O editorial datado de 29/1/04 da edição impressa da Economist trata das conseqüências do relatório do inquérito e do caso David Kelly como um todo. Apesar de ter sido confortavelmente poupado pelo lorde Hutton, o primeiro-ministro saiu enfraquecido da história.
A semana passada, segundo a Economist, foi a primeira desde que Tony Blair assumiu o poder, em 1997, em que parecia correr o risco de perder seu emprego. ‘O primeiro-ministro britânico pode ser um herói a muitos americanos, e certamente a George Bush, mas se tornou impopular em seu próprio Partido Trabalhista e desacreditado pelo público britânico. Na tarde de quarta-feira [28/1/04], porém, ele de repente deu um passo à frente.’
Agora, diz o editorial, parece não haver dúvidas de que Blair será candidato à reeleição em 2005. ‘Muito provavelmente, será primeiro-ministro por vários anos mais’. Apesar de estar com a reputação abalada por ouros motivos (como a recente discussão do financiamento de universidades britânicas), o parecer favorável de lorde Hutton lhe dá a chance de reconstruir a confiança pública em seu governo.
A BBC errou, diz Economist
Uma reputação leva anos para ser construída e alguns segundos para desabar. Esse é um chavão comum no mundo dos negócios de hoje, e deve estar sendo repetido ad nauseam pelos corredores da BBC. Para a Economist, o fardo é justificado. ‘A reportagem de Gilligan (…) era infundada. É triste dizer, mas essa reportagem é típica de grande parte do jornalismo britânico moderno, que distorce ou falseia a suposta notícia para se ajustar à opinião de um jornalista sobre onde está realmente a verdade’, diz no editorial. ‘Alguns na mídia britânica descreveriam isso como jornalismo ‘corajoso’. Falho ou tendencioso seriam palavras mais apropriadas. O pior de tudo é ter sido feito por uma emissora pública, cuja reputação de confiabilidade e autoridade deu credibilidade à reportagem em questão.’
A Economist afirma ainda que o pior de tudo foi o sistema de controle editorial da BBC ter se mostrado tão falho. ‘Nem a administração, nem a comissão de diretores investigaram a reportagem de Gilligan apropriadamente depois de o governo ter protestado’. Para a revista, os pedidos de demissão de Gavyn Davies, Greg Dyke e Andrew Gilligan foram adequados, e outras cabeças devem rolar. No entanto, reconhece a Economist, a reportagem de Gilligan ainda será vista pelos olhos do público como exceção, e não regra.
Uma coisa é certa: a reputação da BBC está pronta para ser reconstruída, já a de Blair…
Para a Economist, não é justo dizer que a reputação de Blair é fraca. ‘Ele continua sendo amplamente admirado por seu espírito de liderança (…) mas ele e seu governo acabaram por distorcer as notícias ao público presumindo que o relatório de Hutton representa a regra, em vez da exceção’. O editorial encerra dizendo que sua ‘absolvição’ na semana passada lhe dá chance de recomeçar. ‘Mas o recomeço ainda parte de uma posição bastante enfraquecida’.