A mídia do Paquistão está vivendo uma revolução graças ao que Amy Waldman, do New York Times [25/1/04], chama de ‘efeito Geo’. O termo se refere ao canal Geo TV, que estreou na segunda metade de 2002, trazendo novidades para um país acostumado ao monopólio e à chatice da emissora estatal, Pakistan TV (PTV).
Além de uma inédita cobertura jornalística de fatos que realmente interessam ao público, sem intervenção do governo, a Geo transmite debates religiosos e políticos. Além disso, permite a aparição de indianos, com a intenção de jogar uma luz sobre os conflitos fronteiriços na região da Cachemira. E foi justamente por causa da Índia que a emissora pôde começar a funcionar.
Em 1999, quando a tensão entre os países vizinhos estava no auge, o presidente Pervez Musharraf permitiu a criação de canais privados, pois, como a PTV não dava notícias, muitos paquistaneses assistiam às emissoras ‘inimigas’ via satélite ou cabo. A decisão de aceitar a existência de redes independentes parece irônica, vinda de um presidente militar que chegou ao poder por um golpe de estado. Hoje, canais indianos estão proibidos, mas, como há dezenas de milhares de operadoras de cabo, não há como controlar se a ordem está sendo cumprida.
A Geo, assim como os outros três canais privados do Paquistão, ainda não têm permissão para transmitir de dentro do território nacional. Por isso, está acessível apenas para assinantes de TV paga e tem sua sede em Dubai. Mesmo a PTV tendo, virtualmente, muito mais audiência, por ser aberta, a repercussão da Geo é sensível na população. Ela faz sátiras políticas – caçoando, inclusive, do próprio Musharraf – e foi pioneira em colocar mulheres como apresentadoras. O grupo de investidores que a criou reuniu verba para contratar profissionais da CNN e da BBC para fazerem o treinamento de equipe. Funcionários da emissora do governo, que, abalada pela novidade, está tentando se dinamizar, já procuraram a Geo para obter dicas de como melhorar.