Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Assessor repudia irresponsabilidade

É no mínimo curioso que o Sr. Maurício Stycer, redator-chefe, terceiro elo na cadeia alimentar da CartaCapital, a cargo de fechar uma matéria contendo acusações graves como a que foi publicada sobre o deputado Ricardo Izar na edição 370, comporte-se como um foca e, de quebra, me envolva em suas travessuras pseudojornalísticas. A propósito, não tenho procuração para defender o deputado, não discuto aqui o mérito das denúncias e, diga-se de passagem, nem uma eventual defesa do parlamentar vem a ser o objeto desta carta. Ela se prende à questão jornalística, da responsabilidade jornalística.


O teor da reportagem sobre o deputado Izar não deixa dúvidas: as informações foram coletadas a partir de um trabalho de reportagem que deve ter levado diversos dias, a não ser que um deep throat tenha passado tudo de bandeja ao redator-chefe ou a seu colaborador, Leandro Fortes – por quem, aliás, nunca fui procurado, especialmente nos dias em que essa matéria devia estar sendo apurada, e quando ele poderia perfeitamente solicitar, até pessoalmente, uma entrevista com o deputado.


Por isso mesmo, não fez sentido jornalístico algum receber um telefonema do redator-chefe de uma revista do porte da Carta Capital na tarde de quinta-feira (24/11), para me informar do fechamento improrrogável de uma matéria naquele mesmo dia e da necessidade de um contato com o parlamentar. Da mesma forma que, no plano conceitual, não faz sentido – nem jornalístico, e muito menos ético – procurar ouvir a personagem central de tal matéria na tarde do último dia de seu fechamento.


Descartemos, por ora, os fatos – verídicos – de que o deputado Izar estava às voltas com o depoimento de seu colega João Paulo Cunha no Conselho de Ética naquela tarde; que seu assessor de imprensa estava envolvido com diversas outras tarefas e pedidos de entrevista, sem contato direto com o deputado, e que tenha solicitado ao redator-chefe que chamasse novamente mais tarde, para que a coordenação do contato pudesse ser tentada adequadamente. Imaginemos, por exemplo, que o deputado Izar estivesse inacessível no interior do estado de São Paulo. O que aconteceria? O rolo compressor inexorável do jornalismo investigativo não poderia esperar? É assim que funciona? É o topa-tudo-faz-de-tudo pelo furo?


Cheap shot desnecessário


Tudo leva à conclusão de que o telefonema solicitando contato com o parlamentar foi apenas para desencargo de consciência, um mero ‘cumprimento de tabela’, que bastasse como explicação ao dono da revista. Do tipo ‘pô, Mino, a gente tentou entrar em contato, mas…’. Um leitor mais atento da revista, certamente, não aceitaria esse descuido.


Não há dúvida – e há exemplos concretos recentes, no Conselho – de que uma publicação minimamente mais responsável que a CartaCapital teria aguardado sua(s) próxima(s) edição(ões) para poder incluir, de maneira equilibrada, precisa, as informações que faltavam e/ou o contraponto – se é que isso era realmente desejado.


O desempenho profissional do redator-chefe da revista, no entanto, deixa bem claro que não era esse o objetivo nesse caso. O furo – ou o timing do furo – era mais importante. Aliás, não seria de estranhar qualquer coincidência entre a urgência do fechamento da matéria e o tiroteio corrente, entre Legislativo e Judiciário, no caso José Dirceu – aliás, merecedor de ilustração na página 26 da revista.


Desde julho de 2005, quando iniciei meu relacionamento profissional com o deputado Ricardo Izar no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, tenho procurado atuar com transparência, objetividade e isenção, procurando facilitar ao máximo o trabalho dos colegas da imprensa, quaisquer que sejam. Digo, sem modéstia, que não têm sido poucos os elogios recebidos dos colegas jornalistas a respeito de minha atuação e meu esforço. Por tudo isso, lamento e repudio esse cheap shot, totalmente desnecessário, da CartaCapital.


 


Dez horas é pouco tempo?


Mauricio Stycer (*) 


Difícil entender o nervosismo de Claudio Lessa. Entre o momento que expus ao assessor de imprensa o teor da reportagem que preparava, na tarde de quinta-feira 24 de novembro, e a conclusão da edição, dez horas se passaram. Será este tempo insuficiente para ouvir o chefe e colocá-lo em contato com este repórter? Ou ouvir o chefe e enviar um comentário? Com dez horas, qualquer jornalista sabe, se faz uma edição de jornal. Ouso especular a respeito do tom destemperado do sr. Lessa: será que levou uma bronca do chefe?


Quanto ao Observatório de Imprensa, aproveito para repudiar a irresponsabilidade de assumir no título a visão – altamente parcial – do autor do texto.


(*) Redator-chefe de CartaCapital

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Assessor de imprensa do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, Brasília, DF