O noticiário dos jornais paulistas sobre a greve de PMs na Bahia é ralo e não dá pistas sobre a razão de tamanha repercussão na vida social do estado.
O discurso é o da lei e da ordem. É o que diz o governador, Jacques Wagner, é o dos fatos selecionados para publicação tanto no Estado de S. Paulo como na Folha e é o do tratamento dado a esses fatos.
O discurso do governador não combina com a realidade quando ele diz que só um terço da tropa aderiu ao movimento. Se se trata de uma minoria, por que chamar Força Nacional, Exército e Polícia Federal para diminuir a insegurança – que a Folha, apesar dos 89 cadáveres contabilizados até a madrugada de segunda-feira (6/2), chama de “sensação de insegurança”? A mobilização dos dois terços de policiais militares que não teriam aderido não seria bastante para controlar minimamente a situação?
Essa incoerência não é cobrada, assim como não são expostas as razões que deram ao movimento a magnitude que ele adquiriu, a dez dias do Carnaval.
Política não explica adesão
Por definição, movimentos grevistas de funcionários públicos têm consequências políticas. Quem os promove e deles participa pode ter objetivos políticos. Aponta-se a pressão pela aprovação da PEC 300, proposta de emenda constitucional que cria um piso salarial nacional para policiais.
É mais uma volta no parafuso da constitucionalização da gestão das polícias, em má hora acatada pela Constituinte que produziu a Carta de 1988. Ela determina, por exemplo, que obrigatoriamente existam duas polícias, a civil e a militar.
Sem dúvida há objetivos políticos, compartilhados em maior ou menor escala pela massa, mas isso não explica a participação ativa de tantos grevistas numa resistência que inclui atos ilegais e cujas consequências podem ser graves para os que os praticam, pois foram e são graves para a população.