa Jovem Pan, você está numa rádio popular. Traduz, fala fácil’- o que é mesmo difícil. O que interessa para essa dona de casa? É o universo dela, a rua em que ela mora, o bairro em que ela vive, a questão da segurança, do saneamento básico, da qualidade da escola dos filhos… O que é que eu posso fazer como pauteiro, como repórter, como redator para facilitar a vida das pessoas que estão ouvindo a rádio em que eu estou trabalhando? Eu tenho que pensar nisso antes de escrever qualquer coisa. Nessa questão do popular, pode ser muito melhorado. Tem que pisar mais fundo no acelerador da prestação de serviço, despojadamente.

LSP- As fontes que vocês procuram para explicar um assunto mais complexo falam fácil?

CM- Primeiramente, são credenciadas. O que é fonte credenciada? No contexto acadêmico nacional, é a Universidade de São Paulo, é o Incor, é o Hospital das Clínicas. Não é o acadêmico, o bacana, o cheio de medalhas. Não, é o cara que tenha o credenciamento para falar sobre determinado assunto, preferencialmente que seja uma pessoa articulada. O repórter diz: ‘Nós vamos falar com a ‘Dona Maria’, com a dona de casa; se o senhor puder traduzir as inevitáveis afirmações acadêmicas, mais ortodoxas sobre a matéria, eu agradeço’. Ou o repórter faz essa lição de casa. Porque ele faz o intermédio, coloca-se na posição do ouvinte, como leigo, para levantar as questões. Nada mais justo que ele não interprete, mas traduza algumas afirmações feitas pelo entrevistado.

LSP- Qual é a reação do jornalista que acabou de chegar a uma emissora popular? Ele tem dificuldade de se adaptar?

‘Ouvinte não entende, mas sabe tudo’

CM- O grande problema das pessoas que trabalham em um veículo como o rádio é não ouvir o veículo. É inadmissível. Você tem que consumir o veículo. Você faz para quem está ouvindo, tem que se envolver com o que está fazendo. Isso vale para repórter, para produtor, para comunicador. O cara tem que ter a extensão do todo bem definida para saber como é a amarração, a linguagem da programação. E, pasme, eu constato que muitos profissionais não ouvem rádio. ‘Ah, não dá tempo, Manzano. Ouvi pouco’. O cara está interessado em ouvir a matéria que ele fez, botou no ar e ali termina o interesse dele. Tá errado. Isto vale para qualquer lugar: eu jogo melhor quando eu conheço o campo em que eu estou trabalhando. Eu sei que se tem uma caída aqui, quando chove alaga ali, me posiciono diferente. Você trabalha em rádio, tem que ouvir rádio. Se o cara se empenhar, tiver humildade…

Eu aprendi a falar muito em microfone e a escrever texto conversando com colega de redação e discutindo com operador de áudio. ‘Não, não fala assim, não’, ‘Pô, essa notícia aí é meio…’. O cara te dá uns toques muito importantes. Então você tem que ter humildade para ouvir profissionais com uma grande vivência adquirida para usar como referência pessoal. Quando você vê a história recente do rádio, vê grandes personalidades, grandes repórteres que marcaram, que tinham um jeito de falar, tinham uma pegada, se relacionavam com quem tivesse no ar para chamar a matéria, complementavam, davam um toque, sem ser ‘espaçosos’. Isso é uma conquista. Como tudo na vida, microfone não é diferente. É um processo de sedução. O ouvinte gosta ou não gosta de você. O ouvinte não entende de nada, mas sabe tudo. Sabe se o cara está sendo verdadeiro, sabe se o cara acordou agora, se o cara chegou atrasado, se ele leu o texto antes de ir para o estúdio – inevitavelmente, nunca lê… (risos).

LSP- Que emissoras fazem o melhor jornalismo popular em São Paulo?

CM- Acho muito difícil dizer quais as melhores. Tenho a oportunidade de conviver com profissionais de outras emissoras. Muitas vezes o ouvinte acha: ‘O pessoal da Rádio Capital nem fala com o pessoal da Rádio Globo, da Rádio Record…’. Bobagem, a gente convive, troca informações. Existe uma concorrência, neste universo que não é interessante, de sessenta e tantas emissoras, mas tem a questão do coleguismo, etc.e tal. Tem muitas diferenças entre uma popular e outra, até em envolvimento regional maior ou menor. Dentro das limitações- e eu não estou sendo simpático, nem ‘murol’, porque eu não sou ‘murol’-, acho que se faz. Dava para fazer mais? Dava. Mas dentro desse quadro da competitividade, da dificuldade do mercado publicitário, são bons profissionais, tenho conhecimento de boas equipes que existem.

Dentro das limitações, o cara contorna, tem ginga de cintura para fazer um bom serviço. Não dá para falar do rádio sem tesão, sem amor, sem paixão. ‘Fale tecnicamente…’ Não dá, você tem que botar coração nisso. Antes de criticar, de falar ‘é bom, é mal feito, ‘não sei o quê’’, precisa conhecer um pouco melhor a realidade do rádio para poder avaliar e emitir um juízo de forma conseqüente, não ser uma coisa idiota. Já ouvi colega dizer que o rádio vai acabar. Bobagem. O rádio sempre vai ter o público dele, porque é o companheiro, é o amigo de todas as horas, é uma coisa importante de referência para as pessoas. O rádio sempre vai ter espaço. Respeito, admiro e torço pelos profissionais que trabalham nesse meio, apesar dos salários cada vez mais achatados, perspectiva de crescimento profissional difícil. São caras que batalham, que têm emoção e paixão pelo veículo. O rádio tem que ser respeitado. É fácil meter a boca, ‘Isso aí é comodismo…’. Eu não tenho botão mágico que se chama ‘departamento de recursos ilimitados’ para fazer o que eu quero. É muito fácil criticar. Há mais de 30 anos nesse meio, eu conheço, sei das limitações, sei do empenho de equipe, sei até dessa questão de frustrar, de querer fazer mais, mas não poder. Tem gente no rádio que continua entusiasmada, que não se deixa, por mais difícil que esteja, acomodar. Não. É em função disso que a chama do velho e bom rádio vai continuar acesa para sempre.’

 

MULHERES APAIXONADAS
Etienne Jacintho

‘‘Mulheres Apaixonadas’ viaja para 12 países’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/02/01

‘As personagens de Mulheres Apaixonadas vão viajar para 12 países da América e ainda falar espanhol e inglês. Isso porque a Globo acaba de fechar a transmissão da novela de Manoel Carlos para o mercado latino e para os Estados Unidos. Os acordos foram firmados durante a Natpe, uma das maiores feiras internacionais de televisão, que foi realizada de 18 a 20 de janeiro, em Las Vegas. Na lista dos países que acompanharão a saga da ‘Helena’ Christiane Torloni e da pequena Salete (Bruna Marquezine) estão Argentina, Equador, Chile, Paraguai e Costa Rica.

Para a diretora de Marketing e Vendas da Área Internacional da Globo, Helena Bernardi, esse é só o começo da escalada da trama no exterior. ‘As tramas de Manoel Carlos fazem um grande sucesso no exterior’, afirma. ‘Vale destacar também que o elenco de Mulheres Apaixonadas é muito conhecido e admirado pelo público e pelo mercado internacional.’ Para fazer o ‘lobby’ da novela, a emissora levou a Los Angeles as atrizes Christiane Torloni e Suzana Vieira.

Helena diz que as novelas são o carro-chefe dos negócios internacionais da Globo e respondem por cerca de 90% das vendas. O Clone (2001), de Glória Perez, é um bom termômetro para medir a extensão da aceitação dos folhetins nos países estrangeiros. Desde seu lançamento para o mercado internacional até hoje, a trama já esteve presente em 52 países. Até a Romênia e a Croácia vibraram com a história de amor ‘das arábias’ de Jade (Giovanna Antonelli) e Lucas (Murilo Benício). Atualmente, O Clone está sendo exibido em Israel, Guatemala e Paraguai e reprisado na Argentina. Este mês, a novela estréia na Rússia.

Esperança (2002), de Benedito Ruy Barbosa/Walcyr Carrasco, inaugurou sua carreira internacional em setembro de 2002 e já foi vendido para 30 países.

‘A trama vem registrando excelentes médias de audiência’, fala Helena. ‘Na Rússia, por exemplo, está entre os programas mais vistos, liderando diversas vezes o ranking como o número um em audiência.’

Além de Mulheres Apaixonadas, outro ‘produto’ marcou a Natpe 2004. Foi o carnaval. A transmissão da festa foi vendida para dez países. O canal Artear da Argentina, por exemplo, mandará até uma apresentadora para usar a estrutura global e mostrar o carnaval do Rio.

Portugal – Apesar de as novelas serem o grande filão da Globo, as minisséries e os seriados também viajam o mundo. Portugal é o maior mercado para as produções da emissora. Atualmente, o público português está acompanhando as séries Os Normais, A Grande Família, Cidade dos Homens e Terra dos Meninos Pelados – seriado infantil da Globo, baseado na obra de Graciliano Ramos. ‘Esses programas são exibidos pelo GNT Portugal’, fala Helena. Os programas especiais de fim de ano – A Diarista, Papo de Anjo, Carol & Bernardo e Sob Nova Direção – também estão no GNT Portugal.

Outro bom canal para divulgar os programas da rede no exterior é o sinal da Globo Internacional. ‘Hoje, mais de 200 mil assinantes, em sua grande maioria brasileiros que vivem em outros países, recebem a programação do canal, composta por produtos da TV Globo e da Globosat, como noticiários em tempo real, esportes ao vivo, novelas, minisséries, programações infantis e de variedades’, comenta Helena.

Com as quatro indicações do filme Cidade de Deus, ao Oscar, vai ficar mais fácil para a Globo vender Cidade dos Homens, a aventura de Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha), para o exterior. E a Globo sabe disso. ‘Já vínhamos com essa estratégia’, fala Helena, sobre utilizar o longa-metragem de Fernando Meirelles para divulgar a série televisiva.

Negociação – Para divulgar seus programas nas feiras internacionais, a Globo exibe um trailler sobre a atração. Há antes uma pesquisa para saber quais países se interessariam por quais programas.

‘A Ásia, por exemplo, tem restrições às cenas de beijos e às roupas mais ousadas’, conta Helena.

A investida da Globo no exterior começou em 1973 com a novela O Bem Amado, de Dias Gomes. A partir daí, mais de 300 produções – entre novelas, minisséries, seriados, atrações infantis e especiais – seguiram para aproximadamente 130 países.’

TV / DESENHO NACIONAL
O Estado de S. Paulo

‘Projeto de lei prevê cotas de desenhos nacionais na TV’, copyright O Estado de S. Paulo, 31/01/01

‘Um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados pretende mudar o cenário da animação na TV brasileira. De autoria do deputado Vicentinho (PT), o projeto pretende obrigar a exibição nas emissoras de TV de uma cota de desenhos animados produzidos no País.

O objetivo é inserir cotas de participação de desenhos nacionais gradualmente. Seria inicialmente 10% de animação nacional, dentre os desenhos exibidos na emissora no primeiro ano de vigência do projeto. Essa cota subiria ano a ano, até chegar em 50% de desenhos nacionais.

Os desenhos ainda terão de responder a uma série de quesitos em seu conteúdo como ressaltar a cultura nacional, a história do País, promover a igualdade de raças, a paz, além de ser fonte de entretenimento e cultura para os pequenos.

Tudo seria lindo se não fosse o império de desenhos importados que reina absoluto na TV brasileira e a falta de produtos nacionais. Animações ‘made in Brazil’ são praticamente zero, apesar da produção até que satisfatória de curtas e longas-metragens. O programa Turma da Mônica, por exemplo, há anos tenta ganhar um espaço na TV ao lado de Pokémons e Power Rangers, mas nunca saiu da gaveta da Globo.

A MTV fez algumas experiências felizes colocando no ar produções independentes – como a Liga dos VJs Paladinos -, mas nem um pouco voltadas para o público infantil.

O projeto de lei de Vicentinho passará por pelo menos três comissões na Câmara e, se aprovado, em seguida segue para votação no Senado.’