Em sua coluna de 6/3, o ombudsman do New York Times, Daniel Okrent, faz uma análise bem-humorada dos perigos e confusões provocados pelo uso de determinadas palavras e expressões nas páginas do jornal. Okrent afirma que existe uma verdadeira ‘guerra das palavras’, onde cada grupo defende seus interesses com unhas e dentes e se ofende com o mais leve indício de desrespeito.
O ombudsman conta que nada provoca mais revolta em certos leitores do que a ‘política do Times‘ para o uso das palavras ‘terrorista’, ‘terrorismo’ e ‘terror’. Na realidade, diz Okrent, não existe uma política para esta questão no jornal. ‘Terror’ e suas variações, ao contrário do que se pensa, são palavras pouco usadas nas páginas do diário – exceto quando se referem à al-Qaeda ou em citações diretas.
Mas o uso do termo ‘terrorismo’, que causa tanta controvérsia, é apenas o início de um verdadeiro emaranhado de fios que levam às mais diferentes armadilhas e resultam na mais legítima confusão. Okrent exemplifica:
As expressões pró-israelense e pró-palestino representam julgamentos de valor, para alguns leitores. ‘Seriam as políticas de Ariel Sharon pró-Israel? Não para seus críticos na esquerda israelense. Seria a política de negociação de Mahmoud Abbas pró-Palestina? Eu duvido que os apoiadores da Jihad Islâmica acreditem que seja’, explica ele. O conflito Israel-Palestina existe? Não para os mais ardentes sionistas, que rejeitam a expressão por afirmarem que ‘não existe Palestina’. Uma reportagem sobre o assunto acima, para não ter problemas com os leitores, deveria começar da seguinte forma: O conflito armado na área entre o Líbano e o Egito… E por aí vai.
A ‘guerra das palavras’ descrita por Okrent pode ser encontrada em qualquer seção do Times. Em temas políticos, é correto usar liberal ou moderado? Qual a diferença entre abuso e tortura? Ação afirmativa e preferência racial? ‘E não me façam começar a falar sobre ‘insurgentes’’, brinca o ombudsman.
Voltando à mais polêmica das palavras, Okrent diz que, algumas vezes, o esforço do jornal para evitar a parcialidade acaba por dissolver o significado das palavras. Em uma mensagem para a seção internacional do Times, o ex-chefe da sucursal de Jerusalém, James Bennet, fala sobre a cautela no uso de ‘terrorismo’. ‘Um ataque a bomba planejado para atingir estudantes na lanchonete de uma universidade ou famílias reunidas em uma sorveteria pede para ser chamado do que realmente representa’, explica ele. ‘Eu tentava evitar o peso político que vem com o uso de ‘terrorismo’, mas não podia fingir que a palavra não tinha significado nenhum na língua inglesa’. Para Bennet, o não-uso do termo é tão perigoso quanto seu uso excessivo.
Okrent concorda. ‘Quando alguns israelenses rotulam de terrorista um palestino segurando uma arma, não há certeza factual ou moral que prove que ele o seja. Mas se este mesmo palestino atira contra uma multidão de civis, ele comete um ato de terror, e por isso é um terrorista. Minha definição é simples: um ato de violência política cometido contra alvos civis é terrorismo; ataques contra militares não é.’, esclarece.