Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Sem pé nem cabeça

Nunca vi coisa mais sem pé nem cabeça do que esse artigo. Suponho que o autor estava com dificuldade de pensar algum tema e resolveu escrever isso por falta de opção. A novela é contrária ao racismo, chega a ser até uma caricatura do politicamente correto: os negros são todos bons, decentes e competentes profissionalmente, enquanto todos os bandidos são brancos. É esse tipo de besteira que a gente tem que evitar na imprensa. Esses pregadores do ‘politicamente correto’ que mal sabem do que estão falando e atiram pra todo lado…

Eduardo Cesar Maia, empresário, Recife

Avaliação indevida

É inquestionável que o racismo é algo presente no cotidiano brasileiro e que, muitas vezes, passa despercebido em piadas sobre negros e comentários inconvenientes, como ‘Ah, tinha que ser preto mesmo!’ Porém, a matéria sobre a novela da Rede Globo, supostamente racista por ser intitulada Da cor do pecado, não foi devidamente avaliada. Não sou telespectadora de nenhuma dessas telenovelas e tão pouco aprecio tal tipo de entretenimento, mas acredito que o título da novela seja uma referência a uma música cantada por Gal Costa (não tenho muita certeza quanto à intérprete), na qual a pele mulata é tida como bela, portanto origem do desejo e, conseqüentemente, do ‘pecado’.

Quanto aos demais ‘racismos’ da novela, não seriam eles justamente uma representação do que de fato acontece em nossa sociedade e que estariam sendo abordados dessa forma justamente para instigar as pessoas a refletir e questionar essas injustiças? Afinal, seguindo um silogismo, se a mocinha é negra, a vilã é branca e racista, o título da novela é baseado numa música que elogia a cor negra, então, tem-se um produto anti-racismo.

Outro fato lamentável da matéria é tomar como exemplo de consciência do racismo no Brasil o projeto de lei que estabelecem ‘cotas’ para negros em programas de TV e comercias. É um disparate, e origem de muitos outros disparates (como diria o filósofo inglês David Hume), essa ‘doença’ de se estabelecerem cotas para tudo neste país multirracial e em qualquer outra parte do mundo. Esse tipo de coisa só gera mais racismo e delimita, inclusive, a convivência pacífica entre todas as raças, uma vez que há bares só para negros e só para brancos, faculdades só para negros e só para brancos. Me desculpem, mas não é com esse tipo de sectarismo que se cria uma sociedade mais justa para com todos os povos.

A partir do momento em que se divide um povo em ‘cores’ ou posição social criam-se grupos e, portanto, rivalidade e disputa pelo poder. Conseqüentemente, um grupo se sobressai e domina o outro. Politicamente falando, para que um Estado seja forte se faz necessário que haja união entre seu povo, e não divisão; socialmente falando, o que nossos ‘ilustres’ representantes e a sociedade em geral deveriam perceber é que antes do negro, do branco, do rico ou pobre existem seres humanos, e isso é o que deve ser garantido por lei e respeitado sob quaisquer condições. O que o Estado deve garantir é que essas divisões e/ou privilégios, concedidos a grupos, sejam extintos, e não promovê-los, como se isso diminuísse sua carga de responsabilidade entre as diferenças tão alarmantes no Brasil; e, retomando o fato de a matéria elogiar o tal deputado, é triste perceber que a imprensa brasileira ainda se deixa levar por esse tipo de ‘benevolência’.

Tenho 19 anos, sou estudante de Filosofia pela Universidade Federal do Paraná, negra, filha de pai descendente de italianos e espanhóis e mãe negra, enfim, brasileira.

Jaqueline dos Santos Silva, estudante, Curitiba

Muito radical

Acho que você está sendo muito radical ao comentar o assunto. Pode até ser que aconteça isso tudo, dependendo de como se olha, e isso vai de cada pessoa e de seu senso crítico, e por sinal o seu está muito aguçado. Você é negro?

Talita Brito, estudante, Carlos Chagas, MG

Justamente o inverso

Vou ser obrigado a defender os autores da novela das acusações de apologia ao racismo, de Paulo J. Rafael. Ela faz justamente o inverso. Conforme o próprio autor diz, a vilã da novela (Giovanna Antonelli), loira, alta, bem-sucedida, no enredo apresenta sérios desvios éticos e de conduta, refere-se à mocinha (Thaís Araújo), ética, trabalhadora, honesta, como ‘neguinha’. Uma clara demonstração de preconceito. Não está clara a propaganda antipreconceito na novela? A vilã, que apresenta desvios ético e de conduta é também racista e preconceituosa, oras! Quanto ao título A cor do pecado, creio que na vinheta de abertura as imagens do colo de uma bela morena e a música deixam bem claro a qual ‘pecado’ o título se refere. Acho que é ir longe demais do significado de tudo declarar que o título insinua que ser negro é pecado…

A questão do racismo e preconceito no país merece toda a atenção, certamente. Não só dos negros, que são maioria, mas também dos brancos que são os agentes de atos discriminatórios. Mas acredito também que se deva ter cuidado ao se apontar culpados, pois pode-se estar acusando alguém, ou alguma iniciativa, de racista ou preconceituoso, quando está, na realidade apenas tratando o tema de uma maneira real, e não ficcional, como o autor do artigo parece pretender.

Daniel Florêncio, diretor de vídeo, Belo Horizonte

Ministério do Não-Negro

Sou um pequeno empresário, cidadão e contribuinte, que gostaria de ter mais oportunidade de participar dos rumos deste país. E como tal me indigna tomar conhecimento de determinadas propostas governamentais que nos fazem sentir idiotas e impotentes. Sobre as propostas do Ministério da Igualdade Racial, que povo somos nós? Brasileiros natos, formados por uma mistura complexa de etnias, credos, origens, culturas e outras variáveis . Que povo somos nós? Detentores de uma das mais modernas leis constitucionais do mundo. Num primeiro momento, depois de muito blábláblá, institui-se um Ministério da Igualdade Racial, que nasce tão preconceituoso quanto o que lhe deu origem, pois deveria na verdade chamar-se Ministério da Raça Negra.

Em seguida, em delírios pseudo-sociais, propõe-se o estabelecimento de cotas para negros em universidades, estendendo-se agora a proposta a trabalhos culturais, funcionalismo público, rádio, TV e empresas em geral. Quem somos ou quem são os negros deste país? Raros de nós podem se dizer não-negros, e qual seria a palavra que nos designaria? Teremos um ministério no futuro? E os pobres? Teremos no futuro o Ministério do Não-Negro e do Não-Negro Pobre? Estaremos criando políticas e estratégias para cada setor desse país? Devemos assumir nossa multiplicidade cultural e racial.

Ricardo Newton, químico, Belo Horizonte

Libertem-se do complexo

Não assisto a telenovelas mas, pelo que diz a matéria, o que essa novela da Globo faz é chamar a atenção para esses acontecimentos. Se a moça é chamada de ‘neguinha’, e daí? Ela não é negra? Qual o problema? Talvez alguns negros não gostem de ser chamados de negros. Se o funcionário não é promovido apenas pela sua cor, então isso talvez receba um enfoque de injustiça, e mais uma vez chama a atenção para essa discriminação. Os negros e outras minorias devem antes de tudo libertar-se do complexo de inferioridade, e exigir que não passem a mão em suas cabeças.

Salomão Delgado de Siqueira Junior, funcionário público, Curitiba