O jornalista Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, de 51 anos, foi assassinado com nove tiros no centro de Ponta Porã, cidade de Mato Grosso do Sul que faz fronteira com o Paraguai. Ele foi baleado no domingo (12/02), por volta das 23h30m, na avenida que divide os dois países, quando retornava para a casa, depois de passar o dia na casa do ex-prefeito da cidade, Vagner Piantoni. Conhecido como Paulo Rocaro, o jornalista era editor-chefe do Jornal da Praça, um dos mais tradicionais da fronteira, e diretor do site Cone Sul News.
Segundo o delegado Clemir Vieira, que investiga o caso, Paulo Rocaro foi atingido por nove tiros de calibre 9 milímetros quando estava dirigindo o carro dele de volta para casa. Os tiros foram disparados por um rapaz que estava na garupa de uma moto sem placas. A moto emparelhou com o carro do jornalista e como o vidro do lado do passageiro estava aberto, ele não teve dificuldades em visualizar a vítima e fazer os disparos. Rocaro foi socorrido e morreu por volta das 4h20 desta segunda-feira.
O delegado Clemir Vieira disse que não há ainda nenhuma pista dos bandidos, que fugiram para o Paraguai. E também não há evidências sobre o motivo do crime, que teria sido encomendado. “Não se sabe ainda se os criminosos sabiam que a vítima estava na casa do ex-prefeito ou se ele (Paulo Rocaro) estava sendo seguido”, afirmou Clemir Vieira. Vieira disse que não se descarta nenhuma hipótese para o crime – vingança, problema trabalhista ou familiar e mesmo crime político. “Algumas pessoas trouxeram essas informações sobre a possibilidade de crime político, mas tudo está sendo investigado e não temos nenhuma pista ainda”, afirmou o delegado.
Países mais inseguros para o jornalismo
Vagner Piantoni, que é amigo de Rocaro há 25 anos, disse que não se sabe ainda o motivo do assassinato. Sobre a possibilidade de crime político ou pela atividade profissional desenvolvida por Paulo Rocaro, Piantoni disse que o jornalista sempre soube dividir bem a atividade profissional com a atividade política. Paulo Rocaro foi um dos fundadores do PT em Ponta Porã. Segundo a polícia, na noite do atentado que terminou na morte do jornalista, a mulher dele estava em outro carro logo à frente e ele, já atingido pelos tiros, ligou para ela e disse “me acertaram, me acertaram”. O corpo do jornalista será enterro na manhã desta terça-feira. Ninguém da família quis falar com a imprensa ontem.
De acordo com o Comitê de Proteção dos Jornalistas (CPJ), cinco jornalistas brasileiros foram mortos no ano passado. Em dois casos, foram confirmados vínculos entre a atividade jornalística e as mortes. Desde 1992, quando o CPJ começou um levantamento anual da segurança dos jornalistas em todo o mundo, 19 profissionais foram assassinados por causa de reportagens. Outros oito casos não tiveram motivação confirmada.
O Brasil é o 14º país mais inseguro do mundo para o jornalismo (empatado com a Bósnia e o Sri Lanka) e o terceiro na América Latina. Os mais violentos são Iraque, com 151 mortes no período, Filipinas, com 72, e Argélia, com 60. Em quinto lugar no ranking mundial, a Colômbia é o país latino-americano mais perigoso, registrando 43 mortes em 20 anos. Palco recente de violência contra os jornalistas, o México está em nono lugar, com 27 assassinatos.
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[Paulo Yafusso, do Globo.com]