O deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que tem posse marcada para hoje como novo ministro das Cidades, é dono de duas emissoras de rádio no interior da Paraíba que foram registradas em nome de empregados.
As emissoras Cariri AM e PB FM estão no nome da empresa AE Comunicações da Paraíba Ltda., sediada no escritório político que Ribeiro mantém em João Pessoa.
Os sócios da empresa, contudo, segundo registro da empresa na Junta Comercial da Paraíba, são um ex-contador e um assessor pessoal do ministro. A firma foi criada em fevereiro de 2010.
Uma das rádios controladas pela AE Comunicações, a Cariri AM, funciona no mesmo endereço, em Campina Grande (a 121 km da capital), da sede da River Comunicações Ltda., criada pelo ministro em setembro de 2009.
Como a Folha revelou ontem, a River é uma das quatro empresas que o ministro omitiu em sua declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral em 2010, quando se elegeu deputado federal.
Rádio de ministro
A transmissão da Cariri deixa claro quem é o verdadeiro dono da emissora.
Na sexta-feira (3/2), logo após a confirmação do nome de Aguinaldo Ribeiro como novo ministro, a rádio dedicou duas horas de homenagem a “Aguinaldinho”, como era chamado pelos locutores.
“Isso aqui é rádio de ministro, rapaz!”, afirmou um dos apresentadores, minutos após ser confirmado que Aguinaldo comandaria a pasta das Cidades.
A deputada estadual Daniella Ribeiro (PP), irmã do ministro e pré-candidata à Prefeitura de Campina Grande, tem um programa próprio na rádio, Mandato Popular.
As ações da AE Comunicações estão divididas igualmente entre Alex Barreto e Givaldo Nunes.
Barreto é uma espécie de braço direito do ministro. Filho de Alexandre Viana Barreto, motorista de Aguinaldo em João Pessoa, ele é um dos três funcionários que dão expediente no escritório de Ribeiro na Paraíba.
Quando a Folha foi ao local, um outro funcionário disse que as questões envolvendo o novo ministro deveriam ser respondidas por Barreto, “assessor do deputado”.
Givaldo Nunes, 71, é contador aposentado. Ele mora em um bairro popular de João Pessoa, o Mangabeira. Trabalha com o deputado Ribeiro desde a década de 90.
Era ele o contador de Ribeiro quando o hoje ministro administrava uma concessionária de veículos da família.
À Folha, Givaldo diz que virou sócio da rádio a pedido de Alex Barreto e que deixou de trabalhar com Aguinaldo Ribeiro porque ficou doente.
“Ele [Barreto] pediu para eu entrar em sociedade com ele e eu entrei. Conversa com o Alex, que ele está mais por dentro”, disse Givaldo, na porta de sua casa.
Na tarde de ontem, Alex atendeu seu celular, mas desligou o aparelho quando a reportagem se identificou.
Deputado e sua assessora não atendem ligações
Procurado desde a manhã de sábado para comentar a reportagem, o deputado Aguinaldo Ribeiro não respondeu às ligações.
Na noite de sábado (4/2), ele atendeu uma ligação, mas, depois que o repórter se identificou, ele disse que estava no elevador e pediu que ligasse de volta em dois minutos.
Assim foi feito, mas desde então e durante todo o domingo o celular do ministro esteve desligado.
Assessora
No domingo (5), a Folhatentou contato com a assessora Márcia Gomes. O celular dela também estava desligado.
A reportagem mandou mensagens de texto via celular para os dois aparelhos, informando o teor da reportagem e pedindo esclarecimentos. Não houve resposta até a conclusão desta edição.
Alex Barreto, que também não atendeu os telefonemas da Folha, disse no Twitter que Aguinaldo Ribeiro é vítima de “preconceito” por parte da “grande mídia”.
“Paraíba, vamos nos unir contra esta campanha maldosa que fazem com nosso ministro, eles não se conformam com a nossa vitória. Força Aguinaldo”, escreveu Alex na manhã de ontem.
Declaração de bens
Na sexta-feira, Aguinaldo Ribeiro disse que informou a Receita sobre a sociedade em empresas que não constam de sua declaração de bens enviada à Justiça Eleitoral.
Afirmou também que irá se desligar delas para chefiar o Ministério das Cidades.
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[Breno Costa, da Folha de S.Paulo]