‘O PSDB inaugura hoje sua nova sede em São Paulo e, mesmo sem ter um candidato para a disputa da sucessão da prefeita Marta Suplicy neste ano, reúne munição contra a petista.
Os tucanos vão comprar as imagens da prefeita, exibidas anteontem pelas principais redes de TV, discutindo de maneira ríspida com uma moradora da zona sul.
A idéia, caso as imagens venham a ser utilizadas na campanha -Marta é candidata à reeleição-, é sugerir que a petista não tem preparo emocional para comandar a maior cidade do país em momentos de adversidade como o atual, em que fortes enchentes castigam São Paulo.
O bate-boca entre a prefeita e a moradora do Jardim Jussara, que se identificou como Simone Correa, ocorreram por conta das enchentes. Entre outras coisas, ela reclamava de suposto tratamento privilegiado que áreas nobres da cidade teriam no atual governo: ‘Eu pago imposto, R$ 5.000 de imposto. E a senhora planta coqueiro lá no Itaim Bibi’. A prefeita respondeu: ‘Onde as pessoas pagam R$ 20 mil de imposto’.
O presidente municipal do PSDB, Edson Aparecido, criticou Marta. ‘A cidade toda viu pela TV o descontrole da prefeita. Foi uma cena fortíssima’, afirmou.
A Folha entrou em contato com a assessoria da prefeita, mas foi informada, no início da noite, que ela não comentaria o caso.
A inauguração da nova sede do PSDB, que se chamará Mário Covas, será a partir das 19h. O presidente nacional do partido, José Serra, e o governador tucano do Estado, Geraldo Alckmin, são aguardados no evento.
O prédio fica no centro da cidade, na rua Genebra. A deputada federal Luiza Erundina (PSB), pré-candidata a prefeita, foi convidada para o evento, mas mandará um representante. Os tucanos negociam com ela um acordo em um eventual segundo turno das eleições.’
Nelson de Sá
‘Descontrole’, copyright Folha de S. Paulo, 6/02/04
‘Num dia, Marta bate boca no meio da enchente, diante das câmeras. No outro, ela volta à região e quase recebe lama, jogada por um morador, diante das câmeras.
As duas seqüências de imagens lembram duas outras, protagonizadas por um outro político, que talvez os tucanos não recordem mais.
Um dirigente local do PSDB disse que vai usar as cenas de Marta para comprovar, na propaganda eleitoral, o ‘descontrole’ da prefeita.
Ele e seu partido precisam, com urgência, de um marqueteiro -agora que deixaram escapar Nizan Guanaes.
Se Geraldo Alckmin se elegeu governador, não foi por seu ‘controle’, mas pelo que herdou de Mário Covas.
Ontem foi inaugurada a nova sede do PSDB. O nome do prédio é Mário Covas.
Mas os tucanos parecem não lembrar o discurso do então governador aos manifestantes, diante do palácio, quando foi atingido por um ovo e enfrentou os agressores.
Nem lembram a caminhada do então governador na praça da República, quando sofreu com a violência dos manifestantes e reagiu.
Talvez o PSDB de hoje pense que era só populismo.
Certamente foram reações temerárias. Mas Marta e outros petistas empedernidos aprenderam com Covas.
Os tucanos querem esquecer.
Das cenas de rua às entrevistas ao vivo para Cidade Alerta e, de manhã cedo, Globo, Marta está em toda parte.
Faz o que esperam dela e se previne para a eleição, daqui a sete meses.
Mas seu marqueteiro, seja ele Duda Mendonça ou um outro, deveria ter pensado duas vezes antes de liberar a nova safra de comerciais.
Eles ocuparam os intervalos com terminais de ônibus e outras obras. Soou estranho, diante do problema mais imediato das enchentes. Mas ruim mesmo foi o slogan:
– Fazendo uma cidade melhor para todos.
Não cai nada bem, sobretudo ao se pensar que são comerciais pagos com o dinheiro do IPTU -como diria a dentista.
‘Descontrole’ quem mostrou foi Lula. Ele brincou, a repórter riu, mas foi grotesco.
Da jornalista, tentando uma pergunta, ontem:
– Ô, presidente, agora que o senhor comeu…
E Lula, pondo uma castanha na boca da repórter:
– … Ocupa a boca com uma castanha, vai.
Risos, risos.’
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‘A prefeita e a dentista’, copyright Folha de S. Paulo, 4/02/04
‘- E u pago R$ 5.000 de IPTU, R$ 5.000, e ela não isenta!
Era a dentista do Brasil Urgente, a representante do ‘povo’, no dizer de José Luiz Datena, ele que não escondia o prazer com o que tinha diante das câmeras.
A prefeita e a dentista bateram boca no ar, não uma, mas duas vezes.
A revolta da dentista era menos com as chuvas, embora tenha falado delas, e mais com o imposto. Depois do bate-boca, reclamou com Datena:
– A gente paga taxa de lixo, taxa de luz, é IPTU, é tudo o que a gente paga e a gente não tem um retorno dela.
‘Ela’ é a prefeita Marta Suplicy, que estava em visita a uma rua alagada em São Paulo quando foi abordada, diante das câmeras da Band. E a dentista aos brados:
– Eu pago imposto, R$ 5.000 de imposto. E a senhora planta coqueiro lá no Itaim-Bibi.
Marta, de bate-pronto:
– Onde as pessoas pagam R$ 20 mil de IPTU.
E saiu. A dentista foi atrás, entrou por uma casa e continuou, para as câmeras:
– Ela quer plantar coqueiro nos Jardins. Por que nos Jardins? Porque ela mora nos Jardins. Isso me revolta. Sabe o que são R$ 5.000?
A prefeita, que só estava ouvindo, entrou aos brados:
– Onde gastamos o dinheiro? Duzentas mil vagas para as crianças. A periferia inteira está sendo recapeada.
– Mas por que plantar coqueiro? O coqueiro está tudo debaixo d’água agora.
E Marta:
– O coqueiro é porque as pessoas pobres desta cidade têm direito a ter coqueiro também.
Falava dos coqueiros da periferia, provavelmente, mas já nem fazia muito sentido. E a dentista:
– As pessoas pobres querem comida.
E Marta:
– Comida? Nunca se teve tanta refeição nesta cidade. Vá nas escolas. Vá nas escolas.
As duas já estavam aos berros. A dentista:
– O povo está morrendo de fome!
Marta:
– O que a gente está fazendo nunca foi visto!
A dentista:
– A senhora não está fazendo nada!
E Datena a sorrir, encantado com o que chamou de ‘quebra-pau’. Elogiou Marta:
– Eu gosto, assumo que gosto. É uma boa prefeita. Uma ótima pessoa.
Se continuar assim, aberta às câmeras da Band, é audiência garantida.’
Folha de S. Paulo
‘Marta discute com moradora de área alagada’, copyright Folha de S. Paulo, 4/02/04
‘A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), visitou ontem o Jardim Jussara, no Butantã (zona oeste de SP), e chegou a bater boca com uma moradora. A região foi afetada pela forte chuva que atingiu a cidade anteontem.
A discussão pôde ser vista no programa ‘Brasil Urgente’, da Rede Bandeirantes. A moradora, que se identificou como Simone Correa e disse ter um consultório dentário no bairro, abordou Marta e reclamou das enchentes que ocorrem na área há 20 anos.
‘Pago R$ 5.000 de IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano] e ela [a prefeita] não isenta. Ela quer plantar coqueiros nos Jardins [área nobre de SP]. Por que ela faz isso?’
A prefeita interveio: ‘Onde nós gastamos o dinheiro da cidade? Em 200 mil novas vagas para as crianças desta cidade.’ A moradora rebateu: ‘Por que plantar coqueiro? As pessoas pobres querem comida, querem moradia’. A prefeita respondeu que ‘nunca se teve tanta refeição nesta cidade’. Simone insistiu: ‘Que refeição? O povo passa fome.’
Marta, irritada, afirmou: ‘A senhora quer fazer demagogia, minha senhora, a senhora faça. Nós temos 300 mil famílias que recebem complemento de renda em projetos sociais.’
A discussão começou na rua e continuou na casa de outra moradora, já que Simone seguiu a prefeita e entrou no local, apesar de não ter sido convidada. A proprietária da casa pediu que a dentista se retirasse.
Ao comentar os estragos provocados pelas enchentes, Marta culpou o grande volume de chuvas que atingiu diversas regiões da cidade anteontem.
‘O que aconteceu foi o que disse o secretário de Infra-Estrutura Urbana [Roberto Bortolotto]. Poderiam ter sido feitas as obras que quisessem que, com o que caiu de chuva na cidade, não teria jeito.’
Marta disse que uma equipe irá hoje a Brasília pleitear a liberação de verbas federais para obras de combate a enchentes.
Ela afirmou que entrou em acordo com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) para que recursos eventualmente liberados para o Estado sejam investidos na construção de piscinões na região do córrego Pirajussara.
Desde sexta-feira, o município distribuiu 2.407 colchões, 2.383 cobertores e 1.043 cestas básicas para pessoas afetadas por chuvas.’