Um email para o filho do magnata Rupert Murdoch, James, que se referia a um “cenário de pesadelos” por conta de repercussões legais do escândalo no News of the World, foi apagado de seu computador menos de duas semanas antes de a polícia iniciar uma investigação sobre os grampos ilegais no tabloide. Segundo a Linklaters, empresa jurídica que representa a News International, braço de jornais britânicos do império de mídia dos Murdoch, a eliminação do email fez parte de um “programa de estabilização e modernização” no qual as contas de correio eletrônico da empresa foram “preparadas para a migração para um novo sistema”.
O email apagado continha mensagens anteriores enviadas no dia 7/6/08 a James, chefe das operações asiáticas e europeias da News Corporation, alertando que o potencial fracasso legal no caso dos grampos no tabloide era “tão ruim quanto o temido”. A existência do email foi revelada pela Linklaters ao comitê da Câmara dos Comuns que investiga os grampos. James confirma que recebeu e respondeu o email, mas diz que não o leu até o final. A Linklater afirmou, ainda, que a destruição do email foi feita em janeiro do ano passado. A investigação policial sobre a prática de escutas ilegais no tabloide começou 11 dias depois – e o escândalo só estourou de verdade em julho. A existência do email só veio à tona porque investigadores descobriram material encaixotado deixado para trás quando o News of the World foi fechado.
Versões diferentes
A mensagem tornou-se significativa no caso como possível evidência de que James sabia dos grampos e de quando ele tomou conhecimento deles. Dois funcionários da empresa – Tom Crone, então advogado da News International, e Colin Myler, ex-editor do News of the World – disseram ter informado James na época que os grampos eram endêmicos no jornal. O filho de Rupert Murdoch sempre sustentou que eles nunca haviam lhe contado nada a respeito e que ele só veio a saber das escutas ilegais muito tempo depois.
Três dias depois do email de junho de 2008, James encontrou-se com Crone e Myler e decidiu pagar mais de US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 2,4 milhões) para um acordo de uma ação de escuta ilegal, cujos detalhes foram mantidos em sigilo. Até dezembro de 2010, a News International afirmou que os grampos no jornal eram limitados a um “repórter mentiroso”. A carta da Linklater dizia que a caixa onde estava a cópia do email tinha um adesivo que sugeria que o conteúdo era originalmente do escritório de Myler. Cópias eletrônicas foram encontradas em dois laptopts de James e no computador de um assistente.
A News International havia dado diversas desculpas de onde o email estava e por que não estava imediatamente disponível para os investigadores. As novas evidências de que a empresa pode ter destruído documenos propositalmente levanta a possibilidade de o grupo ser investigado por obstrução à justiça. Informações de Sarah Lyall [The New York Times, 1/2/12].